Tecnologias como visão computacional, IA e ecolocalização, oferecem melhor qualidade de vida às pessoas com deficiência
Diversidade e inclusão no ambiente de trabalho (Foto: Pexels)
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14 min
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9 abr 2024
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Atualizado: 9 abr 2024
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É inquestionável o poder transformador e facilitador que a tecnologia tem em nosso cotidiano. Seja na forma como vivemos, nos comunicamos, nos relacionamos ou fazemos negócios. Em constante evolução, novas soluções surgem para tornar o mundo cada vez mais inclusivo e acessível, principalmente para pessoas com algum tipo de deficiência (PCDs) ou limitação funcional.
Estamos falando de uma população de 18,6 milhões de pessoas no Brasil com algum tipo de deficiência: visual (6,5 milhões), motora (4,5 milhões), intelectual (2,6 milhões) e auditiva (2,1 milhões). O número equivale a 8,9% da população com mais de dois anos, segundo dados do IBGE.
De fato, cada vez mais os aspectos da acessibilidade em soluções digitais deixam de ser um diferencial, e já são uma exigência por parte do mercado. Mas, apesar dos avanços, questões como alto custo e baixo interesse das empresas em investir nesse tipo de solução ainda empacam a disseminação da tecnologia assistiva pelo país.
É aí que, mesmo em meio a desafios, o ecossistema de startups tem enxergado uma oportunidade de mercado para inovar com soluções dedicadas à melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência. O Startups conversou com quatro delas, e mostra como essas empresas fazem a diferença com suas tecnologias assistivas. Confira:
Dar ouvidos a todos que não conseguem escutar, esse é o propósito da Me Escuta, primeira startup voltada para o mercado de deficiência auditiva no Brasil. A empresa mineira foi fundada em 2022 e atua para democratizar o acesso a aparelhos auditivos de qualidade e a tratamentos fonoaudiológicos por meio de parcerias com profissionais da área.
Ela oferece uma plataforma de atendimento composta por metodologia de fonoaudióloga, aparelhos auditivos modernos e acompanhamento remoto. Por eliminar todos os intermediários da indústria que encarecem o produto, a Me Escuta comercializa aparelhos auditivos por a partir de R$ 3.800 e facilita o pagamento em até 36 vezes.
“A gente compra da indústria, capta o paciente online, faz uma teleconsulta e um modelo de venda remota com uma fonoaudióloga nossa, que é uma paciente autorizada. Tudo isso acaba facilitando e democratizando o acesso a um aparelho auditivo. Hoje, dos 11 milhões de brasileiros que precisam usar aparelhos auditivos, menos de 500 mil de fato usam”, afirma Rodolfo Zhouri, fundador e CEO da startup. Os principais motivos para tal disparidade, segundo ele, são três: falta de informação, poucas lojas especializadas e o preço alto.
Fonoaudióloga parceira da Me Escuta em atendimento (Foto: Reprodução/site Me Escuta)
“As pessoas com perda auditiva em sua maioria não sabem que têm perda e nem que a deficiência auditiva é tratável. Outra questão é que o Brasil tem menos de 2 mil pontos (lojas especializadas ou consultórios com fonoaudiólogas que vendem aparelhos auditivos) para poder atender esse público. Por fim, o preço de um aparelho auditivo no país é ridiculamente caro e inacessível, sendo que o tíquete médio hoje gira em torno de R$ 10 mil o par”, detalha o CEO.
No ano passado, a startup atraiu a atenção de investidores e captou um investimento anjo de R$ 1 milhão. Entre os participantes da rodada estão Gustavo Caetano, fundador da Sambatech, Carlos Alberto Tamm, empreendedor Endeavor e CEO da Mastermaq, Tito Martins, ex-CEO da Nexa, e Luiz Ristow, fundador e ex-proprietário do Tecsa Laboratório.
Gelson Jr (CEO) e Renato Leite (cofundador e diretor comercial), ambos atletas paralímpicos de sucesso e profissionais com experiência no mercado financeiro, fundaram o Parabank, primeiro banco digital feito por, com e para PCDs, em prol da inclusão e da transformação social.
O pacote de produtos e serviços ofertados inclui conta digital gratuita, cartão de débito/crédito e linha de crédito exclusiva para pessoas com deficiência - com condições especiais, como taxas de juros mais baixas e prazos de pagamento mais flexíveis para compra de próteses e equipamentos, além de financiamento de tratamentos.
A startup tem como propósito conectar, reabilitar e incluir pessoas com deficiência na sociedade, promovendo não apenas acesso a serviços financeiros, mas também oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento.
Soluções ofertadas pelo Parabank, banco digital para PCDs (Foto: Divulgação)
Em seu 1 ano e meio de vida, a startup conquistou 700 clientes - 650 pessoas físicas e 50 empresas. Para 2024, o Parabank se prepara para ganhar escala com uma nova tecnologia e lançamento de seu cartão de crédito em maio. Vem aí o Parabank 2.0.
