Blockchain em leilões: a tecnologia chegou para ficar?

Por Tainá Freitas

Para Ronaldo Santoro, CEO da Rede Bom Valor, a blockchain é a próxima disrupção que está chegando no mercado de leilões. A anterior? Foi a internet. 

“As pessoas não acreditavam, há mais de 20 anos, que a internet transformaria o mundo. No setor de leilões, ela mudou até mesmo a cultura e a imagem do mercado”, contou em entrevista à StartSe.

Agora, após leilões digitais se tornarem uma prática comum, existem preocupações com fraudes, a autenticidade dos agentes envolvidos, entre outros. Santoro acredita que essas e outras questões podem ser resolvidas com a blockchain, plataforma de transações das criptomoedas (mas não só isso, claro!).

A Blockchain é uma rede descentralizada que funciona como um livro aberto. As informações registradas são criptografadas. Além do registro de transações das criptomoedas, ela pode armazenar também informações de contratos, autenticar identidade de pessoas, fornecedores, entre outros.

As informações cadastradas não podem ser mudadas posteriormente. Elas contam com data, horário, etc, o que poderia autenticar o último lance de um leilão, por exemplo.

“Tive o primeiro contato com a Blockchain em 2016. Entendi que seria uma nova transformação, pois permite que os usuários tenham mais controle sobre os próprios dados. Atualmente, nós não temos esse domínio tão claro”, explicou Santoro. Ele criou e é co-CEO da Rede Bom Valor para oferecer a blockchain a este ecossistema.

COMO FUNCIONA?

O primeiro produto da Rede Bom Valor é a BVid, a identidade digital registrada na blockchain. “O usuário pode fazer uma selfie, registrar seus documentos e obter uma chave certificada para operar nas plataformas de leilão parceiras. Isso termina com a necessidade de fazer um cadastro com login e senha”, conta o CEO.

Após a identificação, todos os lances e arquivos de compra e venda são registrados na blockchain. Atualmente, a solução está em fase beta, ainda em testes. A blockchain utilizada é a Interlock Network, de origem brasileira.

“Através da Blockchain, os leiloeiros vão dar muita segurança aos consumidores. Quem compra em leilão oficial tem certeza de que aquilo é verdade, porque há o registro da fé pública. Há, no entanto, os sites falsos e a blockchain pode garantir quais são os autênticos”, explica Santoro.

Leilões falsos vêm sendo criados para roubar dados financeiros e pessoais. De acordo com a empresa de segurança dfndr lab, entre junho e julho de 2020, mais de 52 mil pessoas foram vítimas de golpe em um site falso que dizia ser um leilão do Detran.

A veracidade de um leilão pode ser averiguada no site leilaoseguro.org.br. A iniciativa é da Associação da Leiloaria Oficial do Brasil.

Por outro lado, Santoro acredita que a tecnologia também ajudará a identificar quais são os compradores de confiança. “Hoje é difícil identificá-los, pois muitos compram com exclusividade em leilões específicos, o que acaba criando ‘ilhas’ neste mercado”, afirma o CEO da Rede Bom Valor.

A TRANSFORMAÇÃO TAMBÉM É CULTURAL

A adoção da Blockchain não é, no entanto, algo fácil e natural para todos os agentes do setor. “Qualquer revolução tecnológica passa, primeiro, por uma revolução cultural. A tecnologia está disponível, a cultura é o que nos faz usá-la ou não”, acredita.

Ao mesmo tempo, ele espera que as mudanças sejam positivas -- assim como aconteceu com a digitalização dos leilões, na qual a base consumidora pôde crescer com mais facilidade, sem barreiras físicas.

“Eu estou vivendo um momento muito parecido com o que vivi há há 25 anos”, diz o co-CEO da Bom Valor.

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