Conheça algumas agtechs que, da porteira para dentro ou para fora, são responsáveis por mudanças que devem ampliar a já consolidada presença brasileira na produção global de alimentos
Agricultor em plantação com tablet (foto: Getty)
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!
As agtechs brasileiras – como são conhecidas as startups do agronegócio – já arrecadaram US$ 58 milhões em 2021, distribuídos em 24 rodadas de captação, segundo dados até outubro compilados pelo Distrito. O número ainda é baixo para o setor mais relevante para a economia brasileira, responsável por mais de um quarto do PIB de 2020. A captação de uma rodada de apenas uma fintech supera esse bolo facilmente. Mas o montante acumulado até agora aponta para um ano mais animado do que o anteiro, quando US$ 70 milhões foram captados. E isso acirra, obviamente, a disputa pelo título de primeiro unicórnio do agro brasileiro.
O país tem atualmente 1.574 startups atuando no agronegócio, segundo o Radar Agtech Brasil 2020/2021, elaborado em parceria entre Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, com apoio do Ministério da Agricultura. Em 2020, o número de agtechs ativas foi 40% maior em comparação com 2019.
Gargalos de produção e o baixo valor agregado das cadeias produtivas do agronegócio nacional são apenas alguns dos desafios que essas companhias têm buscado resolver. “Aquele conceito de que o Brasil é um país de commodities e com baixo valor agregado, agora tem mudado com as agtechs, que dão um upgrade em um setor que é o principal motor dA economia do país”, avalia Gustavo Araújo, fundador e presidente do Distrito.
As oportunidades são muitas e pulverizadas. Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, avalia que o ecossistema de inovação no agronegócio deve ser impulsionado pelas fintechs especializadas no setor, pelas startups de biotecnologia e pelos marketplaces.
“Tem algumas tendências que vão criar novos mercados e novas receitas para as agtechs brasileiras, como a transformação digital financeira e das exportações de toda a cadeia. Além da criação de uma bioeconomia, e do surgimento do mercado de carbono, que vai ser um mercado de centenas de bilhões. Tem muito valor novo sendo criado e migrado para essas novas empresas”, comenta Jardim.
Em live do Startups no fim de julho, Júlia Mariné, que comanda os projetos de inovação da consultoria Innoscience, destacou que o mercado está próximo de ter seu 1º unicórnio diante do cenário e digitalização dos pequenos produtores, o que faz com que a demanda por tecnologia não fique restrita apenas aos grandes grupos.
Na corrida por inovação e crescimento, algumas startups já despontam no ecossistema. O Startups conversou com especialistas para listar algumas agtechs que, da porteira para dentro ou para fora, são responsáveis por mudanças que devem ampliar a já consolidada presença brasileira na produção global de alimentos.
Mais softwares e menos hardwares. Essa é a visão que guia o trabalho das Solinftec, uma das agtechs favoritas ao posto de primeiro unicórnio do agronegócio nacional. A companhia fundada em Araçatuba (SP) por um grupo de pesquisadores cubanos oferece uma suíte com soluções em quatro pilares: monitoramento e operações em tempo real, logística e automação de processos, traçabilidade dentro da porteira e gerenciamento do campo.
“Em 2007, fundamos a Solinftec com todos os trancos e barrancos de quando se inicia um empreendimento, mas rapidamente a companhia cresceu e isso tem muito a ver com a nossa visão que sempre foi dos processos, e não das máquinas”, explica Anselmo Arce, sócio-fundador da Solinftec.
Com 650 funcionários, a empresa possui escritórios também na Colômbia, nos EUA, na China e no Canadá. Já as soluções são distribuídas para 11 países, com nove milhões de hectares monitorados no mundo e expectativa de encerrar 2021 com receita de R$ 200 milhões.
Segundo Arce, o crescimento da Solinftec é resultado das soluções criadas para atender aos produtores, como o monitoramento em tempo real em áreas sem telefonia e conexão à internet. “Sempre entregamos o que prometemos. E quando você chega nesse ponto de credibilidade, pode ser um pouco mais disruptivo. Hoje temos soluções em desenvolvimento com alto potencial disruptivo, que vão ser lançadas em 2022”, conta.