“Com o Parabank 2.0 a gente vai realmente botar o pé no acelerador, porque teremos muita tecnologia embarcada e produtos genuínos nossos. Nossa meta é fechar o ano com 50 mil clientes e 20 mil cartões emitidos, além de faturar em torno de R$ 1,5 milhão”, comenta Renato, cofundador do Parabank. A cifra representa um crescimento expressivo de 800% comparado a 2023.
A Perto Digital, startup de Blumenau (SC) nascida de um spinoff do GrupoVex, tem um vasto portfólio de soluções de acessibilidade digital para empresas. Através da tecnologia, as soluções permitem que o site das empresas, documentos digitais, conteúdos em texto e áudio sejam acessíveis.
Como parte de sua contribuição social, a startup também destina 10% dos lucros para instituições sem fins lucrativos, além de oferecer suas soluções gratuitamente às instituições participantes do seu programa "Trazer para Perto", com o objetivo de envolver e fortalecer as comunidades locais.
Em outubro passado, a startup tornou-se parceira oficial de acessibilidade da maior festa alemã da América Latina: a Oktoberfest Blumenau. A primeira mudança para tornar a festa mais inclusiva e acessível foi feita no site do evento, que passou a contar com mais de 35 recursos de acessibilidade permitindo aos usuários selecionarem sua condição específica, como Baixa Visão, Daltonismo, Epilepsia, TDAH, Dislexia, entre outras, e navegarem de forma mais adequada e confortável.
Totem de autoatendimento acessível da Perto Digital (Foto: Divulgação)
Já no Parque Vila Germânica foram espalhados diversos terminais de autoatendimento acessíveis (totens), cuja tecnologia com IA e visão computacional (criada do zero pela Perto) ajudou pessoas com dificuldade sobre a localização dos banheiros, ambulatórios, dos caixas, praça de alimentação e todas as informações necessárias sobre a festa.
O Terminal Interativo contou com comando de voz, libras, leitor de tela para pessoas com deficiência visual ou pessoas com baixa visão, adaptação de altura de acordo com a estatura do usuário e o plugin para cada um selecionar sua necessidade específica.
“A Perto nasceu para resolver os problemas de acessibilidade digital nas empresas. Quando a gente fez o projeto da Oktoberfest e viu que isso era uma dor gigante, que ninguém pensava nisso, eu falei, não, isso aqui não é só um projeto, é o que eu quero fazer pro futuro”, afirma o CEO da Perto Digital, Bruno Brauns. Segundo ele, a meta para 2024 é crescer 100%, com um faturamento de R$ 3,6 milhões.
Com auxílio da tecnologia, usando ecolocalização, realidade virtual e inteligência artificial, a startup alagoana See U App oferece visão, autonomia e inclusão para pessoas cegas, e deficientes visuais severos.
A startup foi fundada em 2022 pelo CEO Arthur Sendas e seu colega de faculdade e sócio Cícero Carlos Júnior, que se uniram para desenvolver a tecnologia inicialmente apenas para uso de ambos - Arthur tem acromatopsia, ou cegueira de cores, por isso tem baixa visão, enquanto Júnior (que não está mais entre nós) tinha uma doença generativa que o tornaria cego. Posteriormente, a esposa de Arthur, Jaqueline de Araújo, integrou-se à missão de ambos, contribuindo para o desenvolvimento do aplicativo.
Eles criaram um sensor, que o usuário usa como se fosse um crachá, que detecta, reconhece e prevê objetos, obstáculos, perigos, movimentos, etc, integrado ao aplicativo. A interação com o app e a orientação ao usuário ocorrem por meio de comandos de voz, tornando a experiência mais intuitiva e acessível. Além de detectar objetos e obstáculos, o app permite aos usuários ler livros, textos e interpretar expressões faciais.
O aplicativo utiliza uma técnica avançada de inteligência artificial chamada "physics learning", que combina conceitos de física com aprendizado de máquina para criar modelos mais precisos e eficazes na interpretação e interação com o ambiente. Também foi criado um "idioma" ou linguagem baseada em ecolocalização para facilitar a comunicação entre o aplicativo e os usuários.
Sensor desenvolvido pela See U App (Foto: Divulgação)
Hoje, o sensor e o app são vendidos juntos - R$ 1.800 o sensor e uma mensalidade de R$ 60 pelo uso do app. No entanto, para baratear a produção do equipamento e ampliar seu alcance há mais pessoas, Arthur declarou que pretende mudar a dinâmica da comercialização.
“Temos atualmente um limite de produção de mil sensores por mês, com um custo muito elevado, além de uma fila de espera gigante com pessoas querendo usar. Então fechamos uma parceria para terceirizar a produção e pretendemos lançar o app separado, assim, mais gente vai usar tranquilamente, sem precisar do sensor”, explica ele.
Com faturamento mensal atualmente em R$ 2 milhões, a See U App espera dobrar essa cifra até o fim do ano e alcançar 40 mil clientes (hoje são quase 7 mil). Presente em todas as regiões do Brasil, a startup também atua em países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Canadá, Austrália, Países Baixos, Suécia e Suíça.
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