Entenda o crescimento exponencial dos conhecimentos da medicina e os desafios para absorvê-los em tempo recorde
Médico e tecnologia (foto: Getty)
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Por Belisa Frangione
Que a medicina evoluiu muito de uns tempos para cá, todos podem perceber. Ao longo dos anos, muitas doenças foram erradicadas; outras, consideradas incuráveis, agora são facilmente tratáveis. Mesmo alguns quadros clínicos considerados irreversíveis já conseguem receber tratamentos paliativos que promovem todo o conforto necessário para pacientes e familiares.
Um dos estudos que tratam dessa evolução é o Challenges and Opportunities Facing Medical Education (em português, “Desafios e Oportunidades Enfrentados pela Educação Médica”), de autoria do médico Peter Densen, especialista em doenças infecciosas na cidade de Iowa, nos Estados Unidos.
Ele aponta que o tempo necessário para todo o conhecimento médico dobrar em 1950 foi de 50 anos; em 1980, foram 7 anos; já em 2010, 3,5 anos. Em 2020, a projeção era de 0,2 anos - apenas 73 dias. Ou seja, a cada dois meses e meio, o conhecimento médico no mundo dobra.
Imagine que, dessa forma, os alunos que iniciaram a faculdade de medicina no outono de 2010 teriam aproximadamente três duplicações de conhecimento quando concluírem os 7 anos de treinamento mínimo necessário para a prática da medicina.
Embora a publicação do artigo tenha sido em 2011, Densen enfatizou que os desafios eram de longo prazo. “Enfrentar esses desafios requer liderança institucional decisiva com vistas a 2020 e além - o período em que os atuais matriculados começarão suas carreiras”. E o médico nem podia imaginar o que a medicina teria de encarar em 2020.
O conhecimento na medicina, historicamente, tradicionalmente, sempre foi baseado na experiência. É sobre visualizar um fenômeno e esse fenômeno se repetir, ocorrer novamente e ser entendido desta forma. E assim era repassado também o conhecimento: visualizando o que acontecia, vendo os padrões e as repetições que definiam os diagnósticos. A partir de um determinado momento, houve uma grande evolução, que começou a acelerar o processo de construção do conhecimento.
“A partir da Renascença, quando houve a curiosidade de se entender melhor o corpo humano, começou a se criar o que se chama hoje de método científico ou método cartesiano, ou seja, testar para se validar. Quando esse método foi aplicado mais amplamente dentro da medicina nos últimos 100 anos, e mais intensamente nos últimos 50 anos, aí então a medicina deu um salto muito acelerado na construção do conhecimento”, explica o professor Alberto Arbex, Coordenador da Pós-graduação em Endocrinologia da Faculdade Ipemed Afya e Doutor em Obesidade pela FIOCRUZ Rio.
Na visão do professor, a medicina baseada em evidências é uma forma de se construir o conhecimento através das probabilidades e do melhor método científico disponível atualmente, o que nos aproxima ao máximo da verdade, embora a verdade na ciência nem sempre seja absoluta. “É esse espaço entre a verdade absoluta e a verdade momentânea relativa é que a gente está buscando cobrir cada vez mais com pesquisas”.
Hoje, há muitos desafios a serem enfrentados na área de educação médica. O professor Arbex os divide em internos e externos. Os principais desafios internos se referem em primeiro lugar à tecnologia que é usada no ensino médico e que está em constante evolução.
Arbex detalha que a técnica de ensino médico tem evoluído muito rapidamente. Embora a maioria das faculdades no Brasil ainda utilizem o método tradicional de apenas repassar a informação, a IPEMED AFYA -- e toda essa estrutura nova que está entrando no mercado de ensino médico -- está passando por uma transformação, ensinando através de casos clínicos e tomadas de decisões clínicas. Esse é o método mais moderno que Harvard utiliza e se trata de um grande desafio interno que é reestruturar o ensino para ele se tornar mais interessante para os alunos.
Por outro lado, uma outra questão do desafio interno é como os alunos se apresentam dentro do ensino médico.
Atualmente, eles buscam soluções mais rápidas e mais objetivas.
A ideia antiga de simplesmente olhar para um livro texto e estudar para aprender já não cabe totalmente dentro do modelo mais moderno de ensino.
