Finlândia planeja uma nova lei que permite que trabalhadores saibam salários de colegas para evitar a desigualdade; já tem empresa de olho no movimento. Entenda!
(Foto: Thomas Barwick via Getty Images)
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7 min
•
5 jan 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Sabrina Bezerra
O assunto é um tabu — eu sei. Mas, se depender do governo da Finlândia e da startup Buffer, o salário deixará de ser um segredo guardado entre o funcionário e a companhia. Todos saberão quanto o colega de trabalho ganha e o porquê do pagamento ser maior ou menor.
O objetivo? Gerar mais confiança e parceria e ajudar a equiparar o salário entre homens e mulheres.
Um exemplo vem da Finlândia, que recentemente divulgou um projeto de lei que permitiria que colaboradores saibam quanto os colegas de trabalho estão recebendo, se suspeitarem de discriminação. “A eliminação de disparidades salariais injustificadas é o ponto central para o programa do governo", diz Thomas Blomqvist, ministro da Igualdade, à Reuters.
No Brasil, a igualdade salarial está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas, apesar disso, mulheres recebem cerca de 30% a menos do que os homens nas mesmas profissões, segundo um estudo feito por Laísa Rachter, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
O outro lado… No entanto, se não existir uma comunicação clara, a transparência salarial pode trazer alguns pontos negativos, como gerar comparações veladas e sentimento de desvalorização do tipo: “por que a pessoa tem mais privilégios do que eu?” — e acabar não questionando líderes ou a área de recursos humanos. Como consequência, pode gerar frustração e, em alguns casos, demissão.
No Brasil, 55% dos profissionais gostariam de saber a remuneração de seus colegas que realizam funções parecidas, segundo dados levantados pela Ipsos e a The Global Institute for Women’s Leadership. O mesmo acontece em entrevistas de emprego, em que a maioria das companhias não divulgam a remuneração da vaga e frustram trabalhadores, mas esse é assunto para outro artigo.
O fato é que a “transparência gera confiança, parceria e maturidade, mas não resolve a igualdade salarial sozinha. É de responsabilidade da liderança e da governança da empresa”, diz Juliana Alencar, especialista em inovação e cultura corporativa. “Uma companhia com transparência e sem uma gestão sólida e um discurso que seja coerente com a prática, causa mais caos do que igualdade”, completa.
E o que deve ser definido pelos alta liderança e governança? “Critérios, ferramentas de acompanhamento, compartilhamento, avaliações atreladas a cultura que a empresa prega e treinamento — incluindo comunicação — da liderança como um todo”, afirma Juliana. Além disso, deve ficar claro o porquê de cada funcionário ter uma faixa salarial.
“Acho que estamos cada vez mais caminhando para um caminho de “tratar adultos como adultos” para trabalhar em uma empresa que você saiba o salário dos seus colegas demanda muita maturidade”, diz a especialista.
A startup Buffer, com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, apoia a causa desde 2013. O pagamento dos funcionários é divulgado no site da companhia — e qualquer pessoa, inclusive você, pode acessá-lo.
O cálculo do salário é feito com a faixa salarial x o custo de vida. A calculadora está disponível para quem pretende ingressar na empresa. Basta selecionar a vaga e pronto: tem acesso ao valor da remuneração.
Segundo a companhia, “a transparência salarial ajudou a reduzir a disparidade de remuneração entre homens e mulheres de 15% para 5% nos últimos dois anos.”
Ainda é cedo para falar se o movimento da nação mais feliz do mundo e da Buffer vai virar tendência no mundo corporativo. Mas o projeto de lei da Finlândia mostra que está em busca de métodos para melhorar a igualdade de gênero no mundo corporativo, já que as mulheres recebem cerca de 17,2% a menos do que os homens em 2020, segundo relatório da OCDE — e a pauta é um dos pilares há anos.
Vale lembrar que a Finlândia ficou conhecida como o “paraíso do trabalho flexível”, que tem se tornado tendência no mundo do trabalho . Será que o salário transparente veio para ficar também? Seguimos acompanhando.
+ Para saber como a área de recursos humanos deve lidar com essa mudança de comportamento das pessoas, clique aqui.
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Sabrina Bezerra, head de conteúdo na StartSe, possui mais de 13 anos de experiência em comunicação, com passagem por veículos como Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios, ambos da Editora Globo.
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