Tendência do turismo bilionário traz grandes potenciais, mas também muitos riscos. Como equilibrar inovação e experiência, garantindo segurança? Entenda
Submersível Titan, da OceanGate (foto: divulgação)
, Jornalista
9 min
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22 jun 2023
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Atualizado: 22 jun 2023
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Exclusividade, altos custos e aventuras extremas marcam o turismo dos bilionários. Eles estão dispostos a desembolsar uma grande quantia de dinheiro para viver não só uma viagem, mas uma experiência. Entretanto, a busca ao submersível Titan, da OceanGate, criou um novo marco negativo.
No site da OceanGate Expeditions, a empresa promete “o fundo do oceano acessível para a exploração humana como nunca havia sido”. Mas, em sua mais recente viagem, perdeu o contato com os comandos em terra. Esta seria a terceira expedição da companhia rumo aos destroços do Titanic. A experiência custou cerca de US$ 250 mil por tripulante e deveria durar 8 dias, saindo de St. Johns, na costa leste do Canadá.
A visita aos destroços do Titanic é apenas uma das muitas experiências criadas na nova tendência do turismo de bilionários. De acordo com estudo da ILTM e Wealth-X, apenas 0,3% da população mundial (que concentra patrimônio líquido superior a US$ 1 milhão) é responsável por 36% do total de viagens e por 70% do turismo de luxo no mundo. A estimativa é que os gastos globais com viagens de luxo chegarão a US$ 1,5 trilhão em 2024, o maior de todos os tempos.
Fundada em 2009 por Stockton Rush, mergulhador entusiasta, a OceanGate surge para ser uma empresa de exploração oceânica focada no fornecimento de serviços submersíveis tripulados para permitir que pesquisadores e exploradores acessem os vastos recursos dos oceanos. Tanto é que ela foi a primeira a conseguir, em setembro de 2022, imagens em 8k do Titanic.
Stockton Rush supervisiona as estratégias financeiras e de engenharia. Ele começou sua carreira na aviação, quando se tornou o piloto de aeronaves a jato mais jovem do mundo em 1981, aos 19 anos, após obter sua classificação DC-8 Type/Captain no United Airlines Jet Training Institute, de acordo com o site da empresa.
A camada experimental é fundamental na inovação, mas é preciso atingir níveis de segurança para garantir a confiança do consumidor. Explorar novos mercados demanda ainda mais criticidade para que os custos, no fim das contas, não sejam altos demais.
No caso da OceanGate, o Comitê de Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society escreveu uma carta ao CEO, em 2018, informando apreensão em relação aos possíveis resultados negativos, “que teriam sérias consequências para toda a indústria”, informou o New York Times.
Também David Lochridge, especialista em submarinos que trabalhou para a empresa, foi demitido após alertar sobre os riscos.
A excursão ultraluxuosa apresentava, de fato, um desafio regulatório. Por se tratar de uma tecnologia muito nova, não existiam padrões de segurança ― apesar dos alertas de pares da área.
A empresa privada com sede em Everett, Estados Unidos, diz estar focada no desenvolvimento e segurança da tripulação, mas reconhece os riscos de um negócio em um mercado emergente. Em um episódio do podcast “Unsung Science”, o CEO da OceanGate, Stockton Rush, disse que a exploração vem com um risco inato:
“Em algum momento, a segurança é puro desperdício. Quero dizer, se você quer apenas estar seguro, não saia da cama. Não entre no seu carro. Não faça nada. Em algum momento, você vai correr algum risco, e é realmente uma questão de risco/recompensa. Acho que posso fazer isso com a mesma segurança quebrando as regras.”
Na mesma entrevista, ele disse que "o que mais me preocupa são as coisas que vão me impedir de chegar à superfície."
O submersível precisa de uma nave-mãe para ser lançado, diferente dos submarinos. É essa embarcação que vai guiar durante a expedição, já que eles não têm GPS. A comunicação é feita por mensagem de texto, já que o som não se propaga de forma correta debaixo d'água.
Além disso, um submarino pode ficar mais tempo submerso, enquanto os submersíveis têm menos reservas de energia.
O submersível Titan tem espaço para quatro passageiros e um tripulante. As especificações divulgadas pela OceanGate observam que é mais leve do que a maioria de seus pares em virtude de sua construção ser em fibra de carbono em vez do titânio tradicional.
A história da OceanGate teve tudo está se desenrolando fora do planejado, trazendo inseguranças aos clientes. Agora, o setor deve focar em garantir que a experiência, atrelada à segurança, siga lado a lado das inovações do mercado. Sem isso, é possível que o setor tenha que voltar algumas casas antes de, de fato, rodar experimentos em situações tão extremas.
Uma estratégia ambiciosa, mal-planejada e cheia de imprevistos podem colocar uma empresa inteira em risco. Não sabemos os impactos de longo prazo que a OceanGate vai enfrentar devido ao incidente com seus tripulantes. Fato é: quando se pretende explorar mercados novos e nichos lucrativos (como o turismo bilionário) é preciso mudar também sua forma de construir estratégia: avaliando todas as variáveis e tendo agilidade para mudar o percurso do projeto sempre que necessário. Independente do seu nicho, imaginamos que estratégia seja um tema do seu interesse: então veja aqui 4 ferramentas estratégias capazes de ajudar empresas a antecipar cenários e solucionar problemas. Veja mais
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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