Nesta coluna, Priscila Schmidt, especialista em comunicação para alta liderança, fala sobre a importância de conhecer seu objetivo, de verdade, na hora de transmitir uma mensagem.
Mulheres trabalhando (Foto de CoWomen na Unsplash)
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11 min
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5 fev 2024
•
Atualizado: 5 fev 2024
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Imagine que você acaba de receber uma promoção no seu trabalho que te levará para fora do país, por exemplo.
Agora, imagine que você vai contar para seu marido ou esposa que a notícia que você esperou por tantos anos finalmente chegou.
Depois, você conta para sua mãe, que sempre sonhou que você morasse no exterior. Em seguida, para seu pai, que ainda reclama que você saiu de casa quando casou - há 8 anos. Depois para sua melhor amiga, que está passando por um momento difícil na sua vida pessoal e que sempre contou com sua presença para se manter firme.
Você contaria do mesmo jeito para todos? Usaria as mesmas palavras e as mesmas referências? Seguiria o mesmo roteiro?
Imagino que você tenha respondido que não.
Que contaria de um jeito único para cada um, considerando quem é o outro, o que você sabe sobre ele, o que ele sabe sobre você, além de todos os diálogos e experiências pregressas que já viveram.
Ou seja, mesmo que seja para dizer a mesma coisa ou levar a mesma mensagem, nós sabemos que devemos fazer isso de forma diferente em cada contexto.
Da mesma forma, a preparação de uma apresentação exige a mesma consideração pelo público. Ainda que o tema seja o mesmo, cada público tem um conhecimento e um interesse diferente, uma resistência ou objeção também diferente sobre o assunto em questão.
No teatro, dizemos que o diretor ou diretora deve saber como acionar cada ator. Alguns se tornam extremamente criativos quando se sentem seguros e acolhidos, ao passo que a criatividade de outros morre em meio à estabilidade, preferem o risco, o desafio, a provocação.
De maneira similar, o líder deve reconhecer o estilo de cada liderado e adaptar sua comunicação para ativar a máxima potência de cada um.
Cecília Bergamini, no seu livro Liderança: administração do sentido, explica que a liderança foi definida como a “atividade de influenciar os outros para que se empenhem voluntariamente na obtenção dos objetivos do grupo”.
Daí surgem dois processos, o primeiro mais intelectual e estratégico, que mira atingir os objetivos da organização. O segundo, mais humano, que é a influência sobre o outro para alcançar tais objetivos.
E aqui é necessário considerar uma palavra fundamental na definição de Bergamini: “voluntariamente”, ou seja, de boa vontade. Isso significa que não dá mais para mandar; é preciso conquistar para engajar. Não pode existir coerção, e sim um estímulo que provoque motivação.
Um comunicador versátil será capaz de adaptar sua comunicação ao seu interlocutor, tornando-se muito mais persuasivo ao adequar a sua mensagem ao seu público e contexto.
Mas o que você deve considerar na hora de adaptar a sua mensagem para públicos diferentes?
Atenção é o novo petróleo! Eu já não sei mais quem fez essa afirmação pela primeira vez, mas sem dúvida, ela é muito acertada.
A atenção, junto da emoção, é um dos filtros da nossa memória. Sem atenção, não há retenção, pois tudo se perde em meio às toneladas de informações que recebemos diariamente.
Portanto, o comunicador tem o dever de despertar a atenção do público, explicitando desde o início por que aquele assunto é relevante para ele. Pergunte-se: por que isso importa para o público em questão?
Sabe quando alguém entra em um assunto que você não consegue acompanhar porque você não entende nada sobre aquilo? Para que o público possa acompanhar seu raciocínio, é preciso que todos estejam na mesma pagina, munidos de um vocabulário comum para poderem lhe entender.
Considere o que o público sabe ou não sobre o tema e construa sua linha de raciocínio de modo que você instrumentalize o público com aquilo que lhe falta. Use exemplos e analogias que conectem o seu tema à realidade deles. Mas atenção, apenas o suficiente para que ele possa compreender a mensagem, não seja pedante.
