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GreenV quer acelerar carros elétricos no Brasil

Startup desenvolve soluções inteligentes de mobilidade elétrica e já tem 1,5 mil postos de recarga EVs pelo país, além de parcerias com Porsche e BMW

GreenV quer acelerar carros elétricos no Brasil

greenV (foto: reprodução)

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ais do que uma tendência para os próximos anos, os carros elétricos já são uma realidade. Por operarem a partir de baterias recarregáveis, de energia renovável, os EVs são hoje um dos queridinhos quando o assunto é encontrar alternativas menos poluentes do que os carros convencionais. 

Não é à toa que o bilionário Elon Musk se tornou uma das pessoas mais ricas do mundo e a Tesla -que não foi fundada por ela, diga-se de passagem – foi a 1ª montadora da história a atingir a marca de US$ 1 trilhão de valor de mercado, valendo muito mais do que todas as suas concorrentes juntas. A fabricante vendeu quase 70% de todos os carros elétricos nos EUA em 2021, com 194.165 unidades emplacadas até agosto, de acordo com a Experian.

O Brasil acompanha a tendência. Em 2020, houve um aumento de 66,5% nas vendas de modelos eletrificados no país, em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). A previsão é que este número cresça ainda mais no próximo ano, à medida que empresas e pessoas adotem práticas mais sustentáveis de olho na preservação do planeta.

É nesse contexto que surge a GreenV, startup que desenvolve soluções inteligentes de mobilidade elétrica. Criada em março de 2018 por Junior Miranda, a mobilitytech tem 1,5 mil postos de recarga EVs pelo Brasil e tem como parceria com as montadoras Porsche e BMW.

Ainda em estágio inicial de amadurecimento, a companhia recebeu um aporte de R$ 22 milhões em setembro de um fundo norte-americano cuja identidade não foi divulgada. Os recursos serão utilizados para ampliar os postos de recarga pelo país e desenvolver novas soluções para frotas, montadoras, concessionárias e veículos pessoais.

Morgan não é nenhum novato quando o assunto é empreender. Graduado em marketing pela Université Paris Dauphine, ele lançou, em 2010 a RentAStudant, extinta plataforma que conectava universitários que precisavam de um dinheiro extra a pequenas empresas em busca de mão de obra. Dois anos depois, fundou a rede de encontros online Funster Club.

Mas sua experiência vem muito antes disso. Aos 15 anos ele já comandava – e lucrava com – o próprio site. “Disponibilizava várias músicas online e os usuários podiam baixar as que quisessem ouvir”. Uma estratégia um tanto nebulosa, mas que lhe garantiu os primeiros ensinamentos de como tocar um negócio.

A primeira vez que Morgan veio ao Brasil foi a turismo. “Cheguei numa época quase de burnout, precisava muito tomar um ar. Não aguentava mais Paris e, por isso, decidi tirar férias”. Não demorou muito para que ele se apaixonasse pelas pessoas, a natureza e a cultura brasileira.

Junior Miranda, fundador da GreenV

COMO TUDO COMEÇOU

Junior é engenheiro por formação, graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), mas, contrariando a velha rixa humanas vs exatas, atuou na área de marketing durante 10 anos. “Durante todo esse período tive vontade de empreender, tendo a tecnologia como o DNA de um futuro negócio”, diz.

A virada aconteceu em 2011, quando fundou a AZ HOME, empresa de automação residencial e predial com soluções de câmeras de segurança, fechaduras biométricas e digitais, alarmes, sistemas de sonorização, entre outros. O contato com o tema da sustentabilidade veio 2 anos depois, quando a companhia lançou produtos para aumentar a eficiência energética, como placas fotovoltaicas, torres eólicas e – a grande sacada – carregadores de carros elétricos.

“Lançar o braço de sustentabilidade foi um divisor de águas”, comenta Junior. O movimento foi tão significativo que para escalar os negócios o empreendedor decidiu criar a marca AZ Energy, com foco na promoção da sustentabilidade por meio da tecnologia.

A empresa começou com o pé direito. Em 2014, ficou responsável por lançar os veículos elétricos i3 e i8 da BMW no Brasil e eletrificar todas as concessionárias BMWi. Depois, vieram contratos com a EnelX para lançar o Nissan Leaf (2019) e com a locadora de veículos Movida, para implementar os pontos de recarga para a frota elétrica da companhia. 

“Com o tempo, percebemos que, em termos de eletromobilidade, o mercado precisava de mais coisas além da a eletrificação e da instalação de carregadores”, diz Junior. A inquietação fez com que o empreendedor buscasse a aceleradora 10X Digital, do empreendedor Mauro Amaral Jr, para criar um spin-off da AZ Energy dando origem à GreenV, fundada com o apoio do empreendedor Marcos Nogueira.

