Saiba também como a crise na empresa pode afetar o ciclo de crédito, as empresas de logística e todo o ecossistema ao redor da companhia, inclusive os consumidores
, Redator
11 min
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26 abr 2023
•
Atualizado: 19 mai 2023
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O começo deste ano veio como uma avalanche com a notícia da descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões da Americanas. Tal comunicado levou a rede varejista a entrar em recuperação judicial.
Diante disso, muitas pessoas acreditavam que a empresa poderia entrar em falência, o que não aconteceu (ao menos, por enquanto). Por outro lado, muitas dúvidas ainda seguem no ar.
Diversas empresas já sofrem os impactos do caso Americanas. É o que afirma Luis Alexandre Castelo, advogado da área empresarial e sócio da Lopes & Castelo Sociedade de Advogados.
“Até mesmo porque, podemos notar grande volume de pequenas e médias empresas que foram afetadas, ocasionando um verdadeiro efeito cascata. Uma vez que, enquanto fornecedores, o não pagamento [da Americanas a estes terceiros] acabou gerando até mesmo a quebra de algumas empresas menores”, afirma.
Já de acordo com Sandro Magaldi, cofundador da MeuSucesso.com, o primeiro impacto mais claro do caso Americanas envolve a disponibilidade de crédito.
“[O porém é que] esse fato já estava acontecendo mesmo antes do ocorrido com a Americanas, por conta das altas taxas de juros aplicadas atualmente”, comenta.
O que acontece é que existe uma tendência de aumento da inadimplência quando os juros estão altos. E por conta disto, há uma escassez maior de crédito, já que as instituições financeiras ficam mais resistentes a liberarem empréstimos.
“A tendência, então, é os bancos disponibilizarem o crédito para empresas que têm um rating maior (que é a capacidade de uma companhia pagar suas dívidas)”, argumenta Magaldi.
E é aí que entra o efeito Americanas. “Afinal de contas, a empresa tinha um rating mais qualificado, então, existe o pensamento de que as outras companhias varejistas, que também apresentam boas classificações de crédito, poderiam estar passando pelo mesmo problema”, explica Magaldi.
E aliado a isto vem o impacto direto do caso Americanas na disponibilidade de caixa das instituições financeiras, que tiveram perdas importantes e que estavam provisionadas.
“Portanto, esses dois elementos somados geram uma redução importante no crédito, que é uma grande alavanca para as empresas de varejo. Isso porque, a margem de lucro dessas companhias é menor, mas tem que ter capital de giro para poder alavancar o negócio. Então, esse é o efeito mais deletério que vai afetar, sobretudo, as empresas de maior porte”, analisa Magaldi.
Flávio Riberi, economista e coordenador de cursos de pós-graduação da Faculdade FIPECAFI, acredita que grande parte do varejo possui operações saudáveis e tende a crescer nos espaços que foram abertos pela Americanas.
“Desde a divulgação do caso, a concorrência aproveitou o flanco aberto em seu mercado e sua base de clientes para ações de marketing agressivas. Por isso, não podemos achar que a situação de uma empresa com reflexo severo em sua contabilidade, resulte em um problema setorial”, pondera.
Muito se pensa que certa parte da área de logística pode também sofrer com a redução no ciclo de vendas da Americanas no ambiente digital. O porém nesta história toda é que o setor de e-commerce é bastante competitivo no Brasil.
“No que tange aos operadores de logística, o mercado como um todo não tende a sofrer. Isso porque as vendas que não dependem diretamente da Americanas devem ser ou já estão sendo substituídas por outros players”, afirma Magaldi.
Porém, a parte logística que está intrinsecamente relacionada a Americanas, provavelmente está sendo impactada devido à diminuição das vendas.
“Sem esquecer que poderá ocorrer a devolução de diversos espaços logísticos próprios da empresa, fazendo com que a vacância cresça vertiginosamente”, diz Castelo.
No entanto, quando a gente joga luz para todo o ecossistema da Americanas, os especialistas acreditam que desde colaboradores até os sellers (vendedores que estão dentro do marketplace) podem ser afetados.
“Principalmente os sellers, [afinal, as vendas diminuem]. Mas também aqui nós temos uma outra perspectiva. Hoje, é quase raridade o seller que trabalha exclusivamente com um único marketplace. Todos os vendedores trabalham com dois ou três e-commerces. Então, essa pessoa que utilizava a Americanas, vai ter uma diminuição das vendas dela neste marketplace especificamente. Mas vai correr para outros e-commerces na tentativa de alavancar as vendas”, afirma Magaldi.
E claro que desde a comprovação do rombo astronômico de R$ 20 bilhões da Americanas, que diversos consumidores estão alertas. Isso porque, existe o receio de comprar algum item e o objeto não chegar ao destino.
Por mais que esta insegurança seja pertinente, vale saber que nenhum caso deste tipo foi registrado.
“Você tem todos os âmbitos legais e jurídicos que preservam o consumidor. Então, o aspecto é muito mais psicológico do que prático”, conclui Magaldi.
Mais do que um caso isolado que surpreendeu, a crise da Americanas aponta uma tendência inevitável para outras empresas brasileiras, especialmente no varejo: procurar lucratividade e ter muito critério nos investimentos e nos planos de expansão. Seja no humor do cliente, na oferta de crédito ou no impacto sobre as demais marcas de consumo, o efeito desse rombo vai ser sentido por um bom tempo; e entender seus diversos aspectos será fundamental para navegar no mercado brasileiro em 2023.
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