Solução no setor industrial visa fortalecer uma cadeia sustentável e usa até a tecnologia como forma de vender créditos de reciclagem
Embalagem reciclável (foto: Marcell Viragh/Unsplash)
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Por Emily Nery
É possível aliar desenvolvimento econômico com medidas de proteção ao meio ambiente? Sem sombra de dúvidas, essa questão representa um dos maiores desafios deste século. E cada vez mais, lideranças globais e locais buscam implementar projetos que reduzam o impacto negativo das atividades das empresas no nosso planeta, ao mesmo tempo que o setor possa também ser beneficiado com essa melhora.
Quando pensamos nessa questão, a reciclagem é uma das primeiras possibilidades que vem em mente, uma vez que gera menor dependência de matéria-prima virgem. Porém, o Brasil ainda caminha a passos lentos nesse setor.
Segundo um levantamento realizado pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) em 2020, por ano, o Brasil gera quase 80 milhões de toneladas de lixo e recicla apenas 4% do total. O impacto econômico é alto para o país, que perde cerca de R$ 14 bilhões a cada ano com a falta de reciclagem adequada desse resíduo.
Pensando na tentativa de implementar essas melhorias, diversas indústrias hoje buscam aderir ao modelo da Economia Circular, que visa gerar uma gestão mais eficiente dos recursos naturais existentes, priorizando insumos mais duráveis, reutilizáveis e renováveis.
Fundada em São Carlos em 1952, a Papirus começou quando a família Ramenzoni – empresa de fabricação de chapéus e camisas – resolveu produzir também a matéria-prima da embalagem de suas mercadorias. Porém, na época pós-guerra, faltavam produtos para montar tais embalagens. A solução foi criar uma fábrica de papel cartão que veio a se tornar a Papirus.
Vinte anos depois, em 1972, a empresa adquiriu uma nova fábrica de embalagens, localizada na cidade de Limeira (SP), onde passaram a usar material reciclado como matéria-prima. “Começamos reciclando a matéria prima naquela época. Isso era trabalhar no lixo”, comenta Christian Kroes, coordenador técnico de produto da Papirus.
Em um período em que pouco se falava de reciclagem, sustentabilidade e economia circular, a Papirus foi uma das primeiras indústrias a se basear e crescer com base na reciclagem.
Mas tudo começou a mudar na virada do século. No início dos anos 2000, iniciativas privadas junto ao governo começaram a ter preocupações efetivas com o meio ambiente. “Fazer uma matéria prima oriunda de resíduos passou a ser uma vantagem competitiva”, reitera Christian.
A empresa, então, passou a ser voltada totalmente para reciclagem e comercialização do papel cartão, solução que foi evoluindo até hoje, momento em que fabricam papel cartão para embalagens e aplicações gráficas ou fibras virgens.
A partir de 2010, quando o governo instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Papirus passou a agregar outros players em sua cadeia, tais como fabricantes, recicladores, gráficas e cooperativas. “Essa política ajudou a estruturar toda essa cadeia de fornecimento e distribuição, o que ajudou bastante a nossa atuação. Buscamos conhecimento, nos envolvemos em vários debates para ver a forma que colocaríamos a Papirus nesse cenário novo”, relembra o coordenador técnico da empresa.
Desse modo, eles recebem a matéria-prima de cooperativas e de gráficas (fibras pós e pré-consumo, respectivamente), produzem o papel cartão e enviam para gráficas, que por sua vez, fabricam embalagens para outras empresas. Essas marcas usam as embalagens para venderem seus produtos, que são encaminhados até o comércio.
Na casa do consumidor, essa embalagem é jogada fora e recuperada pelas cooperativas, que fornecem as fibras pós-consumo para a Papirus. E assim o ciclo se repete.
A empresa também enfatiza que toda a fibra virgem (que não é oriunda de reciclagem) provém de florestas renováveis.
A expertise da empresa em reciclagem aliada a uma cadeia funcional e circular, permitiu que a Papirus ingressasse em um novo modelo de gestão: a venda de créditos de reciclagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê que as companhias que comercializam embalagens devem coletar, pelo menos, 22% do produto pós-consumo e retorná-lo ao ciclo produtivo.
Contudo, não foram todas as marcas que enxergaram essa necessidade e conseguiram se adaptar. Embora a Política fosse nacional, ela só foi regulamentada em nove estados brasileiros.
Entretanto, a lei afirma que essas empresas têm três opções para estarem de acordo com as diretrizes. Ou elas podem montar uma cadeia própria de logística reversa, ou unir-se à coalizão de outras empresas de embalagens e ter uma logística reversa compartilhada, ou comprar créditos de reciclagem.
Na prática, as empresas passaram a terceirizar a obrigação de recolher os 22% de embalagens pós-consumo para cooperativas de catadores. No entanto, é necessário que uma certificadora faça essa mediação.
“A gente optou por incentivar essa terceira opção. Então, nos relacionamos com uma série de cooperativas que geram o crédito. Esse é o primeiro ente que traz a matéria pós consumo para o ciclo produtivo. Essa cooperativa emite uma nota fiscal, o primeiro localizador de crédito de reciclagem. Nós compramos esse material reciclável, pagamos o preço de mercado e compramos a nota fiscal dessa cooperativa”.
Para autenticar todo o ciclo, a Papirus fez uma parceria com a cleantech Pólen. “Ela certificou toda a cadeia de fornecimento e todos os fornecedores. Compramos os materiais e compramos as notas, e a Pólen, através de uma rede de blockchain, gera os créditos”.
Dessa forma, geram papel cartão feito a partir de matéria-prima pós-consumo. Esse papel cartão se torna embalagem e, quando o produto chega ao brand owner (o comprador dessa embalagem), os créditos também são fornecidos para ele.
Para os papéis gerados a partir de reciclagem, a empresa gera um selo com um QR Code. Esse selo leva a um site feito para o consumidor, com toda a informação sobre o processo de reciclagem, bem como a forma correta de participar deste ciclo.
É também uma forma de mostrar para o consumidor que a marcas que utilizam as embalagens da Papirus se posiciona no mercado como uma empresa sustentável e que busca mitigar seu impacto no meio-ambiente.
Dentro do portfólio de papéis cartão pela Papirus, eles possuem a linha Vita, que utiliza de 15% a até 100% de material reciclado. Quando o consumidor usa o papel, ele consegue ter acesso a porcentagem de fibras recicladas pós-consumo e a quantidade de fibras recicladas do próprio produto.
De janeiro até outubro, a empresa já utilizou 1.350 toneladas de produtos pós-consumo e 1.800 toneladas de material pós-industrial. “Se esse material fosse para aterros, por exemplo, ele geraria 5.700 toneladas de CO2. Tudo isso foi evitado, quando esse material voltou para a indústria”, comenta Christian.
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