Saiba como funciona a indústria têxtil e quais são as inovações para o setor
Mulher em mesa com computador e tablet (foto: valentinrussanov/Getty)
, jornalista
8 min
•
28 abr 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Sabrina Bezerra
Os tempos de não pensar em uma indústria da moda mais responsável ficaram para trás. Agora, consumidores e investidores pressionam startups e grandes empresas do segmento a seguir a Agenda ESG.
E um movimento desse não pode ser ignorado. Afinal, a indústria têxtil e de confecção nacional teve um faturamento de quase R$ 194 bilhões em 2021, segundo a Abit (Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção). Um setor gigante que está correndo na busca por inovação.
Descubra agora como funciona a indústria da moda e quais são as tendências para o setor. Assim, você terá insights do que deve e não fazer para empreender e inovar o seu negócio do segmento da moda. Vemos nessa?
Sabe a roupa que você está vestindo? Ou que você vende no seu e-commerce? Provavelmente percorreu quilômetros antes de ser sua. Isso porque o vestuário tem uma longa cadeia produtiva.
A começar pelo fio: alguns são algodão, lã, linha e seda provêm da natureza, outros são sintéticos. O algodão, por exemplo, é plantado no campo, depois segue para a fiação, lavagem e tingimento. Na sequência, vai para a confecção (é nesta etapa que a roupa ganha forma). Por fim, segue para o mercado, responsável por vender para o consumidor final. Um longo caminho repleto de conexões que podem causar um grande impacto no mercado e também no planeta.
Um impacto direto é de que a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, ficando atrás apenas do setor petroquímico. Para você ter uma noção da grandiosidade do problema, ela é responsável por 20% de toda produção de esgoto mundial e de 10% de todo carbono emitido.
O impacto vem em sua maioria das fibras sintéticas — como o poliéster e o nylon. Elas são feitas com matéria-prima não renovável e são termoplásticas. Isso é ruim para o meio ambiente, já que aumenta o efeito estufa, por exemplo. Outro ponto que vale destacar é que esse tipo de tecido tem uma decomposição de centena de anos. Como o poliéster, que demora cerca de 400 anos para se decompor.
Por isso mesmo, quando o assunto é moda, se tornou uma obrigação da empresa — seja do b2b ou b2c — e do consumidor buscar soluções mais conscientes. Seja com reciclagem ou na procura por tecidos sustentáveis. O objetivo é claro: gerar menos impacto para o meio ambiente.
Uma das fibras naturais mais usadas no mundo é o algodão convencional. São usadas, por exemplo, em malhas e jeans. Contudo, mesmo sendo uma fibra natural, pode ser prejudicial para o meio ambiente por conta da grande quantidade de água e agrotóxico usados.
Mas o cenário está mudando. Segundo Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa, houve uma redução de 90% na dose dos defensivos agrícolas em comparação com a década de 1960. “É, no entanto, um caminho difícil. Pois, o 'bicudo-do-algodoeiro' — a principal praga dos algodoeiros nas Américas — é difícil de controlar. Mas, estamos buscando formas alternativas [sem o uso de agrotóxico], como por exemplo, defensivo de origem biológica."
Ainda de acordo com o especialista, a plantação de algodão orgânico — o tipo que não usa nenhum agrotóxico e pesticida — é o sonho de todo agricultor. “No entanto, justamente por conta do 'bicudo-do-algodoeiro', não é tão simples", diz.
Por outro lado, Busato diz que o algodão sustentável é uma alternativa em prol da sustentabilidade. Não à toa a Abrapa criou em 2012 o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) para incentivar uma produção mais sustentável de algodão no Brasil.
“O ABR trata-se de uma certificação para os produtores brasileiros de algodão que atendem às diretrizes de sustentabilidade do Brasil e do mundo (saiba mais no tópico sobre rastreamento)”, conta em entrevista à StartSe Silmara Ferrarezi, gestora do Movimento Sou de Algodão.
A título de curiosidade, o Movimento Sou de Algodão, da Abrapa nasceu com o objetivo de despertar nas pessoas e nas empresas a importância em torno da moda e do consumo responsável. Hoje tem mais de 900 parceiros — que vão das áreas de fiação até a marca final. O número deve saltar para 1200 até o final de 2022.
