Conceito de sustentabilidade vem ganhando força globalmente e Brasil é um país estratégico para oportunidades de negócios.
Economia Circular (foto: Getty)
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Por Emily Nery
O modo de consumo linear – onde tudo tem começo, meio e fim – está fortemente enraizado em nossa sociedade. Mesmo sabendo que a grande maioria dos recursos do nosso dia a dia são finitos. Um estudo da Global Footprint Network de 2019 mostrou que, para manter nosso atual padrão de consumo, seria necessário 1,75 planeta Terra. E se essa lógica linear de tudo que está à nossa volta seguisse uma lógica circular? Ou seja, se tudo que usufruímos e jogamos fora ganhasse uma nova vida, um novo sentido, de modo que as matérias-primas pudessem ser usadas com mais sabedoria.
Isso é o que está por trás da economia circular, um conceito econômico que busca restabelecer a vida útil de tudo o que se produz através de diversas práticas e estratégias que tragam benefícios ao meio ambiente, à economia, ao mercado de trabalho e à sociedade.
Um dado de 2015 da consultoria Accenture estipula que a economia circular pode movimentar cerca de US$ 4,5 trilhões de dólares até 2030. Com a pandemia e o mundo precisando se fechar por um período, este prazo pode atrasar. Contudo, é certo que essa guinada irá acontecer.
Até então, você pode estar pensando “mas isso é reciclagem”. Parcialmente, este pensamento está correto: a economia circular comporta os vários Re’s e, entre eles, está a reciclagem. Contudo, essa atividade é somente um dos vários Re’s que formam os pilares do conceito. Ele também implica em:
Para que a economia circular traga benefícios diretos para o mercado empreendedor, toda a cadeia produtiva precisa ser estudada e repensada, de modo que não haja desperdício e tudo o que seria descartado possa ganhar um novo valor. O mais interessante é que essa forma de gerir a economia cabe em qualquer formato de negócio, em qualquer área e em qualquer setor.
No Brasil, a vasta maioria das empresas adota ao menos uma prática que se enquadra neste conceito. Conforme aponta um estudo da Confederação Nacional das Indústrias, 76,5% desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, como a reciclagem ou o reuso da água, por exemplo.
Deste número, a grande maioria (56,5%) otimiza processos com o intuito de reduzir o desperdício de materiais. Em seguida, 37,1% afirmam que já reutilizam insumos provenientes de reparo, sem a necessidade de jogá-los fora. Cerca de 24,1% dos entrevistados afirmaram que trocam resíduos entre empresas a fim de recuperar recursos. Já 22,9% aplicam o conceito para estender a vida útil do produto por meio da manutenção e ecodesign.
Além disso, cresce também o número de consumidores que se importam com a origem do produto. A CNI aponta que 38% dos entrevistados sempre verificam ou verificam às vezes se os produtos foram fabricados de forma “ambientalmente correta”. Ou seja, a atração e a fidelização do cliente está diretamente ligada à forma e os métodos empregados para fabricar o produto.
Por essência, a economia circular se baseia no ciclo de vida da natureza. Por isso, busca maneiras de consolidar uma indústria e sociedade conscientes que impactarão minimamente o meio ambiente.
Um relatório da Fundação Ellen MacArthur de 2019 aponta que a economia circular reduzirá em 40% os gases de efeito estufa gerados a partir da indústria de materiais até 2050. Já para a indústria de alimentos, o impacto é ainda maior. Utilizando as estratégias de circularidade, como a captura de gás carbônico no solo e a minimização das emissões de carbono da cadeia de suprimentos, é possível reduzir a emissão anual de carbono em 49% até 2050. Mas para isso, é preciso repensar a cadeia de ponta a ponta: reduzir o descarte, buscar práticas de regeneração do solo e de reuso da água.
Diversas aplicações no setor automotivo conseguem reduzir em 70% a emissão de gases poluentes até 2050. Algumas das soluções nesta área envolvem o reuso de componentes veiculares ao invés do seu descarte. Além disso, uma prática já implementada em grandes cidades também apresenta um papel ambiental fundamental: a carona e o compartilhamento de veículos será responsável por reduzir 66 milhões de toneladas de CO² até 2050.
Estudos apontam que outra tendência está na descoberta de materiais que tornem tanto a bateria, quanto o carro mais leve, de modo que ele consuma menos combustível ou eletricidade. O carro do futuro, portanto, é veículo leve, de vida útil longa, e provavelmente elétrico.
