Como a CEO da Oracle inova?

O convidado: Safra Catz é a CEO da Oracle, uma gigante da tecnologia. Ela nasceu em Israel e se formou em direito na Universidade da Pensilvânia. Safra entrou para a Oracle em 1999 e, com seu talento para finanças e operações, rapidamente subiu na empresa. Em 2014, ela se tornou CEO, e desde 2019 é a única no comando. Conhecida por sua estratégia afiada, ela ajudou a Oracle a fazer grandes aquisições e a crescer nos serviços de nuvem, mantendo a empresa no topo do mundo da tecnologia.

Frase: “Liderança é sobre tornar os outros melhores como resultado da sua presença e garantir que esse impacto dure na sua ausência.”

A rápida evolução da tecnologia levou mais pessoas a questionarem se estamos no caminho certo. A abordagem do Vale do Silício de buscar crescimento e escala agressivamente atingiu seus limites?

Acho que depende do setor, da empresa e da cultura. Na Oracle, eu digo que não somos uma grande empresa de tecnologia, nem uma pequena empresa de tecnologia, somos uma empresa de tecnologia média. Estamos no ponto certo. Focamos no crescimento, mas também focamos em fazer isso de maneira lucrativa e correta.

Muitas empresas de tecnologia adotam o lema “Move fast and break things” (Mova-se rápido e quebre coisas). Parece que isso não está mais ressoando com o público, à medida que mais pessoas se sentem deixadas para trás pelas grandes empresas.

Novamente, depende do tipo de empresa e do que elas fazem. Por exemplo, estamos constantemente tentando inovar, mas também estamos atentos aos nossos clientes e precisamos trazê-los para o futuro. Temos uma política onde não os deixamos para trás.

A tecnologia pode apresentar riscos sérios, como quando dados de usuários de redes sociais foram coletados sem seu consentimento durante a corrida presidencial dos EUA em 2016. A IA generativa também gerou preocupações sobre desinformação e violações de propriedade intelectual. Como gerenciamos esses desafios?

Só porque há uma nova tecnologia, não significa que você perde seus direitos.

Existem regras muito claras sobre privacidade. Elas são acordadas socialmente e implementadas pelas pessoas que elegemos para nos representar. Se não estamos satisfeitos com isso, então precisamos melhorá-las. O mesmo vale para falsificações.

Há muito trabalho de política sendo feito. Estive na Conferência de Segurança de Munique. Estávamos falando sobre privacidade, segurança e desinformação. Não devemos nos esconder dos desafios. Devemos enfrentá-los.

A Oracle fornece a infraestrutura de nuvem que gerencia os dados do TikTok nos EUA. Como está criando um ambiente seguro para os usuários?

Uma das formas foi construirmos uma nuvem. Todos os dados dos cidadãos dos EUA estão nessa nuvem. E implementamos gateways que monitoramos para que os dados não possam ser retirados.

Além disso, revisamos o código para garantir que ele é o que diz ser e o que deve ser. Temos centenas de pessoas trabalhando nisso. Fomos escolhidos por nossa experiência no lado da segurança nacional dos EUA e nosso compromisso com a segurança dos dados dos EUA.

Como você vê a IA generativa impactando a sociedade e a economia?

Algumas pessoas têm um pouco de medo e estão tentando decidir até que ponto devem investir nisso. Estão muito preocupadas que muitas pessoas possam perder o emprego.

Eu argumentaria que, na verdade, isso levará a mais empregos e mais capacidades, porque pessoas que talvez não pudessem fazer certos trabalhos com a assistência da IA poderão fazê-los melhor.

Quando você estuda o passado, vê que esses grandes avanços tecnológicos acontecem. Industrialização, internet – novas coisas acontecem e as pessoas têm medo. Mas se você não as adota, muitas vezes fica para trás. As empresas que têm medo muitas vezes não conseguem chegar ao próximo nível.

Embora eu receba perguntas de funcionários do governo sobre “Como devemos desacelerar isso?”, não estou recebendo isso de empresas nem de indivíduos. Há muito entusiasmo e otimismo sobre isso.