“Uma companhia que assume o legado da AZ Energy com a instalação de carregadores, mas expande os negócios como um hub de mobilidade”, diz Junior

Criada em março de 2018 a partir da empresa-mãe, a mobilitytech ficou responsável por lançar o veículo Porsche Taycan e eletrificar todas as suas concessionárias. O modelo já é o mais vendido na categoria 100% elétrico no Brasil em 2021, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

Carregadores greenZ em parceria com a Movida (foto: reprodução)

MAIS INOVAÇÃO

A GreenV não pretende pisar no freio. Com o caixa reforçado, a startup quer aumentar o portfólio de produtos e serviços, criando pelo menos 70 inovações até 2025. A primeira delas é um aplicativo mobile que indica onde estão os pontos de recarga para veículos elétricos da marca. O app deve ser lançado ainda este ano e, com o tempo, ganhará novas funcionalidades. 

“Um dos recursos será uma espécie de Uber com profissionais de elétrica”, antecipa o fundador da GreenV. Com a ferramenta, o cliente que precisar instalar um carregador poderá solicitar o serviço e, instantaneamente, encontrar profissionais disponíveis para o serviço e próximos geograficamente. Segundo o executivo, a rede de colaboradores recebe treinamentos e certificações para garantir o melhor serviço aos clientes.

Também está nos planos um carregador wireless para veículos elétricos e a possibilidade de integrar as funcionalidades do app dentro do carro. “O motorista poderá acessar todas as funcionalidades, inclusive buscar os pontos de recarga, sem precisar abrir o celular enquanto dirige.”

Outra novidade é o hardware IoT conectado ao carregador. “Hoje, a maioria dos aparelhos disponíveis no mercado são do tipo dumb chargers (carregadores burros), porque eles só carregam”, diz Junior. Já os inteligentes funcionam como um mini cérebro. Não só ligam e desligam o carregador, como também fazem a leitura de medições de corrente, tensão e potência, reunindo todas as informações na nuvem para otimizar a gestão.

“Sabemos que há uma necessidade latente por ensino de eletromobilidade. Então, vamos lançar a GreenV Academy”, anuncia o empreendedor, em referência a uma escola com cursos técnicos e teóricos sobre o mercado. A ideia é compartilhar informações sobre transição energética e desenvolvimento do setor no Brasil, além de capacitar aqueles que queiram prestar serviços na área. 

No médio prazo, a intenção é levar as operações para fora do país. A GreenV já instalou um de seus carregadores no Paraguai e, a partir do ano que vem, deve começar a explorar outros lugares da América latina. “O software é escalável, o que facilita o processo. Já estamos conversando com outras montadoras para executar o plano”, diz Junior.

CRISE ENERGÉTICA

Falar de crise energética no Brasil não é uma novidade, causada, em grande parte, pela alta dependência (cerca de 65,2%, segundo relatório de 2020 do Ministério de Minas e Energia em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética) que temos das hidrelétricas. De um lado, vantagens: o uso de recursos naturais e a redução das emissões de gases poluentes.

Do outro, desafios: uma forma de gerar energia que está à mercê das mudanças climáticas, refletidas na falta de chuvas e baixa no nível dos reservatórios. Com o risco de apagões e racionamento no fornecimento de eletricidade, fica a dúvida se o país está pronto para suportar o aumento dos EVs, que aumentarão a demanda por eletricidade. 

“Todo ano temos, em algum nível, uma crise energética, por causa da baixa dos reservatórios. No entanto, isso não é algo perene”, argumenta Junior. O empreendedor explica que o investimento nos EVs vem acompanhado do aumento da energia solar fotovoltaica, gerada pela conversão da luz em eletricidade.

A adesão à energia solar cresceu 44,3% no primeiro semestre de 2021, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).como uma alternativa à crise hídrica e aos reajustes na conta de luz. A GreenV enxerga o movimento como uma evolução saudável para o setor, com novas oportunidades de geração de energia.

“Se o Brasil transformasse hoje toda a sua frota de 50 milhões de veículos em carros 100% elétricos, teríamos um impacto de 3% a 8% na demanda de energia, uma porcentagem muito pequena”, diz Junior. A questão é que a mudança não será de uma única vez. É um processo gradual e de longo prazo, com previsão de acontecer apenas em 2030 ou 2040, quando a situação do país já não será a mesma e alternativas às hidrelétricas devem continuar se fortalecendo. “Tudo isso indica que estamos sim preparados para suportar a evolução dos carros elétricos.”

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