M&As são cada vez mais frequentes no Brasil. Entenda o que essas transações significam para quem empreende ou investe e por que as empresas realizam aquisições.
b2w-magalu-locaweb-meliuz-aquisicoes-em-alta
, Head de Conteúdo na Captable
8 min
•
5 mai 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!
Por Victor Marques
As aquisições eram historicamente mais comuns dentro de empresas tradicionais, que buscavam as aquisições como forma de trazer inovação para seu negócio. Mas, recentemente, o mercado vem aquecendo com aquisições feitas por empresas menores, até mesmo startups e empresas recém saídas de um IPO - abertura de capital na Bolsa de Valores.
Além disso, mesmo no momento de organização de um IPO, muitas startups já declaram querer utilizar o valor levantado na operação para realizar aquisições estratégicas. Outras, começam a realizar M&As logo após uma rodada nova de investimento, quando estão capitalizadas.
Aquisições por empresas tradicionais
Essa primeira categoria de empresas compradoras é a mais tradicional. Apesar disso, a velocidade, quantidade e valor das aquisições vem crescendo. O objetivo dessas empresas é manter-se relevante em meio à concorrência, especialmente a oferecida pelas startups, que trazem inovação em seu DNA. O maior exemplo de empresa que faz aquisições massivas é a Magalu, nesse artigo você confere tudo que a empresa adquiriu desde 2020. Mas existem outras: B2W, Ame, Soma e Hotmart.
Uma tendência que vem se solidificando é a aquisição estratégica de outras startups após fazer um IPO. É um resultado lógico, após o IPO, a empresa está capitalizada e precisa buscar alternativas para crescer e agradar os novos acionistas. O modo mais rápido de aumentar o mercado, fortalecer a concorrência e adquirir talentos é através de fusões ou aquisições. Como cases desta categoria, destacam-se: Méliuz e Locaweb. A tendência deve continuar crescendo: o PicPay, por exemplo, já declarou quando protocolou seu IPO que deseja utilizar o valor arrecadado para realizar aquisições.
Uma outra maneira de se capitalizar, antes da abertura de capital, são as rodadas de investimento. Manter o capital fechado por mais tempo não é mais negativo, há bastante capital disponível para financiar o crescimento de uma startup. Nessa categoria, Nubank, Vórtx e BTG Pactual já realizaram M&As. Geru e Rebel seguiram um caminho diferente: realizaram uma fusão e, após, atraíram um aporte.
Chama atenção o fato que, independente do estágio em que estão no momento da aquisição, muitas startups estão começando a adquirir outras startups. Nubank, Méliuz, Locaweb e Vórtx são exemplos de empresas que ainda são startups, ou eram startups até pouco tempo atrás. O movimento é relevante porque mostra que mesmo que já tenham nascido digitais, essas startups veem valor em realizar aquisições que auxiliem no seu crescimento.
O interesse de startups - e de empresas tradicionais - em adquirir outras startups dá força ao ecossistema brasileiro de startups, incentivando: empreendedores a tirar suas ideias do papel, investidores a financiar o crescimento de uma startup em estágios iniciais e trazendo visibilidade para soluções inovadoras.
Mas qual o motivo que leva uma empresa a adquirir outra? Não seria mais fácil desenvolver um produto próprio? A resposta é que nem sempre isso é verdade. Construir um produto do zero pode levar tempo e consumir mais recursos que uma aquisição. Levar tempo pode fazer com que seus concorrentes ganhem vantagem competitiva e deixem a empresa para trás.
Abaixo você confere os principais motivos que impulsionam os M&As. A combinação dos motivos é o que gera vantagens compostas na aquisição e fusão de empresas, portanto não é comum que apenas um dos motivos faça uma aquisição se concretizar.
Gestores, desenvolvedores, especialistas de marketing… todos esses profissionais integram um time que traz sucesso para uma startup. Mas, algumas vezes, a combinação desses profissionais também atrai compradores. Em uma prática conhecida como acquihire, muitas empresas optam por comprar empresas que possuam um time experiente e que já demonstrou, na prática, que sabe alcançar o sucesso em seu mercado. Aquisições que exclusivamente envolvem esse quesito são raras, mas frequentemente é um fator considerado em uma aquisição.
Um exemplo clássico que envolveu acquihire foi a aquisição da Beats pela Apple, apesar do interesse nos produtos de áudio e plataforma de streaming da Beats, que hoje integram o portfólio da Apple, um dos grandes motivos para aquisição foi trazer Jimmy Iovine para dentro da gigante. Jimmy era CEO da Beats e um executivo com anos de experiência e contatos na indústria da música. A Maçã viu valor em garantir a presença de Iovine nos fechamentos de contratos para lançar seu próprio serviço de streaming de música, o Apple Music.
