Para garantir que mais pessoas negras tenham acesso à meca da tecnologia, Danielle Marques está movimentando empresas e garantindo novas entradas em ESG
, Jornalista
8 min
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25 jul 2023
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Atualizado: 25 jul 2023
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Estar no Vale do Silício é um marco para quem gosta de pensar sobre disrupção, inovação e tecnologia. A gente sabe que, mesmo para os mais antenados, estar lá e viver na pele é outra coisa.
O problema é: apesar do discurso sobre diversidade, a meca da tecnologia ainda não coloca algumas lições em prática. Pessoas negras ocupam menos de 1% dos cargos executivos nas principais empresas do Vale do Silício.
No Brasil, uma pesquisa realizada pela Potências Negras e a Shopper Experience mostra que a falta de oportunidades é a principal barreira para pessoas negras ingressarem na área de tecnologia.
Danielle Marques, fundadora do projeto Do silêncio ao Silício, esteve no Vale, em imersão da StartSe, e viu de perto o ecossistema: “eu era a única pessoa negra e, ao mesmo tempo que aquilo me preenchia muito, tipo, meu Deus, eu quero dominar o mundo, me deixava muito triste saber que eu era a única ali.”
Ela cresceu na periferia de Ribeirão Preto e sempre foi incentivada a estudar. Influenciada por uma família de mulheres empreendedoras, foi cursar administração e percebeu que os livros e a realidade eram muito distantes.
Curiosa, foi à Bolívia em um congresso de inovação e sentiu que os horizontes expandiam. Na volta, conheceu o Núcleo de Empreendedorismo da USP e foi a primeira aluna de fora da universidade a fazer parte.
“Então, eu comecei a conhecer o ecossistema de startup, fui me envolvendo e aí o que eu conhecia de empreendedorismo foi se transformando”, diz. Ela se deu conta que o empreendedorismo envolvendo tecnologia chegava até ela como produto final, mas ela não fazia parte da construção daquilo.
Com esta experiência, entrou no QuintoAndar, na área de CX (ela trabalhava desde os 14 anos no atendimento). Ali, começou a participar dos grupos de afinidade e debater sobre diversidade e inclusão como nunca tinha visto.
O problema é que a área de atendimento ao cliente foi ficando pequena para ela, então resolveu fazer mestrado na UNB e pesquisar as startups negras e a falta de fundo de investimento.
Aí ela começou uma transição de carreira. “Eu me considero uma pessoa criativa, mas eu sempre estive nesse lugar de criar, mas de uma maneira de sobreviver.” Entendeu que a inovação era o lugar que ela queria trabalhar e foi atrás de conhecimento.
Em agosto ela participou do SVWC da StartSe e acompanhou a semana toda de conteúdo. O insight que veio foi: “se eu preciso, para me tornar uma especialista em inovação, ir para o Vale do Silício, então eu vou!”
O problema era como financiar. O custo não cabia em seu orçamento, mas a viagem fazia sentido. Acabou criando uma vaquinha online, que viralizou. Nisso, garantiu a imersão, as passagens e ainda o contato de uma família brasileira que mora lá e podia hospedá-la.
“E aí, quando eu cheguei lá, foi um choque de realidade muito grande, né?”. Ela conta que foi se dando conta aos poucos, passando da vivência em seu bairro, da experiência voluntária na Fundação Casa, com menores, e aí ela finalmente nos Estados Unidos. “Era literalmente um filme da Disney.”
Na imersão, ela contou sua trajetória até lá e isso a conectou ainda mais com a turma. Ela queria apresentar sua realidade para mostrar que existem outras narrativas. E depois de tudo que ela passou, ela voltou com a questão que era: como envolver mais pessoas negras em uma vivência tão importante?
Impulsionada pela fala da Monique Evelle, empreendedora, que diz que a inovação que acontece no Vale do Silício acontece também dentro das periferias.
A diferença é que a da periferia salva vidas e é de uma dimensão maior, só que acaba silenciada. Por isso, ela conversou com Tais Aquino, sócia da StartSe, sobre a possibilidade de uma parceria. Deu certo! Ela criou o Do Silêncio ao Silício, projeto focado em levar jovens empreendedores periféricos e negros ao maior polo de inovação do mundo.
“Então do Silêncio ao Silício é sobre como a gente tira essas inovações criadas dentro da periferia e projeta elas em algo muito maior, que é o Vale do Silício. A gente pegou uma meta de dez empreendedores negros, a gente abriu o processo seletivo e tivemos mais de trezentas inscrições. Agora a gente está na luta de selecionar dez pessoas para ir.”
O ponto complexo segue sendo a captação de recursos. Por isso, ela traz empresas para serem parcerias nesta jornada e investirem nestes talentos negros que estão cocriando tecnologias Brasil afora.
A pesquisa que trouxemos no início aponta que o preço dos cursos de capacitação foi mencionado por 26% dos entrevistados como o maior empecilho para o ingresso no setor. Outros 15% afirmaram que a principal barreira é a falta de domínio do inglês. Danielle ataca estas frentes, abrindo possibilidades para que mais pessoas negras cheguem à meca da inovação.
E o melhor: ela abre portas para empresas que querem dar novos passos em ESG e não sabem por onde começar. Capacitar estes talentos pode gerar grandes impulsos de inovação no Brasil e sua empresa se destaca por estar próxima, cocriando.
De acordo com o estudo global da PwC sobre o tema, 79% dos entrevistados consideram que iniciativas socioambientais impactam nas tomadas de decisão de investimentos. Quase metade (49%) deles afirma que pretendem retirar recursos de empresas sem ações reais nessas áreas. Estar atento e ativo ao mercado é fundamental para se manter relevante. E a hora de agir é agora, hein?
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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