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A inovação morreu? A distopia falaciosa dos unicórnios

Caos. Desespero. Gritaria. Será que é só essa a realidade das startups brasileiras – especialmente dos unicórnios? Entenda.

A inovação morreu? A distopia falaciosa dos unicórnios

a-inovacao-morreu-distopia-falaciosa-dos-unicornios. (Foto: GettyImages).

, Head de Conteúdo na Captable

8 min

12 jul 2022

Atualizado: 19 mai 2023

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Por Victor Marques, da Captable Brasil.

Caos. Desespero. Gritaria. Demissões. Essa é a sensação de qualquer um que acompanha notícias sobre startups. Até o Jornal Nacional resolveu abordar o assunto. Basta uma pesquisa no Google para encontrar centenas de matérias falando sobre a mesma coisa, cada um com a sua abordagem. Por que? Desespero rende.

Claro, é inegável que há um impacto econômico sobre startups de estágio avançado – como os unicórnios. Mas, sendo realista, há algum setor econômico que não esteja em algum tipo de crise? Instabilidade econômica, eleições, guerra na Ucrânia. Nem as startups estão imunes ao humor do mercado. Ou pelo menos os unicórnios não estão.

Tudo indica que quem decide investir em seed e early-stage, os estágios mais iniciais de uma startup, está multiplicando suas apostas: os dois estágios viram um aumento de 86% e 14%, respectivamente, em aportes no primeiro semestre de 2022, comparado aos primeiros seis meses de 2021.

Para se ter ideia da representatividade desses investimentos, US$ 282 milhões foram investidos em rodadas seed no período. Ou seja, foram o equivalente ao valor de mercado de 282 unicórnios investidos em startups que ainda nem chegam perto do tamanho de um. No mesmo período de 2021, as chamadas rodadas do tipo seed (anjo, pré-seed, seed) somaram US$ 151 milhões.

NEM TUDO É TEMPESTADE

Mas e as demissões? Então, se observarmos o número de vagas criadas por startups nos últimos anos, podemos ver que a soma das demissões não chega a 10% dos empregos criados. Que empresa nunca contratou demais, teve algum período ruim e precisou retrair suas apostas?

Imagine: época de pandemia, founders de negócios tecnológicos vendo a demanda por suas soluções crescer astronomicamente, com a demanda, os cheques de investimentos cresceram na mesma proporção – todo investidor queria um pedaço do bolo dessa festa. Para participar, valia pagar qualquer preço. Resultado? Valuations acima da realidade. Agora? Volta aos patamares normais. A velha lei da oferta e demanda.

Na onda do crescimento da demanda e do interesse de investidores, logicamente as startups passaram a contratar mais. Muito mais. Quem nunca viu uma loja de praia que contrata profissionais extras no período de verão? A lógica aqui é a mesma: se contratou baseado na demanda e volume de capital disponível, depois, a nova realidade bateu à porta.

O tempo de ajustes também pode estar próximo do fim, unicórnios estão se movimentando e voltando a receber investimentos e realizar aquisições estratégicas. É o caso da Creditas, por exemplo, que recebeu uma extensão de rodada de US$ 50 milhões, comprou licença bancária do Andbank e adquiriu a Kzas. O plano é tornar a Creditas lucrativa até o final de 2023. Sabe quem ganhará mais com isso? Os investidores que aportaram antes da lucratividade e agora se beneficiarão da pressão do mercado por lucro.

MERCADO BRASILEIRO SEGUE EM ALTA

Não é por acaso que o mercado brasileiro é um dos queridinhos dos investidores de Venture Capital internacionais. O tamanho do mercado, a digitalização da população e os inúmeros problemas a serem resolvidos criam uma tríade perfeita para a disrupção das startups. A corretora americana Avenue, por exemplo, que é focada em dar oportunidade para que brasileiros invistam no exterior, já soma 229 mil clientes ativos e R$ 6,4 bilhões sob custódia. Foi olhando para o mercado brasileiro que a corretora garantiu uma aquisição parcial feita pelo Itaú.

O gigante brasileiro adquiriu 35% da Avenue por quase R$ 500 milhões. Com mais 15,1% que serão comprados em dois anos, tornando o Itaú controlador da corretora americana.

Outra startup que anunciou aquisição em julho foi a Hotmart, unicórnio brasileiro que fornece ferramentas para criadores de conteúdos educacionais, que adquiriu a eNotas, fintech que trabalha com a emissão de notas fiscais eletrônicas. Outro caso foi a compra da ToUp, startup de desenvolvimento de softwares, pela Woof, um marketplace de petshops e produtos para animais de estimação.

POR QUE IMPORTA?

Independente da indústria e do segmento, negócios invariavelmente atravessarão períodos de dificuldade. O choque das startups foi causado justamente por ter havido um período de extrema bonança – em 2021 – e, logo depois, um período de correção. Em comparação, ficou parecendo um abismo, mas, na realidade, não passa de um quebra-molas.

No caminho, ficarão aqueles negócios que não sabem se adaptar, mas startups são, em sua grande maioria, exemplos de negócios resilientes, acostumados a viver com pouco capital – especialmente nos estágios iniciais. Talvez por isso os unicórnios, com estruturas inchadas demais, sejam os que estão sentindo os efeitos da situação econômica.

Use-se a perspectiva que for, uma coisa é certa: ainda há muita oportunidade nas startups brasileiras, os investidores de Venture Capital sabem disso. E o momento é de aproveitar: prova disso são os investimentos recorde naquelas startups que estão começando a galgar seu caminho para se tornar unicórnio, ou camelo. O que o zoológico do mercado pedir.

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Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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