A Buser, startup que quer revolucionar o transporte rodoviário no Brasil, recebeu aporte de R$ 700 milhões liderado pelo fundo LGT Lightrock. Em 30 de setembro chegou a região norte, atendendo a todos os estados do Brasil.
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5 min
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11 jun 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Victor Marques
A Buser anunciou nesta quinta-feira (10/06) o recebimento de rodada de investimentos de R$ 700 milhões. Além da LGT Lightrock - que liderou a rodada - participaram Softbank, Monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures, Canary e Iporanga Ventures.
A startup prevê receber R$ 1 bilhão em investimentos nos próximos dois anos, dedicando R$ 400 milhões para expansão no território brasileiro e R$ 200 milhões para financiar a compra de ônibus junto aos parceiros da Buser.
Em 30 de setembro a Buser anunciou o início de suas operações na região Norte do país, atingindo todos os estados. Serão 24 novos trechos em cinco estados - Amazonas, Acre, Rondônia, Pará e Roraima, além do Tocantins, onde a startup já estava presente. As novas rotas conectam 13 novas cidades, com a expectativa de transportar 35 mil passageiros até o final de janeiro de 2022. As novas rotas fazem parte da estratégia para ultrapassar a marca de 200 mil passageiros transportados até o final de 2022.
A Buser nasceu em 2017 e se propôs a criar um novo modelo para o transporte rodoviário: o fretamento colaborativo. Funciona assim: os passageiros dividem o valor do fretamento de um ônibus, reduzindo o valor usual das passagens. A companhia alega ter quase 4 milhões de clientes em sua plataforma.
Ou seja, a Buser é uma intermediadora entre passageiros e empresas de fretamento de ônibus. Com o investimento - além da expansão da área de atuação e financiamento da compra de novos veículos junto aos parceiros - a startup pretende investir o restante do valor em marketing, oferecer viagens gratuitas promocionalmente e melhorar a estrutura dos pontos de embarque e desembarque.
Além do foco forte em aumentar sua base de clientes, através de marketing e expansão no número de cidades atendidas, a Buser também prevê uma maior diversificação do portfólio de serviços oferecidos. O novo portfólio deve incluir ou ampliar a atuação em quatro novos segmentos: transporte de cargas, financiamento de ônibus, transporte urbano e marketplace em parceria com grandes empresas de viação.
Embora a pandemia tenha impactado fortemente o segmento de transporte rodoviário, o segmento também deve ser um dos primeiros a sentir aumento na demanda com o aumento no número de vacinados e consequente redução das restrições de mobilidade que deve ocorrer em breve.
Os sócios e investidores têm motivos para ter confiança na rápida recuperação da demanda do negócio: em dezembro de 2020 - um período mais controlado da pandemia no Brasil - a Buser intermediou mais de 300 mil viagens, número três vezes superior ao registrado no mesmo período de 2019.
Outra estratégia, além de aguardar a melhora da situação da pandemia no Brasil, é o novo foco no transporte urbano de passageiros - a Buser atuava primariamente em viagens intermunicipais e interestaduais. O que a empresa propõe é um modelo alternativo para o transporte urbano coletivo, focado em ajudar concessionárias ou prefeituras em cidades médias - com número de habitantes em torno de 150 mil - a utilizar tecnologia para melhorar a logística do transporte nas cidades.
Assim como a Uber sofreu em seu princípio com disputas jurídicas e questões legislativas, a Buser já foi alvo de inúmeros processos em todo o território nacional. As companhias rodoviárias tradicionais pressionam os legisladores para não competir com o modelo inovador proposto pela startup.
Enquanto os legisladores e companhias tradicionais tentam colocar entraves na operação da Buser - pelo menos sete estados tiveram liminares para restringir o funcionamento dos apps nos últimos meses - a companhia segue operando mediante recursos.
Depois dos entraves judiciais à nível estadual, o segmento enfrenta outra ameaça: o Projeto de Lei 3819 tramita na Câmara dos Deputados - já tendo sido aprovado pelo Senado - e prevê que as companhias que desejarem operar linhas rodoviárias precisam ter frota própria, especificar o itinerário e possuir capital social mínimo de R$ 2 milhões.
Caso aprovado, o projeto impactaria diretamente a operação das pequenas empresas de fretamento - parceiras da Buser - e o modelo de negócios da própria Buser como um todo, já que a companhia atua em parceria com a frota das empresas de fretamento, geralmente reduzindo a ociosidade em algumas rotas.
A Buser é mais uma startup que enfrenta entraves legais e do mercado tradicional para oferecer serviços inovadores possibilitados pelo uso de tecnologia. Essa não é a primeira e nem será a última vez - infelizmente - que ouviremos falar de barreiras burocráticas para operação de uma startup que se propõe a atuar num setor estagnado.
Além disso, o investimento na empresa reforça a confiança que os investidores têm tanto na superação dos problemas jurídicos do modelo de negócios, quanto na retomada do turismo - com demanda reprimida - em breve.
Outro motivo que pode ter pesado na decisão do investimento é a maneira como a Buser administrou o cenário da pandemia e os impactos no negócio. Típico das startups, adaptar-se rapidamente e, se necessário, expandir o portfólio de serviços para lidar com momentos de adversidade prova que a Buser está disposta a ir além do que era seu núcleo para garantir a sobrevivência e crescimento da empresa.
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Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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