O desenvolvimento de produto é um setor que consome muito caixa da empresa e, obviamente, todas elas buscam maneiras de otimizar o processo de desenvolvimento. Uma das maneiras mais comuns para desenvolver o produto/serviço de uma companhia de forma mais barata é adquirindo uma startup ou empresa e implementando as funcionalidades naquilo que a empresa já oferece.
Outro motivo para esse tipo de aquisição é o tempo. Desenvolver um produto ou serviço do zero pode levar mais tempo do que adaptar algo existente à sua solução. Por causa da concorrência e das mudanças rápidas, especialmente no setor de inovação, adquirir uma startup que já possui um produto sólido e que faz sentido dentro da solução de uma empresa é positivo.
A aquisição motivada pelo produto é uma das mais comuns. Geralmente, a empresa adquire a startup/companhia e a marca dessa empresa deixa de existir, posteriormente a solução da startup é incorporada nos produtos da empresa. Algumas, no entanto, mantém a marca da empresa adquirida viva e apenas passam a gerir a solução na forma de uma subsidiária, podendo também oferecer a solução original da empresa compradora para esses consumidores. A aquisição da EasyInvest pelo Nubank é exemplo disso, com a compra a fintech manteve em operação a solução da EasyInvest, mas também já possibilitou incorporar investimentos a partir de R$ 1 no app do roxinho.
Oferecer a solução da empresa para os clientes de uma startup comprada é uma das maneiras de expandir a base de clientes da empresa. Mas essa não é a única estratégia de aquisição que visa aumentar o número de clientes. Algumas aquisições são motivadas pelo desejo ou necessidade de entrar em um mercado novo. Por isso, as empresas podem comprar uma startup que já atue no mercado desejado e possua know-how do público, soluções testadas com os clientes e conexões significativas que possam facilitar essa entrada.
Uma das aquisições recentes que mais destacaram esse objetivo de expansão mercadológica foi a compra da RD Station pela Totvs. A compra objetivou a entrada no mercado de soluções de marketing digital, aumentando o mercado endereçável da Totvs. Além disso, o cross-sell - prática de oferecer os serviços de uma empresa para outra e vice-versa - foi destacado como uma das vantagens da aquisição. A Totvs, tradicionalmente uma empresa de ferramentas de gestão corporativa, agora pode oferecer uma ferramenta de gestão de marketing aos seus clientes. Ao mesmo tempo, pode oferecer suas ferramentas de gestão aos clientes da RD Station.
Uma das práticas mais controversas e eticamente questionáveis, adquirir uma empresa para eliminar um concorrente é cada vez mais raro. Além da publicidade negativa que pode atrair, esse tipo de aquisição nem sempre faz sentido quando se observa o custo-benefício. Eliminar um concorrente pode parecer algo positivo, mas nem sempre é lucrativo: outros concorrentes podem surgir, os clientes da empresa comprada podem migrar para soluções de outras empresas e não para as da compradora e outras aquisições, com objetivos de crescimento, poderiam trazer maior vantagem competitiva para a empresa.
Com o aumento de capital disponível para startups, também se tornou muito caro comprar uma empresa apenas para dissolvê-la. É muito mais eficiente mirar startups e empresas que possuam produtos interessantes que podem ser integrados, um time de sucesso ou uma solução que permita entrar em um novo mercado.
Os M&As trazem diferentes benefícios para diferentes players. Para as empresas é uma oportunidade de inovar, entrar em novos mercados e garantir sua relevância em mercados competitivos. Para startups, é positivo pois significa que há mais oportunidades de integrar uma grande empresa, há mais incentivo para desenvolver um produto do zero, empreender e traz reconhecimento às contribuições do ecossistema de startups aos consumidores.
Para os investidores, os benefícios se dividem: para quem investe em empresas tradicionais, ter uma estratégia de fusões e aquisições estratégica é muito bem-visto, demonstra que a empresa é consciente de que precisa continuar evoluindo e observando concorrentes que possam integrar e avançar sua solução e levá-la para novos mercados; para quem investe em startups, M&As representam mais uma alternativa de liquidez, ou seja, uma maneira de ter retorno do seu investimento.
Com mais empresas e startups adquirindo outras startups, as chances de investidores de startups terem uma saída com retorno exponencial aumentam. Quem investe no princípio, geralmente, garante maior multiplicação do valor de sua participação em uma startup.
Com a maturidade das startups brasileiras, as aquisições e fusões devem se intensificar ainda mais no futuro. O ecossistema de inovação também se beneficia das transações ao gerar mais incentivo para que novas startups surjam, mais investidores financiem as fases de crescimento das startups e, ao mesmo tempo, motivam os times das startups para trazer crescimento rápido - quem sabe para que atraia a atenção de uma grande empresa.
Gostou deste conteúdo? Deixa que a gente te avisa quando surgirem assuntos relacionados!
Assuntos relacionados
, Head de Conteúdo na Captable
Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Leia o próximo artigo
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!