“Os alunos trazem como desafio interno uma demanda por conhecimento mais prático, rápido e objetivo e nós professores de medicina buscamos oferecer aos alunos uma estrutura mais moderna de ensino que não envolva simplesmente falar e usar o giz na tela, mas sim trazer o aluno para a tomada de decisão clínica”.
Já os desafios externos enfrentados pela educação médica de graduação envolvem a sociedade como um todo. Hoje, enfrentamos desafios clínicos e de pesquisa em ensino médico, como a obesidade que até há 20, 25 anos não eram relevantes e hoje são essenciais nos desafios do tratamento médico.
“As novas tendências falam muito mais sobre mudar o estilo de vida do paciente do que simplesmente trazer uma medicação nova. Falam muito mais em trazer o paciente para dentro do acompanhamento clínico do que oferecer externamente a ele uma terapia com uma cápsula, um comprimido ou uma radiação. Esse desafio de interagir, fazer interagir o conhecimento médico com a pessoa, com o paciente que está à nossa frente, é um dos maiores desafios que a gente procura resolver atualmente”, pontua o professor.
Para Arbex, há 100 anos, o conhecimento médico era, comparado ao que temos hoje, extremamente simplificado. “Por exemplo, na endocrinologia, as pessoas morriam de diabetes logo após o diagnóstico. Hoje, você trata a diabetes como uma doença crônica. Da mesma forma, a rapidez na formação do conhecimento transformou o HIV, a infecção por um vírus que era novo na época, em uma doença crônica hoje em dia. Então a rapidez com que se avançou na construção do conhecimento médico, contribui para a evolução da própria humanidade”.
Mas é possível observar, no entanto, que a construção do conhecimento ficou muito cara e acabou concentrada nas mãos de quem tem condições financeiras de construir esse conhecimento.
O professor explica que são necessárias pesquisas e investimentos de grande magnitude e que isso estaria concentrando o conhecimento cada vez mais nas mãos de grandes empresas, grandes holdings, grandes grupos de saúde, que são quem pode pesquisar hoje em dia, o que traz um certo viés de interesses.
“Por exemplo, hoje em dia se pesquisa muito nas áreas de tratamento do câncer, de doenças cardiovasculares, e se pesquisa pouquíssimo as doenças raras porque poucas pessoas que pagam por tratamentos. Tratamentos pouco prevalentes não recebem o devido investimento e isso não facilita a construção do conhecimento”.
Embora o médico tente organizar as informações que chegam até ele, a gente percebe no dia a dia que fica um pouco sem base para saber no que acreditar. Se a informação é ou não científica. Isso decorre de certa forma dessa aceleração intensa do conhecimento. “Uma nova informação, muitas vezes, sai mais rapidamente no rádio do que em uma revista médica. Isso dificulta passar a informação para a população de maneira mais organizada”, acrescenta Arbex.
A educação médica, de fato, procura ser feita de maneira organizada para que o aluno primeiramente tenha aquisição da informação básica, depois o conhecimento intermediário, e, posteriormente, complemente com a prática clínica. Se a informação clínica, que é o terceiro nível da informação, modifica-se enquanto o aluno está aprendendo as primeiras fases do ensino médico, isso desorganiza um pouco a compreensão da estrutura de informação médica.
O que preocupa a comunidade médica é que, muitas vezes, a informação leiga, não científica e sem embasamento, entra no meio desse caminho científico. Então a gente vê em determinados momentos alunos recebendo informações de fontes que não são fidedignas, não são científicas, não são baseadas em evidências.
“A gente não pode deixar de dizer que o excesso de informações não é um problema exclusivo da medicina e sim de toda a sociedade atual. Enquanto a gente se perde em excesso de informações no WhatsApp e nas mídias sociais, a gente deixa de olhar para as questões essenciais da nossa vida, que são a família, a alimentação, a atividade física, o estilo de vida. Estamos nos perdendo no que é não essencial. Isso está ocorrendo com rapidez e é de certa forma o contrário do que a gente espera que a tecnologia nos traga”, lamenta o professor.
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Sabemos que a medicina está evoluindo rapidamente e a IPEMED acompanha essa evolução. Afinal, somos parte do maior grupo de educação médica do país e referência no ensino de pós-graduação e aprimoramento médico, oferecendo tudo o que há de mais moderno na medicina para você evoluir na sua carreira.
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