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“Trate a diversidade com relevância, não como marketing"

Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, explica o que é preciso para mudar o cenário da participação feminina no mercado de trabalho (que é a menor em 30 anos!)

“Trate a diversidade com relevância, não como marketing"

Ana Fontes - Movimento Mulheres do Agora

, jornalista da StartSe

8 min

12 ago 2021

Atualizado: 19 mai 2023

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Movimento Mulheres do Agora

Por Tainá Freitas

De acordo com um levantamento do IPEA, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a participação das mulheres no mercado de trabalho em 2020 foi a menor em 30 anos. Embora a pandemia tenha tido um grande efeito neste resultado, não dá para negar: o Brasil retrocedeu.

Felizmente, hoje o mercado de trabalho, empresas, ONGs e a sociedade em geral estão mais atentos a este cenário. Existem iniciativas que buscam incluir mais mulheres em empresas, incentivar o empreendedorismo e a liderança feminina – e a Rede Mulher Empreendedora é uma delas.

Fundada em 2010 por Ana Lúcia Fontes, a Rede Mulher Empreendedora é uma plataforma de fomento ao empreendedorismo feminino do Brasil. O objetivo é que as mulheres possam se empoderar economicamente. Em 2017, a RME criou o Instituto Rede Mulher Empreendedora, focado especialmente em mulheres em situação de vulnerabilidade.

Embora o RME tenha uma grande abrangência (atualmente, são um milhão de mulheres impactadas pelo projeto), a criadora acredita que um dos papéis das instituições é de incentivar a atuação de políticas públicas.

“A pandemia trouxe uma falta de equilíbrio maior, pois as mulheres foram as mais afetadas (inclusive com o crescimento da violência doméstica). Mas essa desigualdade já existia. Como a gente muda esse cenário? O trabalho na Rede e em outras organizações é fundamental, mas só chegamos a nível Brasil através de políticas públicas”, afirma Ana Fontes em entrevista à StartSe. Ela é uma das mulheres inspiradoras do Movimento Mulheres do Agora, escolhida por seu trabalho no incentivo da capacitação feminina no empreendedorismo.

Os últimos dois anos foram agridoces para Ana. Enquanto o cenário para as mulheres piorava no Brasil – principalmente para quem já estava em uma situação vulnerável –, felizmente, o trabalho da RME para mudar esse cenário ganhava impulso. 

Em 2020, a Rede Mulher Empreendedora e o Instituto homônimo captaram cerca de R$ 40 milhões para investimento em projetos específicos. Com o Bradesco, Itaú e Santander, o Instituto trouxe renda para mais de 5 mil costureiras, em 20 estados, através do projeto Heróis Usam Máscaras. Já em parceria com o Google, o instituto passou a oferecer mentorias.

“Estão sendo anos complexos, profissionalmente e pessoalmente. Vivemos um momento triste, não só pela pandemia, mas pela falta de valorização da diversidade em termos de políticas públicas. Apesar do sucesso dos negócios, a falta de perspectiva do país não tem como não contaminar o pensamento. Mas a resposta é fazer as coisas acontecerem, buscando outras perspectivas, novos negócios e planos para o agora e futuro”, incentiva Fontes.

O PAPEL DAS EMPRESAS

Rede Mulher Empreendedora (foto: Divulgação)

Mas além do Estado, as empresas também podem colaborar – e muito – com a mudança. Ela deu a dica: “Trate o assunto de diversidade com relevância, não como marketing, publicidade. É uma jornada e as transformações não acontecem de um dia para o outro”.

A recomendação é que as companhias tenham um programa de seleção inclusivo, com diversidade de raça, gênero. A diversidade deve existir em todas as etapas, inclusive na de decisão final sobre a contratação.

QUEM É ANA FONTES?

Ana Lúcia Fontes é uma mulher inspiradora. Hoje, ela trabalha para que mulheres de todo o Brasil possam ter independência financeira e se desenvolverem profissionalmente – e isso vem acontecendo há 10 anos.

Tudo começou quando ela se inscreveu em um programa de empreendedorismo feminino na Fundação Getúlio Vargas. “No primeiro dia de aula, vi que eram outras 35 mulheres selecionadas. Foi um processo seletivo difícil, com mais de mil inscritas. Fiquei feliz, mas pensei o que aconteceria com aquelas que não conseguiram”, conta a fundadora da Rede Mulher Empreendedora.

Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora (foto: divulgação)

Na segunda semana do curso, as 35 mulheres viraram amigas e veio a ideia de democratizar esse aprendizado. Ana convidou as outras mulheres para escrever sobre o que elas estavam aprendendo: fluxo de caixa, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), entre outros. 12 meses depois, eram mais de 100 mil mulheres acompanhando o RME.

Mas é claro que, como uma empreendedora nata, esse não foi o primeiro projeto de Ana. Antes de fundar o RME, a publicitária era dona de um co-working chamado My Jobs Space. Em um momento, quando o RME e o My Jobs Space existiam em paralelo, alguns dos encontros eram realizados naquele espaço.

Com o tempo, chegou a hora da decisão sobre qual caminho seguir, até que Ana entendeu que o trabalho no co-working era operacional demais para ela. “Na época, eu pensava: ‘eu preciso transformar isso [a plataforma] em um negócio. Isso não aconteceu de forma estruturada, com metas estabelecidas de participantes e funcionários. As coisas foram acontecendo – hoje sim, temos mais de mil voluntários e 30 funcionários diretos”, conta.

Antes do co-working, o foco era a plataforma “Elogie Aqui”, de recomendações positivas. O empreendimento, que tinha outros sócios, acabou não dando certo. Foi após essa experiência que Ana se inscreveu no curso da FGV, que deu o pontapé inicial para todo o resto acontecer…

MUDANÇAS E OPORTUNIDADES

Só que, antes mesmo de empreender, Ana Fontes teve experiências no mercado de trabalho. Ela conta que, há 14 anos, o mercado de trabalho era ainda menos inclusivo. “Eu era lembrada o tempo todo que não tinha estudado em uma universidade ‘top de linha’. Eu também não falava inglês, não vinha de escola particular, e sentia que eu tinha que enfrentar mais, me provar mais”, explica.

O ingresso oficial de Ana no mercado de trabalho, com carteira assinada, foi quando ela tinha 14 anos. Foram muitas ocupações diferentes: do chão de fábrica à loja de brinquedos. O início precoce aconteceu para que ajudasse no sustento de casa, que dividia com os pais e os oito irmãos. Hoje, ela movimenta e incentiva milhares de mulheres para que elas possam ter mais oportunidades do que ela teve na época.

Reunimos as principais personalidades femininas que estão conduzindo transformações e gerando impacto real na sociedade para convocar, inspirar, capacitar e apoiar outras mulheres. Tudo isso em um evento com transmissão ao vivo exclusiva para inscritas, no dia 26 de agosto, a partir das 17 horas.

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Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Apresenta o podcast Agora em 10 na StartSe e também atua na área de Comunidades na empresa. É especialista em inovação, tecnologia e negócios.

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