Nesta coluna, Priscila Schmidt, especialista em comunicação para alta liderança, traz dicas para executivas. Confira!
(Foto: via Canva)
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12 min
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19 jul 2023
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Atualizado: 19 jul 2023
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A comunicação é a habilidade essencial para todos que pretendem exercer liderança. Mas, certamente, para as mulheres desenvolver e dominar essa habilidade é ainda mais urgente.
A expectativa que a sociedade coloca sobre as mulheres, de que sejam dóceis, gentis, subservientes, afeta objetivamente a forma como somos julgadas no ambiente de trabalho. Homens, quando falam com firmeza, são lidos como assertivos, mulheres, como agressivas. Quando a mulher é empática, é fraca, o homem, gentil.
Como mulher e mentora, compartilho com minhas colegas e clientes, a percepção de que quando mulheres são assertivas, comumente, são julgadas como agressivas. Essa sensação ocorre tanto no âmbito profissional quanto no âmbito pessoal.
O tema é complexo e tem inúmeros desdobramentos. Sabemos que as barreiras ainda são muitas mesmo reconhecendo que avançamos de forma significativa nos últimos anos. E temos dados robustos que respaldam essa percepção de que o julgamento da comunicação de homens e mulheres é tendenciosa.
A pesquisadora Kieran Snyder, conduziu um estudo no qual examinou a forma como as avaliações de desempenho no ambiente de tecnologia podem diferir com base no gênero dos funcionários.
Os resultados do estudo confirmam a percepção comum de que mulheres são mais suscetíveis a receber feedbacks negativos em relação à sua personalidade. Kieran analisou o conteúdo de feedbacks dados a homens e mulheres em posição de liderança.
Críticas relacionadas à personalidade, como por exemplo, “cuide do seu tom de voz!”, “dê um passo atrás!”, “pare de ser tão crítica!”, aparece apenas 2 vezes nas 83 avaliações críticas recebidas pelos homens.
Já nas avaliações críticas recebidas pelas mulheres, aparece em 71 das 94 avaliações. A diferença é extremamente significativa e joga luz sobre como julgamos a comunicação de homens e mulheres de forma muito distintas.
E vale ressaltar, ainda, que o gênero dos gerentes que realizaram os feedbacks não influenciou a natureza do feedback. Mas os feedbacks realizados por gestoras mulheres foram em média 50% mais extensos que os realizados por gestores homens.
Claro, se nós somos julgadas de forma mais intransigente que os homens, a tendência a sermos mais prolixas e a falarmos mais por medo de sermos mal interpretadas acaba sendo uma consequência natural.
Talvez, um caminho possível para contornar o julgamento fosse se aproximar dos gestores criando relacionamentos mais próximos e confiantes. Aí, encontramos mais um desafio, o fato de que mulheres enfrentam uma baita desigualdade nas oportunidades de networking com seus gestore. Um outro estudo da McKinsey demonstrou, por exemplo, que apenas 33% das mulheres almoçam com gerentes regularmente versus 48% dos homens.. Essa falta de acesso prejudica as chances de promoção e, claro, afetam definitivamente o curso de suas carreiras.
Além disso, outro fator se soma a esse complexo e desfavorável cenário, ainda somos a minoria. Uma em cada cinco mulheres profissionais é frequentemente a única mulher na sala, nas áreas de tecnologia e liderança, 40% das mulheres enfrentam essa situação. E por serem maioria no ambiente de trabalho, os homens tendem a controlar a conversa durante 75% do tempo.
Então, as mulheres são mais julgadas, têm menos oportunidade de networking e, portanto, menos oportunidade de estreitar relacionamentos com seus gestores, além de terem menos tempo e espaço de fala.
Outro dado alarmante reforça a desigualdade no espaço de fala, um relatório recente sobre a diversidade de gênero em eventos revelou uma disparidade significativa entre o número de porta-vozes masculinos e femininos.
E se você acha que esses dados importam apenas para mulheres, engana-se.