Outras fibras naturais estão se tornando tendência. Uma delas é a fibra de cânhamo, também conhecida como 'hemp'. A fibra vem da cannabis. Além de ser produzida facilmente de forma orgânica, é biodegradável.
Para você ter uma noção, o mercado de cânhamo deve movimentar cerca de US$ 10,6 bilhões até 2025. Em 2019, faturou US$ 4,58 bilhões, de acordo com a consultoria, de acordo com um relatório publicado pela Grand View Research.
Ok. A gente sabe que a palavra cannabis faz você lembrar de maconha. Mas as duas são diferentes, tá? Isso porque, o cânhamo possui menos de 0,3% de Tetrahidrocanabinol (THC) — responsável pelos efeitos psicoativos — já a flor da maconha tem 30% a mais da substância em sua composição, segundo a Associação Nacional do Cânhamo Industrial (ANC).
Um exemplo de empresa qua trabalha com o tecido é a Vicunha Têxtil. A marca lançou no Brasil uma linha de jeans feitos com cânhamo e algodão. O fio de cânhamo usado é importado da China.
Hoje, se você é do segmento da moda, é importante que você saiba que o consumidor quer saber quem está por trás da criação — em toda a cadeia: quem planta, quem produz, quem vende. Ou seja, você precisa saber como é o modelo de trabalho dos seus fornecedores, afinal, a responsabilidade também é sua.
De olho nisso, a solução encontrada para facilitar essa jornada — e que é uma tendência que veio para ficar — é o rastreamento por meio de blockchain. “Desta forma, é possível saber o caminho que o algodão certificado percorreu”, afirma Silmara.
A Certificação ABR avalia 178 itens de verificação de 8 critérios: contrato de trabalho, proibição do trabalho infantil, proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas, liberdade de associação sindical, proibição de discriminação de pessoas, segurança, saúde ocupacional, meio ambiente do trabalho, desempenho ambiental e boas práticas.
Vale lembrar que a escravidão ainda acontece na indústria têxtil e da moda. O Índice de Escravidão Moderna (2018) aponta que US$ 354 bilhões de dólares em itens produzidos sob essa violação tem o risco de serem importados por países do grupo G20.
A Reserva é uma das marcas parceiras a participar do MVP do rastreamento da Abrapa. "Trabalhar em prol de um impacto cada vez mais positivo, garantindo relações de trabalho justas e produção responsável, é crucial para nos mantermos de pé como uma marca adequada ao nosso tempo”, explica Fernando Sigal, diretor de produto da Reserva em comunicado.
Outro exemplo de empresa que usa a rastreabilidade para oferecer transparência para o público é a C&A. A empresa fechou parceria com a startup especializada em desenvolvimento de blockchain Blockforce. O objetivo é monitorar a produção de cada peça.
Buscar alternativas menos prejudiciais ao meio ambiente faz a sua empresa ser eco-friendly: quando a marca é amiga do meio ambiente. “Uma empresa ecoeficiente é aquela que reduz os impactos ambientais nos sistemas de produção através de práticas de redução e otimização”, diz o Sebrae.
Seguir os pilares de ESG virou uma obrigação. No caso da indústria têxtil e da moda, foi-se o tempo que as marcas que vendem diretamente para o consumidor não tinham a obrigação de conhecer — e divulgar para a clientela — as práticas de trabalho ambientais, sociais e de governança de seus fornecedores e, claro, as suas próprias.
Afinal, clientes e investidores querem saber, de fato, como funciona toda a cadeia de produção. Quanto mais a companhia estiver dentro dos fundamentos do ESG, maior será a probabilidade de atrair o olhar de investidores e de fidelizar o cliente.
Nessa, a inovação e tecnologia — que vão de tecido sustentável ao rastreamento do produto — se tornam ótimos aliados.
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Sabrina Bezerra, head de conteúdo na StartSe, possui mais de 13 anos de experiência em comunicação, com passagem por veículos como Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios, ambos da Editora Globo.
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