Depois de analisar anos de exames médicos, IA entregou previsões que passaram despercebidas pelos profissionais de saúde.
Laboratório de saúde (foto: Getty)
, Jornalista
4 min
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29 abr 2022
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Atualizado: 19 mai 2023
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Por Camila Petry Feiler
Na Eurocopa de 2021, o jogador dinamarquês Christian Eriksen, de 29 anos, teve uma parada cardíaca súbita e caiu desacordado no meio do jogo. Ele sobreviveu, mas apenas cerca de 10% das pessoas escapa depois de uma parada cardíaca assim. O susto foi grande e levantou algumas dúvidas, inclusive: por que? Diferente do ataque cardíaco, que acontece quando as artérias são bloqueadas, a morte súbita cardíaca (MSC) é um problema elétrico, que impede o coração de bater corretamente.
O súbito no nome leva a crer que aparentemente surge do nada, mas uma nova inteligência artificial, desenvolvida pela professora Natalia Trayanova, da Universidade Johns Hopskins, pode detectar a doença até 10 anos antes da eclosão.
Publicado na Nature Cardiovascular Research, a perspectiva apresentada pela IA é de melhora de vida dos pacientes, com um tratamento adequado, evitando mortes que podem ser previstas e mudando a relação como os médicos lidam com a doença hoje.
Por que? Chistian Eriksen, jogador que passou mal no jogo, teve um desfibrilador implantado, um aparelho similar a um marcapasso que regula a frequência cardíaca, procedimento padrão para quem tem predisposição à doença. A dificuldade, entretanto, é saber quem de fato corre o risco – sem passar pelo o que o jogador passou. O problema? Muita gente acaba implantando o desfibrilador, que pode ser só um incômodo desnecessário. Do outro lado, muitos nem têm acesso ao diagnóstico nem a possibilidade do tratamento.
Durante a pesquisa, a equipe médica reuniu e treinou uma máquina com o histórico médico e exames de 156 pacientes que disponibilizaram 10 anos de registro. Nesse processo, foi possível perceber padrões ocultos, ou seja, que não seriam vistos por médicos só com os exames.
Por exemplo, perceber como o tecido cicatricial e outros componentes do coração dos pacientes os tornam predispostos à MSC. Nesse processo, outra IA foi construída para entender como o tabagismo e outros fatores afetam essa probabilidade. Com o software fechado, os pesquisadores validaram com dados de pacientes de 60 centros de saúde nos EUA.
A perspectiva que isso abre é oferecer uma estimativa personalizada em relação ao MSC em qualquer ano dentro do período de 10 anos, permitindo que médico e paciente pensem nas melhores saídas. Se o risco é alto, um desfibrilador pode salvar a vida. Se for um risco baixo, de acordo com a IA, a saída pode ser um acompanhamento recorrente, medicações e mudanças no estilo de vida sem necessariamente incluir cirurgia.
Ter acesso a esse tipo de informação é menos sobre um cenário fatalista e mais sobre as possibilidades de um quadro individualizado. O papel do médico, nesse contexto, se torna de orientar caminhos com as possibilidades que existem, prezando por qualidade de vida, balizado por dados acurados e mais seguros.
Ao poupar pessoas de cirurgias desnecessárias e sofrimento prolongado, existe uma economia de recursos, ou melhor, recursos melhor utilizados e direcionados. Assim como em outras áreas, na saúde a tecnologia avança e é fundamental que os profissionais acompanhem, avaliem e coloquem em prática.
A equipe de Natalia Trayanova continua treinando algoritmos para detectar outras doenças cardíacas. Segundo ela, em entrevista ao ActuIA, o conceito de deep learning pode ser desenvolvido para outras áreas da medicina que contam com diagnóstico visual. O que será que ainda vem por aí?
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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