Como um país continental e extremamente diverso, o Brasil tem um enorme potencial de crescimento nesse setor. A economia circular vai crescendo à medida que investidores, legislações ambientais e a própria economia da empresa pregam por modelos de negócio inovadores e mais sustentáveis.
“É um caminho sem volta”, justifica Diego Iritani, CEO e fundador da Upcycle, consultoria em economia circular. Fundada em 2017, Diego afirma que uniu sua vontade de empreender à falta da aplicação deste conceito no Brasil: “percebi que a grande maioria das empresas davam um foco muito ultrapassado no tratamento de resíduos. Não traziam novos modelos de negócio, era um progresso ‘de fim de tubo’. Ao final, isso gerava um custo operacional a mais para a empresa”, conclui.
Em sua visão, agora é o melhor momento para se investir nessa área. Mesmo com a pandemia, ele conta que viu seus negócios crescerem em 100% no último ano. O interesse de grandes empresas nacionais e multinacionais pelo tema cresceu vertiginosamente, em especial as que têm capital aberto. “As empresas têm uma meta ambiental para cumprir, mas seu modelo de negócio não atende essa meta, mas a resolução precisa ser feita logo. Quem tiver a solução para só um problema capaz de alterar toda a cadeia produtiva já tem potencial para crescer”, argumenta.
Ações voltadas à economia circular são capazes de gerar fontes de emprego e renda. Uma pesquisa de 2018 da Comissão Econômica da América Latina e Caribe aponta que a transição das empresas para uma economia circular pode gerar cerca de 4,8 milhões de empregos para toda a região até 2030. De quebra, a Indústria 4.0 pode ser uma grande aliada a essa mudança, criando um leque de negócios que implementem a estratégia de forma democrática.
Um bom exemplo de oportunidade está nas consultorias e hubs de economia circular. Elas prestam serviços à grandes companhias que querem reestruturar suas cadeias produtivas. Além disso, a tendência é que o setor da logística reversa, cujo objetivo é dar valor ao material que viraria resíduo, ganhe força para os próximos anos. Consequentemente, poderá gerar uma série de novas ocupações.
Até fios elétricos podem ganhar uma sobrevida e virar um material totalmente diferente do original. Uma iniciativa em Fortaleza utiliza fiação elétrica no fim da vida útil para transformá-la em joias e acessórios exclusivos e personalizados. Parte do Projeto Enel Compartilha Empreendedorismo, o Grupo Giro Social é formado por 33 artesãs e visa fomentar a geração de renda e a independência financeira de mulheres por meio da economia circular.
Por trás do projeto, está Maria Eurilene Maciel da Silva, diretora do grupo. A administradora comenta que as biojoias começaram a ser produzidas em 2019, quando o grupo recebeu toneladas de cabos e fios da Enel que não podiam mais ser utilizados para o sistema elétrico. De acordo com Eurilene, as artesãs já tinham uma noção do reaproveitamento de materiais, uma vez que já produziam acessórios com sementes, giz e as tradicionais miçangas.
Com o intuito de trazer novas ideias para as peças, o projeto da Enel contratou uma designer de jóias que sugeriu a criação de acessórios utilizando desde pequenas pedras, borracha a até cobre derretido. Mesmo assim, “tudo que é novo, é difícil”, comenta a diretora. Alguns clientes torciam o nariz ao saber da procedência da matéria prima. Porém, assim que a iniciativa ganhou visibilidade nas redes sociais e televisão, a aceitação do produto aumentou exponencialmente.
Como as artesãs vendiam as joias em feiras itinerantes, estações de ônibus e shoppings, precisaram pausar as atividades durante a pandemia. Migraram, então, para as redes sociais, onde criaram uma pequena plataforma de e-commerce pelo Instagram. À medida que o projeto foi crescendo, o grupo passou a oferecer oficinas de artesanato e costura como forma de capacitar outras mulheres. “Para elas, é uma oportunidade de renda extra. Todas estão olhando com um olhar diferenciado para o lixo, de que tudo pode ser reaproveitado”, Eurilene relata.
Mirando o futuro, a diretora do Giro Social afirma que pretende levar a ideia de sustentabilidade aliada à beleza para fora do Ceará. Já aconteceu, inclusive, de algumas artesãs venderem suas peças no Rio de Janeiro e em Brasília. Para fortalecer o comércio, o grupo começou a produzir roupas jeans a partir de fardamentos que recebem pela Enel.
Você tem um projeto inovador de reciclagem de materiais? Está é a sua chance! A Enel quer saber a sua proposta de solução sustentável para painéis solares e medidores de energia. Acesse o site do Desafio de Economia Circular e envie sua proposta!
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