Em rodada de série A liderada pela TGP Art, a empresa captou cerca de US$ 20 milhões em 2016. Já em 2019, foi a vez da UnBox Capital, da família Trajano, liderar a arrecadação de US$ 40 milhões. A Solinftec ofertou ainda dois CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas), que captaram mais de US$ 40 milhões entre 2018 e 2020.
Se quem tem olho em terra de cego é rei, quem possui dados na era da agricultura de informação ganha agilidade, precisão e análises de riscos mais assertivas. Este é o trabalho da Agrotools, plataforma SaaS (Software as a Service) que há quase 15 anos oferece soluções para diferentes elos da cadeia do agro: de cooperativas, traders e resseguradoras ao varejo alimentício.
“Somos uma lente tradutora do agronegócio”, explica Lucas Tuffi, sócio e diretor comercial da Agrotools. Essa lente auxilia instituições financeiras em concessões de crédito e de seguros, traz maior precisão ao monitoramento de riscos, além de ser instrumento para soluções voltadas ao compliance ambiental e à rastreabilidade das cadeias de suprimentos.
Em números, a Agrotools emprega cerca de 150 pessoas que atendem a mais de 200 clientes, tem presença em seis países (Brasil, Paraguai, Argentina, Austrália, Bolívia e Canadá) e é responsável por monitorar mais de 250 milhões de hectares. A receita recorrente da agtech é de R$ 100 milhões, destes 30% derivados da exportação de tecnologia para outros países.
A primeira rodada de captação de recursos da Agrotools aconteceu em 2020, sob liderança da firma de venture capital KPTL e por valor não revelado. Seguida por uma segunda captação, em 2021, com um grupo restrito de novos acionistas. A transação também não teve seu valor divulgado.
A fintech do agro Traive utiliza tecnologia para expandir a oferta de crédito aos pequenos e médios produtores rurais brasileiros. Para isso, realiza análise de risco e monitoramento dinâmico para o mercado de crédito, atua na geração e negociação de recebíveis, além de realizar o processamento de garantias de forma 100% digital.
Entre as soluções oferecidas está o modelo de Scorecard, criado pela Traive. Nele, cinco diferentes tipos de score de crédito são informados para ajudar na avaliação de riscos da concessão de recursos aos produtores.
Neste mês, a Traive anunciou a captação de quase US$ 17 milhões em uma rodada série A coliderada por SP Ventures e Astella. Entre os investidores na agtech estão os braços de venture capital da Minerva, Syngenta Group, Serasa Experian e CSN.
Em 2020, a agfintech recebeu um aporte de aproximadamente US$ 2,5 milhões liderado também pela SP Ventures. O investimento foi acompanhado pelas gestoras americanas Bread & Butter Ventures e Techstars.
Em setembro deste ano, o Grupo Siagri e a Datacoper, empresas desenvolvedoras de software para o agronegócio, anunciaram a fusão de suas operações sob a marca Aliare. A transação contou com investimento do fundo de impacto do BTG (por valor não revelado) e deve resultar em um crescimento de 30% na receita bruta no próximo ano.
Na relação de startups incubadas pela Aliare estão a Plantar, edtech que oferece uma plataforma SaaS para educação corporativa; a Implanta, startup especializada em inteligência de dados; a MyFarm, startup software focada em gestão e digitalização para produtores de grãos; a Assinei, plataforma voltada para a gestão digital de documentos; e o AgriQ, startup que atua na emissão de receituários agronômicos para defensivos agrícolas
Segundo estimativas da Aliare, 41% das cooperativas brasileiras e 30% das distribuidoras agrícolas utilizam suas soluções. A empresa possui ainda 30% de market share na distribuição de insumos agrícolas, 52 mil clientes e 1,7 milhão de hectares monitorados.
Gostou deste conteúdo? Deixa que a gente te avisa quando surgirem assuntos relacionados!
Assuntos relacionados
Leia o próximo artigo
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!