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Lá Fora: Como é o hub de tecnologia da Loggi em Portugal

Unicórnio aumenta seu centro em Lisboa e quer ser um dos maiores contratantes de tech no país

Lá Fora: Como é o hub de tecnologia da Loggi em Portugal

Baú flex da Loggi (foto: divulgação/Loggi)

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Em meio à briga cada vez mais ferrenha por talentos em tecnologia, a Loggi está desenvolvendo seu escritório em Portugal como forma de atrair e manter profissionais. Nos próximos dois anos, a empresa tem ambições de se tornar um dos maiores contratantes no país em áreas como engenharia de software, produto e experiência do usuário. 

O unicórnio de logística abriu seu hub de tecnologia em Portugal em janeiro de 2021. O lançamento do escritório foi antecedido por meses de preparativos chefiados por Eduardo Thuler, vice presidente de produto e site lead da Loggi, que chegou em Lisboa em outubro de 2020. Atualmente, o escritório emprega 80 pessoas de 16 nacionalidades, e pretende chegar a 150 pessoas até o fim de 2022. 

A motivação da startup para criar um time no velho continente partiu da constatação de uma fuga de cérebros para a Europa, tanto internamente quanto em empresas próximas, bem como a possibilidade de acessar um pool de talentos mais amplo, segundo Eduardo. “Entendemos que, ao invés de sofrer com esta fuga, poderíamos tanto expatriar brasileiros que queiram sair do Brasil, quanto trabalhar com brasileiros e outras nacionalidades que já estivessem na Europa”, conta o executivo, em entrevista ao Startups. 

Em relação ao local, a escolha de basear o hub de tecnologia em Portugal tem diversos motivos. “A cultura e o idioma ajudam, bem como o custo de vida, o clima agradável. Também há o fato de Portugal ter um foco muito grande em ser um centro de tecnologia, com eventos relevantes como o Web Summit e um visto específico para profissionais da área. Estar em Lisboa faz sentido por uma soma de fatores”, pontua Eduardo. 

Falando sobre a vantagem para profissionais, o VP diz que a empresa oferece uma oportunidade interessante de avanço profissional e pessoal. “É uma experiência de expatriação bem mais tranquila do que para países como a China, por exemplo. Ao mesmo tempo, é uma experiência de vida muito forte, em um ambiente bastante seguro, um clima agradável e uma cultura que é razoavelmente familiar”, acrescenta o diretor da Loggi. “Além disso, é uma chance de trabalhar com pessoas super inteligentes, e de gerar muito impacto na logística do Brasil.”

QUAIS FORAM OS APRENDIZADOS NA CRIAÇÃO DO HUB

Em pouco mais de um ano, a Loggi teve uma série de aprendizados em relação a criar um time de tecnologia longe da nave-mãe. A empresa precisou aprender tudo sobre como expatriar funcionários, incluindo aspectos como o tipo de apoio disponível para as famílias dos colaboradores, bem como o processo de visto e onboarding de funcionários em Portugal.

Do ponto de vista do escritório internacional, o processo do hub de tecnologia em Portugal incluiu desde os trâmites burocráticos, desde a abertura formal da empresa, até o trabalho com empresas de recrutamento. “Usamos os processos do Brasil, depois começamos a desenhar isso melhor”, diz Eduardo. Ele acrescenta que uma decisão importante tomada logo no início foi trazer “sementes” do Brasil para Portugal.

“Acreditamos muito na cultura forte da Loggi e não queríamos que [o escritório português] virasse um lugar diferente, tampouco esvaziar o escritório [do Brasil]. A ideia é justamente aumentar o pool de talentos, ao invés de perder pessoas”, ressalta.

A empresa então faz uma busca interna por pessoas que tinham interesse em emigrar, e selecionou quatro funcionários que fizeram a mudança. Estes profissionais serviram como agentes polarizadores da cultura, e ajudam a criar pontes entre os times nos dois lados do Atlântico.

Outro aprendizado do hub de tecnologia da startup de logística foi abolir o requisito da língua portuguesa. “Pensamos que [remover o requisito do português] seria uma boa ideia, e que ter engenheiros de software que falassem só inglês também funcionaria. Este experimento está indo super bem,” ressalta.

Avaliando a trajetória do hub até agora e pensando em coisas que poderiam ter sido feitas de uma forma diferente, Eduardo diz que teria removido a exigência de fluência em português antes. “Foi um posicionamento de valor”, diz o executivo. “Também colocamos muita energia em buscar pessoas do Brasil que quisessem vir para cá no começo. Depois, descobrimos que aqui já tem muitos talentos, e passamos a focar em encontrar pessoas que já estão aqui.”

