Hora de colocar a rolha de volta na champanhe? Antes infalíveis, startups unicórnio estão sofrendo para não se desvalorizar a ponto de virar ex-unicórnio. Entenda a preocupação.
Ex-unicórnio – o medo que vem assombrando as startups. (Foto: GettyImages).
, Head de Conteúdo na Captable
8 min
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20 dez 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Em um aparentemente longínquo 2021 – em razão dos contrastes – as startups captavam rodadas cada vez maiores e mais frequentes de investimento, com mais unicórnios surgindo. Não havia negócio ruim. Lucro para que?
A corrida acelerada dos investidores, motivada pelas taxas de juros baixas em boa parte do planeta e uma prometida aceleração da digitalização em decorrência da pandemia, fez com que o valor de mercado – o valuation – das startups disparasse. Todo mundo queria uma fatia da pizza.
2022 mal havia começado e o sinal de alerta já soava em diversas startups. Os analistas de mercado avisavam: há uma bolha, as tendências macroeconômicas não são boas, startups devem rever seus modelos de negócio. Algumas fizeram ajustes logo no início, outras, pagaram para ver.
Quem havia captado rodadas de investimento recentes se sentiu mais tranquilo, talvez tenha realizado menos ajustes do que deveria. Aquelas que haviam captado mais cedo em 2021, ou até antes, e se preparavam para buscar uma nova rodada, sofreram. Muitas delas tiveram que amargar um down-round: captar por um valor menor do que a rodada anterior.
E não foram startups pequenas que sofreram o baque maior: a Klarna, uma das maiores fintechs do mundo, teve de aceitar um valuation de US$ 6,7 bilhões, depois de ter captado com um valor de US$ 45,6 bilhões. Outro caso foi o da Stripe, que saiu de US$ 95 bilhões para US$ 74 bilhões. A que chegou mais perto de perder o status de unicórnio foi a BlockFi, caindo de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão – o mínimo para ainda permanecer no clube dos unicórnios.
Apesar do tamanho, os unicórnios perderam o poder de negociação durante as rodadas: os investidores sabiam que as grandes startups que estavam captando em 2022 é porque, de fato, precisavam. Em geral, são negócios com intensa queima de caixa (cash burn) e que não poderiam atravessar o ano sem captar mais recursos.
Ao longo do próximo ano, segundo Vincent Harrison, analista do Pitchbook, “uma série de reduções nas avaliações dos negócios devem ocorrer ao longo do próximo ano”. Essa tendência começou a ficar mais clara no segundo semestre de 2022 – no primeiro semestre, as avaliações de mercado ainda se mantinham maiores que os números de 2020 e 2021, de acordo com o CBInsights.
Os valuations começaram a encolher de forma marcante a partir do segundo semestre, o que indica uma tendência de queda também para 2023. Quem deve sofrer quedas mais bruscas, segundo especialistas, são, de fato, os unicórnios.
Novamente, aquelas companhias que queimam muito caixa podem ser forçadas a realizar rodadas de investimento com desconto relevante no valuation. Quem conseguiu driblar o down-round em 2022 optou por prometer aos investidores um break-even mais imediato – tirando o pé do acelerador no crescimento.
Foi o caso da NotCo, que recebeu mais de US$ 70 milhões na última rodada, sem rebaixar o valuation. Para não correr o risco de precisar novamente de capital em pouco tempo, a NotCo já alegou que deve se tornar lucrativa em dois anos – o plano original previa atingir o break-even em cinco. Para isso, planeja sacrificar o crescimento e aumentar as margens.
Embora a história do ecossistema brasileiro de startups não tenha sido assolada de down-rounds em 2022, investidores e especialistas já preveem que o movimento internacional deve começar a acontecer também por aqui. Sinais disso foi a corrida dos unicórnios brasileiros para cortar custos e passar mais tempo sem captar investimento.
Ainda que tenham adiado a necessidade de abrir novas rodadas, o momento de voltar a sentar à mesa com os investidores, chegará. E isso, provavelmente, deve ocorrer em 2023 para vários negócios.
Das paredes para fora dos escritórios dos unicórnios o sinal mais claro dessa vontade de adiar as rodadas para tentar escapar de uma subvalorização do negócio foram as constantes demissões.
Os layoffs, como ficaram conhecidos, atingiram praticamente todas as grandes startups brasileiras. Nomes como, iFood, 99, Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart, Dock e Wildlife tiveram cortes em seus quadros de colaboradores em 2022.
As demissões foram somente o início da cadeia de cortes de investimento que as startups de estágio avançado já começaram a realizar. Durante todo o ano, aconteceram também desistências de expansão para outros mercados, cortes de verba de marketing e encerramento de produtos menos rentáveis – ou que ainda não geravam receita.
O mandamento interno se tornou olhar para o produto chefe e focar em extrair maior receita dele. Novos produtos ficaram restritos aqueles com potencial de gerar receita significativa em um curto espaço de tempo – e sem grandes investimentos.
A estratégia claramente mudou: ao invés de crescer a qualquer custo, a ordem agora é economizar a qualquer custo. Mesmo que cresça mais devagar. Tudo isso para a empresa não virar notícia ruim em grandes portais e não causar desconforto em quem investiu em rounds anteriores.
Em 2023 deve haver um aumento do apetite dos fundos de Venture Capital, portanto, o início de um novo ciclo de investimentos em startups deve ocorrer. Os segmentos destaque devem continuar sendo liderados pelas fintechs, já que ainda há largas oportunidades de revolução em outras áreas além dos bancos digitais, que receberam boa parte da atenção até o momento; healthtechs devem continuar em voga, mesmo após a pandemia; retailtechs devem aproveitar novas oportunidades depois do boom do e-commerce em 2021; e as climatetechs podem se tornar novas preferidas dos investidores – de olho no ESG e na atenção governamental global em soluções que possam auxiliar o planeta.
No próximo ano, os investimentos através das plataformas – crowdfunding – devem crescer exponencialmente, com investidores finalmente percebendo a virada de chave proporcionada pela Regulação 88 da CVM – especialmente, a possibilidade de negociar ações entre investidores e a chegada de negócios mais maduros, com rodadas maiores.
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Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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