Saber o que desagrada ou gera desconfiança no público sobre o seu assunto é poderoso pois permite que você se antecipe e adote estratégias na estruturação da sua mensagem para dirimir as objeções.
Por exemplo, suponhamos que você precise comunicar sobre uma nova escala de trabalho, que pode desagradar a alguns dos seus liderados. Pergunte-se e compreenda o por que a notícia pode desagradar e, no seu discurso, valide o possível desconforto que as mudanças podem trazer para alguns ao invés de ignorar e não tocar no assunto - o que certamente resultaria em uma rede de rumores. E claro, não deixe de apresentar as motivações e vantagens da nova escala, sempre explicitando e demonstrando o que eles mesmos ganham com as mudanças.
Eu morei em muitos Estados do Brasil quando criança, muito rapidamente eu já dominava o sotaque local e usava e abusava dele na minha comunicação com os amigos da escola. Dentro de casa, eu seguia sempre com meu sotaque pâulista, mêu.
Meu irmão tirou muita onda com a minha cara, dizendo que eu não tinha personalidade, que eu era maria-vai-com-as-outras. Nunca me abalei, pois aprendi muito cedo que as pessoas reparam primeiro em como a gente diz, e só depois de superarem o que lhes gera estranhamento - como um sotaque muito diferente - escutam o que estamos dizendo.
Eu quero realmente compartilhar minhas ideias, pontos de vista, conhecimento, com o maior e mais diverso número de pessoas que a vida me permitir. As pessoas precisam ouvir o que nós temos para dizer, o como é o instrumento para que elas possam focar no que realmente importa.
Por isso, uma comunicação versátil é tão poderosa e uma etapa avançada do desenvolvimento da nossa comunicação. Ela demanda altíssima inteligência empática além de um vasto repertório cultural, intelectual e político.
E tudo isso só fará sentido se estiver alinhado com seu objetivo ao comunicar uma determinada mensagem, para um determinado público, em um determinado contexto. Parece simples, mas raramente meus clientes têm clareza do objetivo das duas próprias mensagens.
Dizem coisas como ‘o objetivo é apresentar os resultados’, sim, mas apresentar os resultados para quê? Para reforçar a estratégia? para ampliar a equipe? para aprovar um novo investimento?
“Vou apresentar os resultados porque é isso que me pedem para fazer” ou ‘vou apresentar porque sim” não respondem sobre um objetivo. Saiba o que você quer ao transmitir sua mensagem. A partir disso, você constrói toda sua linha de raciocínio, o objetivo é como o seu itinerário, cada público prefere uma rota, mas você é quem precisa saber o caminho que os leva até lá para conduzi-los por essa jornada.
As habilidades para falar em público e liderar como a organização um raciocínio empático e persuasivo, muitas vezes, já fazem parte de muitas situações do seu dia a dia. Esteja sempre atento e observe a si e aos outros ao seu redor.
E lembre-se, pessoas interessadas se tornam interessantes. Se interesse verdadeiramente pelo seu público quando for preparar a sua mensagem e pare de se preocupar em como ser interessante; ser interessante é consequência.
Priscila Schmidt é professora do WLP, Formação Internacional de Impacto, que desenvolve habilidades, competências e perspectivas necessárias para uma Liderança Feminina Transformadora, em posições estratégicas de mercados altamente competitivos. Confira mais!
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Priscila é professora do WLP, formação internacional de impacto para lideranças femininas, da StartSe em parceria com a Nova SBE. Ela também é fundadora da Versa, empresa referência em desenvolver habilidades para comunicação em treinamentos corporativos, com foco em Altas-Lideranças e C-Levels. Com mais de 15 anos de experiência, ensina líderes como se tornarem porta-vozes de sua melhor versão. Além de atriz e professora de teatro, possui pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, bem como certificação em neurociência pela PUC-RS
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