Como a Oracle usa a tecnologia através de seus negócios para beneficiar a sociedade? Que tipo de sociedade a Oracle prevê?

Quando você muda para a nuvem, significa que você compartilha. E quando você compartilha, tem economias de escala reais.

Então, se for um hospital, eles não precisam se preocupar com crimes cibernéticos e tudo mais. Eles não precisam se preocupar em comprar computadores. Com o que eles precisam se preocupar? Com seus pacientes – garantir que seus médicos estejam bem treinados, garantir que tenham tempo suficiente para passar com os pacientes.

A medicina ainda tem um longo caminho a percorrer e pode realmente se beneficiar de ter informações melhores.

Atualmente, médicos e assistentes médicos têm que confiar no que sabem. Em vez disso, imagine se tivessem à disposição, na ponta dos dedos, todos os outros pacientes muito semelhantes a este paciente e todos os diferentes diagnósticos e tratamentos potenciais.

Se você cavar abaixo da superfície de tudo o que fazemos, é provavelmente motivado por tentar realmente avançar a humanidade.

Ter pessoas diversas discutindo abertamente e participando do desenvolvimento aberto é essencial para criar tecnologia. Quais são seus pensamentos sobre isso?

A tecnologia é sempre sobre o próximo passo, fazer coisas que ainda não foram feitas, resolver problemas que ainda não foram resolvidos. Esses são difíceis. Então, muitas vezes você não quer continuar fazendo as coisas da mesma maneira que fez antes. Quando você está tentando resolver um problema em tecnologia, você realmente precisa de pontos de vista muito diversos.

Uma das razões pelas quais Larry [Ellison, fundador e presidente] me manteve por todos esses anos e me deu o privilégio de ser CEO da Oracle é porque discutimos sobre coisas o tempo todo. Estamos fazendo coisas que ninguém mais fez, então precisamos de todos os pontos de vista possíveis.

Você está planejando mais investimentos em startups de IA generativa?

Absolutamente. Ouça, mas não é só IA. IA é incrível e fantástica e vai fazer parte de tudo que todos fazem. E então, haverá novas ideias, novas capacidades, e continuamos a fazer enormes quantidades de trabalho porque precisamos mudar, literalmente mudar indústrias completas. Para qualquer um de vocês que vive e trabalha na área da saúde, a saúde ainda está no século 20. Imagine se pudermos usar nossa tecnologia não apenas para melhorar a contabilidade e os recursos humanos e coisas assim, mas imagine se pudermos usá-la para salvar vidas. E é nisso que estamos trabalhando.

Como a Oracle se adapta às mudanças que marcam as tendências tecnológicas e como vocês inovam para continuar sendo atraentes para as necessidades dos clientes?

Ajudando os clientes a terem sucesso, o que começa com uma compreensão profunda das indústrias em que operam. Muitas pessoas ignoram o fato de que temos um negócio de aplicações verticais de bilhões de dólares que se concentra unicamente em projetar software para atender às necessidades únicas de diferentes indústrias. 

Temos aplicações específicas para automatizar funções comerciais críticas, como capacidades bancárias centrais para serviços financeiros, ponto de venda e comercialização para varejistas, gestão de ensaios clínicos para as maiores empresas farmacêuticas do mundo e agora, com a Cerner, serão gerenciados registros de saúde eletrônicos para pacientes e hospitais de todo o mundo. 

Centenas de milhares de clientes confiam nas nossas nuvens de indústria para fornecer as soluções completas de que precisam para aumentar suas receitas e lucros.

Vemos uma metamorfose na maneira de fazer negócios e nas estruturas das principais empresas de tecnologia. Como a Oracle está respondendo a isso?

Tivemos que nos reinventar como uma empresa de nuvem. Isso exigiu não apenas uma grande mudança na tecnologia, mas também na forma como vendemos, atualizamos os produtos e trabalhamos com os clientes. 

Migramos todo o nosso negócio para a nuvem, por isso experimentamos em primeira mão as incríveis vantagens da nossa própria tecnologia. Também sabemos exatamente quais desafios implicam quando nossos clientes tomam a mesma decisão, e estamos mais preparados do que ninguém para ajudar a garantir que suas implementações sejam bem-sucedidas.