A Orby utiliza neurotecnologia e IA para aliviar a dor e devolver o controle motor de quem perdeu os movimentos devido a AVC, Parkinson ou lesões medulares
Duda Franklin, CEO e cofundadora da Orby | Foto: Divulgação
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11 min
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23 out 2024
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Atualizado: 23 out 2024
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A história da ciência é marcada por mulheres extraordinárias que desafiaram estereótipos e superaram preconceitos para deixar uma marca significativa em suas áreas de atuação.
Desde Marie Curie, pioneira na pesquisa sobre radioatividade, até Rosalind Franklin, cuja investigação foi crucial para a descoberta da estrutura do DNA, essas cientistas não apenas fizeram descobertas revolucionárias, mas também abriram caminho para futuras gerações.
A potiguar Duda Franklin é exemplo deste legado. “Sempre sonhei em ser cientista e desde muito nova sou fascinada por criar coisas”, relembra. Na infância, enquanto os colegas de turma faziam maquetes de fazendinhas, ela entregava protótipos de tomógrafo na feira de ciências.
Hoje, aos 25 anos, ela já é mestre em neuroengenharia e Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), além de engenheira biomédica e neurocientista com mais de 11 anos de experiência em projetos tecnológicos.
Toda essa trajetória culminou na criação da Orby, Co, deeptech de Natal (RN) que desenvolveu um sistema pioneiro de neuromodulação não invasiva e automação da reabilitação funcional.
Calma que eu explico. A startup utiliza neurotecnologia e inteligência artificial para fazer a neuromodulação do cérebro, ajudando a aliviar a dor e recuperar o controle motor de pessoas que perderam movimentos.
Com essa solução, a Orby auxilia na reabilitação funcional de pessoas que perderam o movimento do corpo, seja por AVC, Parkinson, traumas ou lesão medular.
O dispositivo permite que pacientes com lesão na coluna, por exemplo, consigam ficar em pé e dar os primeiros passos com o auxílio do aparelho, promovendo uma recuperação mais eficiente e menos invasiva.
Além disso, a Orby oferece às instituições de saúde uma solução integrada que combina software, hardware e sistemas de controle, visando simplificar o fluxo de trabalho e automatizar os processos de neuromodulação. A ferramenta pode preencher protocolos médicos, visualizar biofeedbacks, monitorar a reabilitação e controlar os neuromoduladores.
Ela também fornece dados adicionais que qualificam o diagnóstico, permitem uma abordagem preditiva, indicam a progressão de distúrbios neuromotores e melhoram a produtividade do cuidado, favorecendo a evolução e a segurança dos pacientes.
“O mercado de neuromodulação ainda é um oceano azul. É uma área que exige um conhecimento profundo de medicina, física, computação e matemática para integrar esses saberes em um produto de alta qualidade que possa ser aplicado na prática”, afirma Duda.
Um dos grandes desafios ao fundar a startup, em 2022, foi garantir que a empresa já nascesse com uma estrutura sólida.
O processo envolve reuniões com o conselho consultivo e análises aprofundadas que vão desde a operação industrial e prototipagem até a criação de organogramas, a formação de uma equipe (em sua maioria sênior), além do desenvolvimento do funil de vendas e do modelo de negócios.
A CEO define o momento atual da Orby como uma fase de transição. “É hora de tirar o projeto da bancada e colocá-lo no mercado. Estamos muito focados em realizar os ensaios clínicos para comprovar a eficiência do produto, tanto em termos clínicos quanto de custo e eficácia.
Os testes são fundamentais para gerar resultados que mostrem que estamos no caminho certo e, assim, direcionar a solução corretamente para os clientes”, explica Duda.
Atualmente, hospitais como a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e o Hospital do Amor, em Barretos, estão avaliando o Ortech, dispositivo desenvolvido pela Orby. Além disso, o produto está em fase de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em paralelo, a empreendedora está focada no crescimento da operação e na preparação da empresa para uma futura expansão global. “Nosso foco agora é ajustar as operações para torná-las escaláveis em nível global.
Embora a internacionalização não seja um plano imediato, sabemos que a Orby tem potencial para isso e, quando esse momento chegar, queremos garantir que o processo ocorra de forma fluida, sem comprometer as operações diárias”, explica Duda.
Duda revela que a startup recentemente concluiu uma rodada de investimentos, que será anunciada em breve. “Essa captação é totalmente focada na operação. Vamos utilizar os recursos para avançar na industrialização, obter todas as regulamentações necessárias, concluir os ensaios clínicos e iniciar o go to market. Mas não vamos esquecer da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que é essencial para inovar e criar novos produtos”, comenta. A deeptech já faz parte do portfólio do Black Founders Fund, programa de aceleração e investimento do Google, além de integrar o Microsoft for Startups Founders Hub.
“Sempre estive em ambientes majoritariamente masculinos, seja na ciência, na engenharia ou nos negócios. Nós, mulheres, enfrentamos lutas diárias para sermos reconhecidas e levadas a sério”, reflete Duda. “Quando pensamos em gênios da ciência, os nomes que vêm à mente geralmente são Albert Einstein ou Isaac Newton, mas raramente lembramos das mulheres. Marie Curie, Rosalind Franklin e Ada Lovelace foram gênias que, ao longo da história, foram ignoradas ou subestimadas por serem mulheres.”
Ao longo de sua trajetória, Duda também enfrentou desafios relacionados à cor de sua pele. “Uma das partes mais difíceis é a invisibilização, que talvez se deva ao fato de eu ser uma mulher preta. Sei que não sou a única a enfrentar essa dificuldade — muitas outras mulheres passam por isso, e é uma situação muito difícil”, reconhece.
Nesse contexto, a neurocientista decidiu levar a história da Orby adiante, com o intuito de inspirar outras pessoas que desejam entrar para o mundo dos negócios, compartilhando experiências reais e relatos sinceros dos desafios enfrentados ao longo da jornada.
Junto da sócia, Kalynda Gomes, Duda escreveu o livro “Desbloqueando o Meu Cérebro”, com pré-lançamento previsto para 4 de novembro e um lançamento oficial no próximo ano.
“Acredito que todos precisam de exemplos e referências. Por isso, a ideia da obra é mostrar como duas mulheres cientistas fizeram a transição para o mundo dos negócios, se tornando executivas e liderando uma empresa complexa que tem obtido sucesso. Além disso, queremos inspirar clientes e o mercado como um todo, demonstrando que no Brasil também conseguimos desenvolver produtos de alta eficiência e excelência”, conclui Duda.
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