Modelo apresenta muitas vantagens, mas custos estão mais altos e liberdade para trocar de serviços é limitada.
Imagem: reprodução Startups
, conteúdo exclusivo
8 min
•
14 mar 2024
•
Atualizado: 14 mar 2024
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!
A cobertura do SXSW tem apoio da Môre
Em outubro de 2022, David Heinemeier, fundador e CTO da 37Signals (dona do Basecamp, que deu origem à linguagem de programação Ruby on Rails), fez um anúncio, de certa forma, chocante: a companhia deixaria de consumir serviços na nuvem. Isso mesmo.
A decisão foi tomada por conta do tamanho da conta com essa infraestrutura: US$ 3,2 milhões só em 2022, a segunda maior despesa da operação depois da folha de pagamento.
“A gente realmente tentou fazer a nuvem funcionar de acordo com o que o mercado pregava: que a nuvem seria mais rápida, mais barata e mais fácil. E depois de pelo menos 10 anos tentando fazer essas coisas aconteceram, nós nunca fizemos mais fácil e definitivamente não ficou mais barato. A única coisa que conseguimos é que foi mais rápido. Se precisássemos de 100 servidores – o que você nunca vai precisar, mas se você precisar, nada é melhor do que a nuvem”, contou.
Segundo ele, por algum momento, ele achou que sua equipe não era boa o suficiente, e que o problema era deles por não conseguirem tirar todos os resultados maravilhosos prometidos. Tudo foi tentado. Mas as contas só aumentavam. Até o momento em que ele pegou uma conta de dezenas de milhares de dólares e se perguntou: quanto hardware será que eu poderia comprar com esse dinheiro?
Nas contas de David, seria possível economizar US$ 7 milhões ao longo de 5 anos comprando equipamentos, ao invés de alugar serviços. A saída da nuvem foi finalizada em 2023 sem nenhum problema ou dificuldade com uma previsão de gasto de US$ 600 mil com a compra de equipamento. “Por ser dono do negócio isso significa que o dinheiro é meu. E eu prefiro ficar com ele do que entregar para a AWS”, brincou. Para o desenvolvedor, a nuvem se tornou um sinônimo de tudo que está errado na internet ao promover a centralização da rede, o que vai na direção contrária do que ela foi criada para ser. “Eu comecei na internet em 2005 e o mais maravilhoso era que você podia colocar um negócio no ar sem pedir autorização para ninguém. E nós perdemos muito disso”, desabafou.
Matthew Prince fundador da CloudFlare, brincou que estava arrependido de ter escolhido a palavra cloud para o nome da companhia depois da argumentação apaixonada de David. Para ele, existe um lugar certo para os serviços em nuvem, mas onde as coisas desandaram é no fato de que o mercado não ganha tanto assim da escala que os provedores ganharam. Ele citou a Amazon, que tem um negócio de varejo que tem péssimas margens e perde dinheiro, mas que ganha dinheiro com serviços que nasceram depois dele, como a nuvem da AWS e a publicidade. “O desafio é que eles estão, basicamente, usando sua conta de nuvem para subsidiar o que, de outra forma, é um negócio muito ruim”, cravou.
Ele citou como exemplo o custo de conexão à internet que a Amazon cobra de seus clientes. O preço, de acordo com Matthew, não variou na última década, enquanto o valor cobrado pelas empresas de telecomunicações é hoje um milésimo do que costumava ser. “A vantagem da nuvem é que essas vantagens deveriam ser repassadas para você. Mas não é o que está acontecendo”, disse.
Para Matthew e David é preciso mudar a mentalidade – consolidada pelos provedores de nuvem ao longo dos últimos anos, muitas vezes baseando-se em referências de poder computacional de décadas atrás – de que a resposta para tudo é sempre nuvem, nuvem, nuvem. A avaliação deve ser feita para cada tarefa que se quer executar. “A nuvem é ótima quando você quer testar as coisas, quando você tem um tráfego que cresce muito rápido e depois cai. Mas se você tem uma carga de trabalho bem previsível, fazer a sua própria hospedagem faz mais sentido e pode ser mais viável economicamente.
Ele comparou a nuvem a lojas de conveniência como o 7Eleven, onde você paga mais caro exatamente por ser mais conveniente. “Com o tempo, se você sabe que tem que comprar papel higiênico, você não quer comprar no 7Eleven. Você vai em um lugar onde você consegue um valor melhor”, disparou.
Matthew acrescenta que este é um assunto que precisa ser mais discutido já que está mais caro construir negócios e a lucratividade se tornou um aspecto mais relevante.
David e Matthew compararam os serviços da AWS e do Google a Hotel California, o lugar onde você pode entrar a qualquer momento, mas nunca pode sair.
David lembrou do pedido que fez ao Google para tirar dados da nuvem de Mountain View quando o serviço apresentou intermitência por uma semana e da conta que recebeu para isso ser feito: entre US$ 300 mil e US$ 400 mil dólares. “Acabamos não pagando esse valor porque, basicamente, a gente ameaçou que íamos gritar o mais alto possível que isso era ridículo”, contou.
Para os fundadores, é preciso promover mais competividade no mercado ao permitir que a migração entre um provedor ou outro seja mais simples. Isso fará com que a competição passe a ser por funcionalidades, e não pelo pacote como um todo.
Gostou deste conteúdo? Deixa que a gente te avisa quando surgirem assuntos relacionados!
Assuntos relacionados
, conteúdo exclusivo
O mais conceituado portal sobre startups do Brasil. Veja mais em www.startups.com.br.
Leia o próximo artigo
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!