Nesta coluna, Fernanda Safe, executiva de marketing e produtos, escreve sobre a versatilidade dos modelos de negócios num ecossistema digital que muda a relação entre pessoas e marcas no mundo todo. Entenda!
China (Foto: Canva)
, Redator
12 min
•
25 abr 2024
•
Atualizado: 3 mai 2024
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*Fernanda Safe, participante da imersão StartSe China, compartilhou o que aprendeu durante a imersão
Vamos começar do início, já que sou nova por aqui.
Eu sou Fernanda Safe, CMO & Empreendedora Corporativa, com passagens pela Google, Burger King, Osklen, HStern, Itaú, Vivo e outras. Também atuo como Business Advisor e mentora em startups.
Desde que iniciei a minha carreira, construí cases em multi-mercado, entendendo como é desafiador conectar novas tecnologias no ecossistema digital de bancos, telcos e techs, entendendo a cadeia de valor fim a fim.
Um porque passei por modelos de trabalho e culturas bem diferentes, e dois porque tive oportunidades de liderar projetos globais de inovação, desenvolvendo e aplicando soluções (SaaS, PaaS, IoT e Big Data) para gerar eficiência operacional promovendo a transformação em diversas indústrias.
Quando decidi vir para a China tinha objetivos “comuns”.
Queria experimentar a inovação nas suas mais variadas formas, ampliar o meu repertório e as minhas referências em negócios, além de observar como as marcas mais tradicionais estão se conectando com as gerações mais jovens, já que estamos num país onde estas já não querem mais seguir os modelos “normais” de consumo, tão pouco de trabalho.
Por isso, fica evidente que muitas pessoas de GenZ e Millenials estão produzindo conteúdo “free” para chamar atenção das suas marcas favoritas e consequentemente ganhar relevância e notoriedade, atuando como KOC - key opinion Customer.
Ou seja, uma pessoa que experimenta produtos de marcas que se identificam e “vendem” na sua rede, funcionando como um “mini-influencer” ou creator, sem ser remunerado por isso num primeiro momento.
Dado isso, precisamos mergulhar nas experiências que vivi de varejo tech na China. Porém, falar de “Retailtech” sem entrar em meios de pagamento, inteligência artificial, social commerce, liveshops e super apps é quase impossível por aqui.
Até porque, aqui, você encontra tudo dentro dos apps, e o mais impressionante foi a Xiaomi que conseguiu vender 50 mil unidades do carro elétrico S7, no valor de 150 mil reais, em uma liveshop de meia-hora!!
Vale lembrar que a China até 10 anos atrás tinha um “modus-operandi” bem diferente - e quem acompanha o crescimento econômico do país, sabe o quanto ela evoluiu.
A tecnologia não era tão forte como nos dias de hoje. E hoje, você não faz nada se não tiver o WeChat ou o Alipay.
Eu mesma me senti ainda mais dependente das telas e do meu smartphone do que quando estou no Brasil, e criei relações rápidas com marcas e apps que eu nem conhecia. Então vamos entender o porquê.
Tudo na China é muito vivo. Uma população com 2 bilhões de pessoas, movimenta muitos mercados e retroalimenta um ecossistema extremamente dependente das novas tecnologias.
Não vou falar de política, mas eu vi o capitalismo real nas ruas das cidades de Pequim e principalmente Shangai.
AI, IoT, Big Data, Super apps e Live Shops estão moldando a economia global e são assets estratégicos para as empresas e marcas do varejo se diferenciarem do “awareness ao loyalty”.
Sempre com a intenção de se conectar rapidamente com as pessoas com poder consumo, vendendo mais e melhor a partir do “Customer behavior”, entendimento do poder de consumo e do engajamento - mas isso não significa ofertar experiências 100% online. O modelo O2O (on to off e off to on) prevalece por aqui.
Explorar as novas tecnologias e os modelos que oferecem em cada app me fez enxergar não só como as coisas acontecem por aqui, mas também o reflexo da alta capacidade de execução de um país extremamente populoso, que saiu da fome para um alto padrão de consumo - revolucionando e transformando o setor automotivo, financeiro, telecom e de varejo em geral.
Então, impressiona ver como tudo funciona em torno de um app social que é o WeChat e, o outro, que é um meio de pagamento como o Alipay. Se você não estiver dentro você “não existe” para o sistema.
