Entenda o impacto do PIX e Open Banking e como os mercados de crédito, contas digitais e fintechs continuam em plena transformação em 2021
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10 min
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29 mar 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Tainá Freitas
No Brasil, as fintechs surgiram para resolver problemas, como tirar pessoas da rotina de ir ao banco para fazer um pagamento ou ter acesso prático e rápido a crédito. Não por acaso, esse é um dos segmentos de startups mais desenvolvidos do país. A cada ano, elas enfrentam novos desafios – e estão conseguindo a munição necessária.
Em 2020, elas tiveram o investimento recorde de US$ 1,9 bilhão, de acordo com relatório da Distrito. Mesmo no ano de estreia da pandemia, o valor foi 79% maior do que em 2019. Foi também no ano passado que grandes mudanças foram anunciadas no mercado financeiro: o PIX e o Open Banking. Essas iniciativas lançadas pelo Banco Central abrem margem para que muita inovação aconteça -- e, com mais de 800 fintechs, bancos digitais e investimento no setor, isso parece ser apenas questão de tempo. De acordo com a pesquisa Fintech Deep Dive da PWC, 73% das fintechs já estão desenvolvendo serviços para essas iniciativas.
O Open Banking é uma das iniciativas mais aguardadas no mercado financeiro nos últimos tempos. Lançada oficialmente em fevereiro de 2021, a medida garante que os verdadeiros donos dos dados financeiros são os próprios usuários. Portanto, cabe a eles decidir o que fazer e onde usar.
Se permitido, instituições financeiras poderão compartilhar informações dos usuários (como saldo, extrato, pontuação de crédito, entre outros) e até mesmo liberar que transações financeiras sejam realizadas fora dos aplicativos dos respectivos bancos. A iniciativa facilita o trabalho de fintechs como Guiabolso, por exemplo, que analisa as finanças dos usuários em suas diversas contas bancárias.
Para Carlos Netto, fundador e CEO da Matera, empresa de desenvolvimento de tecnologia para o mercado financeiro, o Open Banking viabiliza a verdadeira digitalização do serviço bancário.“Os bancos poderão ser orquestrados por software e se comunicar entre si dessa forma. Quando dois softwares conseguem se conectar, muda tudo”, explicou em entrevista à StartSe.
O PIX é o pagamento instantâneo que permite o envio de dinheiro entre pessoas e instituições em segundos através de chaves específicas (CPF, celular, e-mail, QR Code, entre outros). A transação leva 10 segundos, de forma gratuita -- o que já traz grandes diferenças em relação aos antigos TED e DOC. A disponibilidade também é um ponto alto: funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Mas novas modalidades já estão sendo trabalhadas, como o PIX Garantido e o PIX Cobrança. No Garantido, os usuários vão poder realizar transações parceladas (alô, cartão de crédito!) e no Cobrança, os pagamentos terão data de validade e juros caso não sejam realizados (oi, boleto bancário). Essas iniciativas ainda estão em desenvolvimento pelo Banco Central.
Com isso, as fintechs do tipo “conta digital” podem oferecer transferências sem custo entre pessoas físicas, o que traz ainda mais concorrência. O que antes era um diferencial para poucos, agora se tornou regra e é válida para todo o Brasil.
Em 2020, 21% das fintechs brasileiras desenvolveram soluções no setor de crédito, financiamentos e negociação de dívidas. Assim como nas contas bancárias, agora é possível pedir por um empréstimo e realizar a gestão dele em poucos minutos, totalmente online.
Para pessoas físicas, as empresas Creditas (que se tornou um unicórnio em 2020) e Geru são nomes fortes. A iniciativa também está disponível para pessoas jurídicas, embora as startups contem com investimentos de capital de risco, investidores anjos, entre outros.
“Há casos em que as empresas não querem ceder ações, querem suporte mais simples, rápido, sem ‘roubar o pedaço da pizza’”, conta André Wetter, fundador da a55, fintech de empréstimo para empresas.
A a55 é uma das companhias que será beneficiadas pelo Open Banking, pois poderá ter mais facilmente os dados do cliente para calcular o risco. “O rating é um dos grandes problemas para crédito em pessoas jurídicas hoje. Falta documentações, histórico da empresa. Nós nos baseamos no número de assinantes, base de clientes, extrato bancário, entre outros”, explica Wetter.
4. TODO MUNDO QUER TER UM CARTÃO DE CRÉDITO
O crédito comum, dos cartões, também está sofrendo uma grande transformação. Em 2013, quando o Nubank lançou o seu cartão de crédito, o grande diferencial era a gestão 100% online e a isenção de anuidade. Atualmente, muitos concorrentes já oferecem o mesmo, sejam fintechs ou grandes bancos.
