Camila Farani, presidente da G2 Capital e fundadora do Ela Vence, fala sobre como é possível construir um negócio em qualquer fase da vida. Confira!
Mulher olhando para o computador (foto: Javier Sierra/Unsplash)
, Presidente da G2 Capital e fundadora do Ela Vence
8 min
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25 mai 2023
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Atualizado: 1 jun 2023
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“Idade não é quantos anos você tem, mas sim como você se sente.” A frase do escritor Gabriel García Márquez parece óbvia, mas deveria ser repetida exaustivamente nos tempos atuais. Quem se lembra de estudantes jovens zombando de uma mulher de 40(!) anos que se matriculou em um curso universitário? Onde está escrito que envelhecer torna alguém inapto para o trabalho ou ao aprendizado?
De acordo com a descrição da OMS, etarismo se refere a “estereótipos, preconceitos e discriminação direcionados às pessoas com base na idade que têm”. Ou seja, como pensamos, nos sentimos e agimos a respeito.
No contexto do mercado de trabalho, o etarismo é um dos paradoxos mais injustos. As pessoas investem décadas de trabalho duro e estudo em alguma atividade para depois serem penalizadas por ter feito exatamente isso. Quantas pessoas acima dos 50 não sentem o preconceito logo na entrevista de emprego? O maior "elogio" ouvido é o da "ultra-qualificação".
Uma pesquisa divulgada no ano passado pela AARP, ONG dedicada ao suporte e aconselhamento a pessoas 50+, mostrou que quase 80% da força de trabalho nos EUA pertencente a esta faixa enfrentou discriminação no trabalho por conta da idade, o índice mais alto desde que a pesquisa começou a ser feita em 2003.
No Brasil, o IBGE registra um contingente de 37,7 milhões de idosos, e com tendência de alta, na medida em que aumenta a longevidade, hoje em torno de 76,6 anos. Se a vida profissional acabar aos 50, essas pessoas ficam condenadas a dedicar um quarto de século apenas “à velhice”, seja lá o que isso quer dizer.
Esse tipo de atitude pode levar a quadros depressivos, porque a reação natural de pessoas discriminadas é se isolar do grupo social e internalizar muito daquele preconceito. Vergonha dos cabelos brancos, por exemplo, pode ser um sintoma. A OMS liga cerca de 6,3 milhões de casos de depressão no mundo diretamente ao etarismo. “Será que eu não sou capaz de fazer isso?” Pessoas que enviam centenas de e-mails para tentar uma recolocação e nem sequer recebem uma resposta.
De acordo com a coordenadora da ação conta etarismo da OMS, Vania de la Fuente-Nuñez, essa internalização acaba se transformando numa profecia auto-realizável. A pessoa que acredita nos estereótipos acaba com um desempenho cognitivo e físico inferior ao que teria condições dado seu estado real de saúde.
Essa realidade é ainda duplamente cruel com a mulher que, até os 40, é discriminada pelo “risco” de engravidar. Segundo o IBGE, apesar de ter maior nível de escolaridade e ser maioria na população, a mulher tem menos participação na força de trabalho e, mesmo assim, na segunda metade de 2022, havia 50% a mais de mulheres sem ocupação em relação a homens.
Precisamos avançar o discurso e ir além de opiniões como "acho que deveria haver mais pessoas com 50 anos nas empresas" e pedir mudanças legislativas, exigindo posicionamentos claros sobre o tema por parte do governo e das empresas.
Felizmente os recursos estão crescendo, assim como nosso conhecimento sobre o processo de envelhecimento humano e as tecnologias para torná-lo cada vez mais saudável. Empresas e organizações de impacto social como a AARP ou a brasileira Maturi auxiliam na recolocação profissional e também fazem consultoria e mentorias sobre “longevidade produtiva”.
O empreendedorismo pode ser uma forma eficaz de lidar com o etarismo no mercado de trabalho. Ao criar seus próprios negócios, as mulheres podem estabelecer uma cultura de trabalho inclusiva e diversificada, sem se submeterem às práticas discriminatórias que muitas vezes prevalecem no mercado tradicional.
É necessário um esforço conjunto da sociedade para combater o preconceito e promover a valorização da diversidade etária em todos os setores.
Eis um trabalho de conscientização a ser realizado em todos os níveis. O jovem precisa ver a pessoa com mais idade pelo que ela é, alguém com mais experiência e que tem o que ensinar. A interação entre grupos etários pode ser benéfica. Uma pessoa que já enfrentou muitas situações na carreira pode compartilhar suas descobertas, enquanto o jovem pode auxiliar quem tem mais idade com sua habilidade quase inata para as novas tecnologias.
Ao questionarmos nossos próprios preconceitos e comportamentos, podemos contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e inclusiva para todas as gerações. Como disse certa vez a atriz Sophia Loren, que continua ativa aos 88 anos. “Existe uma fonte da juventude: sua mente, seus talentos, a criatividade que você traz para sua vida e para a daqueles que você ama”.
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, Presidente da G2 Capital e fundadora do Ela Vence
Presidente da G2 Capital e fundadora do Ela Vence, comunidade que conecta e inspira lideranças femininas, empreendedoras e investidoras. Eleita uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea e uma das 100 maiores em Inovação do Brasil pela Época Negócios.
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