Ambos tem mini-apps dentro deles, mas o interessante é que o Alipay surgiu para centralizar tudo que você precisa dentro dele.
Facilidades como pedir um táxi da “Didi”, comprar passagens e reservar hotéis com preço acessível, ou até mesmo usar o QR code para pegar o metrô acontecem de forma nativa e eficiente dentro do app.
O meio de pagamento padrão é o cartão de crédito online - e ele precisa estar cadastrado dentro do app - não adianta ser físico.
Além disso, o principal método é o QR Code - então quando você quer pagar por algo numa loja, eles definem o valor na maquininha e você faz o scan para concluir a transação automaticamente do valor devido diretamente no cartão cadastrado.
Enquanto o alipay facilita o pagamento, o WeChat facilita a comunicação.
O WeChat nasceu como uma rede social, e foi integrando outras funcionalidades para permitir transações internas.
Ambos são fontes riquíssimas de dados “1st party data” e traçam o perfil de consumo com base no score do usuário. Isso determina se a pessoa está apta a comprar o novo carro da Xiaomi seja numa loja ou online ou um suco numa vending machine.
Falando em inovação e na rapidez de transformação da China temos a BYD, Great Wall Motors, Huawei e Xiaomi na briga das vendas de carros elétricos e a Baidu, correndo contra a Tesla com a super inteligência dos autônomos.
Já são mais de 1200 carros autônomos rodando na China, entre Pequim e Shangai. É possível experimentar robotáxis sem motorista nessas cidades.
Ser criativa e futurista, permite a China moldar padrões e a coloca de frente com os EUA para conquistar o título de primeira potência global. Isso a gente já sabia, certo?
O que não sabíamos é como ela está enfrentando desafios para se relacionar com países no mundo todo, já que possui um sistema que opera diferente do restante do mundo.
A Modelagem de negócios é bem forte aqui e guia a evolução da nova economia.
Os apps geralmente abrangem modelagens B2B, B2C, C2C, D2C, C2M, OMO e outras siglas que são vistas em funcionalidades específicas para cada target dentro dos apps.
B2B: Business to business (empresa para empresa) - Um banco ofertando serviço para uma telco e vice-versa por exemplo
B2C: Business to Consumer (empresa para consumidor) - quando você compra um plano que a Netflix ofertou
C2C: Consumer to Consumer (consumidor para consumidor) - como por exemplo a OLX no Brasil, iCarros e Webmotors para venda de carro entre pessoas
D2C: Direct to Consumer (direto para o consumidor) - como é o caso de compras de eletrodomésticos na CNova da Cônsul
C2M: Consumer to Manufacturer (consumidores para fabricantes) - quando os consumidores têm um papel ativo na criação e design de produtos que desejam.
OMO: On-to-off e off-to-on - quando a marca usa meios off-line para levar o consumidor para a compra online e vice-versa
Então, quanto mais versátil for o negócio, mais chance de ampliar receita atacando públicos diferentes.
E foi assim que o TikTok conquistou 80 Milhões de usuários no mundo e pudemos ver em primeira mão algumas funcionalidades que ainda nem chegaram no resto do mundo, que posicionam essa rede como uma engine de busca, um marketplace que vende tudo e não apenas uma rede social.
Conclusão: ainda não sabemos se a China conseguirá ultrapassar os EUA, em termos de economia, mesmo com toda a sua criatividade para desenhar o futuro que já acontece em alguns países hoje.
Em termos de tecnologia estão avançando cada vez mais e monetizando cadeias de valor inteiras ampliando as capacidades de vendas online com super apps.
Fica claro que para um e-commerce dar certo, ele precisa embarcar tecnologia de ponta e criar capacidades logísticas que abrangem mais de um modelo.
Sendo assim, vamos continuar acompanhando a evolução do ecossistema de inovação da China para aplicar conceitos e tecnologias nos nossos negócios além de criar experiências omnichannel integradas no phygital, unindo as capacidades do on e off para vender mais e melhor.
*Fernanda Safe é executiva de marketing e produtos, atua há 15 anos liderando projetos globais de inovação e transformação digital em multinacionais como Google, Burger King, Itaú, Osklen, H. Stern, Claro e Vivo,
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Este artigo não representa a opinião da StartSe; é de responsabilidade do colunista
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