Mais do que isso: agora, é cada vez mais comum que empresas forneçam seus próprios cartões de crédito. A Rappi, XP, Méliuz, Apple (nos Estados Unidos), Porto Seguro, Samsung e Uber são apenas alguns dos exemplos.
“Todo mundo quer ter seu cartão de crédito porque ganha com o intercâmbio da bandeira, que é cerca de 1% da receita da transação. Se não pagar a fatura, é o banco que administra que levará o risco, já quem ofereceu o cartão, não perde nunca”, explica Carlos Netto, fundador da Matera.
O cartão da Samsung, por exemplo, é um Itaucard com bandeira Visa. Na prática, também auxilia a fidelizar clientes que usam os produtos da gigante sul-coreana, pois permite o parcelamento de até 21 vezes sem juros na loja online. Um caso semelhante acontece com a Uber, em que os motoristas que utilizarem o cartão oferecido pela companhia recebem o pagamento das corridas mais rapidamente e têm acesso a benefícios exclusivos.
A Americanas criou a carteira digital AME. O Mercado Livre criou o Mercado Pago. O Magalu criou o Magalu Pay. Nada disso é coincidência. Para essas gigantes do varejo, criar um negócio financeiro – praticamente uma fintech – dentro da própria operação é muito vantajoso.
“Essas empresas já têm transações e geram negócios. Entretanto, [a empresa] da maquininha ganha em cada transação realizada. Mas, se não tivesse a venda, não teria o negócio. Agora, as companhias passam a economizar também com as taxas das transações”, explica Netto, especialista em serviços financeiros.
As companhias acumulam milhares de clientes em seus negócios originais. É mais fácil, portanto, migrar e passar a utilizar os serviços financeiros – nos casos aqui citados, suas carteiras digitais. Além da confiança já existente, os varejistas podem oferecer benefícios a quem utiliza também os serviços de sua fintech.
“Com o potencial de criar um novo horizonte de tecnologia e serviços financeiros em cada segmento da economia, nós acreditamos que todo fundador deve tentar entender como ficar à frente dessa transformação e entender seus papéis essenciais nessa próxima grande transformação de plataformas”, escreve Matthew Harris, sócio da Bain Capital Ventures, em um artigo sobre embedded finance (como também é chamada a tendência).
Enquanto as carteiras digitais trazem mais benefícios e agilidade aos pagamentos, as contas digitais centralizam os serviços financeiros para pessoas físicas e jurídicas. Hoje, concorrem neste espaço as que oferecem baixas (ou nenhuma) taxas de manutenção de conta, gestão online, rendimento maior que a poupança, entre outros.
As fintechs, como o Nubank e o Neon, concorrem diretamente com bancos digitais, como o C6 Bank, Banco Inter, Original, Agibank, Next, e as versões digitais dos tradicionais, como o Itaú, Bradesco, Santander, BTG Pactual, etc.
Hoje, esses serviços estão se tornando cada vez mais completos. Esses bancos passaram a oferecer seguro de vida (a exemplo do Nubank), cartões de débito internacionais (como o Neon), investimentos, empréstimos... O que era apenas uma conta digital está se tornando um portfólio de serviços.
Enquanto esse segmento está cada vez mais estabelecido para pessoas físicas, em soluções específicas para pessoas jurídicas, ainda está engatinhando. “Algumas instituições financeiras adaptam os serviços de pessoa física para jurídica, mas são demandas e usabilidade muito diferentes”, comenta Igor Senra, fundador da Cora, fintech de conta digital para pequenas e médias empresas.
“Quando uma PME abre o aplicativo, ele não quer ver o extrato. Ele quer entender as cobranças que tem, se há alguma em atraso, a projeção do que espera receber nos próximos dias. A conta maluca que antes acontecia de cabeça, agora pode ter mais ciência”, explica Senra em entrevista à StartSe. Atualmente, a fintech criada em 2019 conta com 50 mil clientes.
Entre as particularidades das pequenas e médias empresas, estão a automação de cobrança, dashboard com dados e relatórios, entre outros. A conta digital deve tornar a tomada de decisão mais simples, para que a companhia possa focar no trabalho que realmente se propôs a fazer.
O CAMINHO DAS FINTECHS
Embora seja difícil estabelecer um período específico, em algum momento dos últimos 10 anos, foi possível estabelecer um “antes e depois” das fintechs. Os serviços e instituições financeiras se tornaram mais amigáveis, seja na usabilidade ou no atendimento ao cliente; as possibilidades de soluções crescem a cada dia; e os investimentos são cada vez maiores. O terreno é fértil – e a expectativa é que isso tudo não pare por aqui.
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, jornalista da StartSe
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Apresenta o podcast Agora em 10 na StartSe e também atua na área de Comunidades na empresa. É especialista em inovação, tecnologia e negócios.
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