O Instituto McKinsey lançou um relatório que revela que alcançar igualdade entre homens e mulheres traz benefícios econômicos significativos para a economia. Segundo o estudo, em um cenário de “potencial pleno”, no qual as mulheres desempenham um papel idêntico ao dos homens nos mercados de trabalho, poderiam ser adicionados até 28 trilhões de dólares, ou 26%, ao PIB anual global até 2025.
Portanto, a desigualdade de gênero não é apenas uma questão social, mas também um desafio econômico crucial. O tema é urgente não apenas para as mulheres, que buscam mais oportunidades e equidade, mas para a sociedade como um todo.
É claro que não podemos depositar apenas sobre as mulheres a tarefa de mudar esse cenário. É preciso a conscientização e o engajamento dos líderes masculinos na promoção de um ambiente inclusivo, onde mulheres possam se expressar livremente sem medo de retaliação.
Mas as mulheres precisam, definitivamente, compreender a importância do desenvolvimento de suas habilidades de comunicação neste cenário. Se a nossa comunicação é julgada de forma mais dura, precisamos ainda mais de uma comunicação assertiva e eficaz para minimizar os ruídos, ampliar nossas vozes, ecoar nossas ideias e contribuições.
Para conquistar mais espaço, ampliar seu poder de influência e persuasão através da sua comunicação foque nas estratégias a seguir:
Trabalhe firme para desenvolver sua consciência sobre as suas necessidades, sobre as suas emoções e sobre a sua expressividade. Esta etapa é fundamental para que as mulheres possam filtrar os feedbacks - que como vimos, são muito tendenciosos - e fazer uma gestão madura de suas emoções e reações, além , claro, de trazerem para si a responsabilidade pela eficiência da sua comunicação.
Treinar a sua inteligência empática trará ferramentas para compreender a lógica, os vieses e os valores do outro. Assim será mais fácil adequar a sua mensagem para cada público, fazendo a curadoria correta do seu conteúdo. Isso servirá para que você escolha os argumentos que sejam relevantes e persuasivos, conduzindo tomadas de decisões e orientando comportamentos.
Desenvolver a sua oratória é passo fundamental para minimizar os ruídos de comunicação. Um treinamento de oratória bem executado oferece ferramentas práticas e aplicáveis para que a voz e a linguagem não verbal corroborem com a mensagem a ser transmitida. Além disso, dominar a sua expressividade irá contribuir demais com a sua gestão emocional e seu autoconhecimento.Diferente do que se pensa, treinar a sua comunicação te dará mais força para ser assertiva sem perder a sua autenticidade.
Conhecer métodos de organização de raciocínio é tão importante quanto os passos anteriores. É urgente que tenhamos condições de fazer a curadoria correta do conteúdo que deve compor cada mensagem e saber fazê-lo de forma organizada e assertiva irá contribuir para que avancemos ainda mais na conquista do nosso espaço de fala.
Esteja atenta e se prepare para cavar oportunidades de exposição de fala. Além de ampliar o eco da sua mensagem, isso irá ajudar a cativar e ser lembrada na dança das cadeiras, quando abre-se espaço para que alguém seja promovido. No caso, promovida.
Diante de tudo, é imperativo que as lideranças, tanto femininas quanto masculinas, reconheçam e enfrentem os desafios de comunicação enfrentados pelas mulheres no ambiente de trabalho.
Ao promover uma cultura de comunicação inclusiva e eliminar preconceitos de gênero, as organizações podem alavancar plenamente o potencial das líderes femininas, proporcionando um ambiente em que elas possam contribuir ainda mais. Nós temos muito a contribuir nas tomadas de decisão e no crescimento da economia. Lembre-se, mais do que poder, comunicação é conexão. Quanto mais conectadas, mais influentes nos tornamos.
*Este artigo não representa a opinião da StartSe; a responsabilidade é da autora.
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Priscila é professora do WLP, formação internacional de impacto para lideranças femininas, da StartSe em parceria com a Nova SBE. Ela também é fundadora da Versa, empresa referência em desenvolver habilidades para comunicação em treinamentos corporativos, com foco em Altas-Lideranças e C-Levels. Com mais de 15 anos de experiência, ensina líderes como se tornarem porta-vozes de sua melhor versão. Além de atriz e professora de teatro, possui pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, bem como certificação em neurociência pela PUC-RS
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