O VALOR DA DIVERSIDADE

Considerando os times de Portugal e do Brasil, a função de produto, dados, design e software da Loggi conta com 400 pessoas. Segundo Eduardo, a ideia é que esta organização chegue em 1,000 pessoas, mas o executivo não especificou o prazo em que isso deve acontecer.

Sobre como o time do hub de tecnologia de Portugal contribui para os objetivos da operação da Loggi no Brasil, Eduardo diz que o jeito de trabalhar das equipes segue o formato que se vê em empresas do Vale do Silício, com times de expertises técnicas e de negócio atuando em squads.

Em comparação ao time brasileiro, o hub de Lisboa conta com profissionais com um um nível de senioridade um pouco mais alto e uma perspectiva global, segundo Eduardo. “Uma consequência de termos vindo para [Portugal] é que a gente ficou mais internacional, e prezamos ainda mais pela ideia da diversidade”, aponta o diretor da Loggi, ressaltando que isso faz diferença do ponto de vista comercial.

“[Mais diversidade] não é um desejo inocente para o mundo da logística. A diversidade tem muito valor quando a gente entende a realidade de cada lugar que vamos entregar e aprendemos a lidar com essas realidades de um jeito muito diferente. Ficamos uma empresa muito mais forte”, pontua.

Aprender estes valores através de culturas internacionais tem um valor interessante, especialmente no que diz respeito à futuras operações da Loggi fora do Brasil, diz Eduardo. “À medida em que a gente quer abrir operações internacionais, é muito provável que esse conhecimento será útil. Mas nesse momento, todo mundo está construindo tecnologia para a logística do Brasil.”

TRABALHANDO COM TEMAS COMPLEXOS

Temas sobre os quais o time de Portugal da Loggi tem se debruçado incluem faturamento, uma área que a startup tem encontrado dores do crescimento, principalmente com o aumento de clientes usando a empresa para entregar pequenos volumes. “Antes, tínhamos um time que emitia notas fiscais para estes clientes de forma manual. Isso funciona quando eu tenho dez clientes, mas quando quero ter 100,000 clientes, tenho que ter software para fazer isso”, diz Eduardo.

Outros desafios que a empresa resolve a partir de Lisboa incluem frentes como o modelo de preços da startup. Segundo Eduardo, isso considera as ambições da Loggi de entregar pacotes de qualquer tamanho de qualquer ponto do Brasil, com formas diferentes de coleta e entrega: “[Precificação] é um problema razoavelmente complexo que antes era resolvido por tabelas no Excel, e agora construimos software para fazer isso. Queremos entregar mais valor nas soluções, trazendo alguns destes problemas para cá.”

A complexidade dos desafios que a startup quer resolver no setor de logística é um diferencial que posiciona a Loggi como um empregador interessante, diz Eduardo. “Problemas do mundo da logística são muito complexos por definição e são estudados na academia há muitas décadas. A boa notícia é que o mundo de engenharia gosta muito de problemas desafiadores,” diz Eduardo.

Segundo o executivo, muitos dos colaboradores do hub de tecnologia em Portugal da Loggi são mestrandos e doutorandos, que estão ajudando a empresa a fortalecer suas conexões com a academia na Europa, alem de trazer talentos mais sêniores. Por outro lado, a Loggi também se enxerga como organização formadora de talentos, e acabou de rodar em Portugal um piloto do programa Future PMs. A iniciativa é focada no desenvolvimento de gerentes de produto sem experiência prévia, e já teve três edições no Brasil.

Outro aspecto enfatizado pela Loggi no recrutamento na Europa é o formato de trabalho. Segundo Eduardo, a empresa deixou seus times à vontade para escolher entre um modelo híbrido, em que colaboradores passam boa parte do tempo no escritório e parte do tempo em casa, ou remoto, ou seja, sempre em casa. “Explicamos para as pessoas sobre os dois modelos e deixamos claro que elas podem mudar de opinião ao longo do tempo”, pontua.

Trabalhar em meio à pandemia e absorver estes aprendizados também tem sido um dos maiores desafios do hub de Portugal da logtech. A empresa precisou mudar de escritório para reconfigurar o espaço físico para responder às demandas do novo mundo do trabalho, e acabou de se mudar para o bairro turístico do Rossio. Além disso, há a adaptação a um ambiente de trabalho cada vez mais multicultural.

“Temos gente de muitos países diferentes em nosso time. A forma como um egípcio trabalha é um pouco diferente [do modus operandi] de um brasileiro, por exemplo. Quando esses grupos aprendem a trabalhar juntos, as diferenças aparecem um pouco, mas ao longo do tempo, o time fica muito mais rico”, conclui.

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