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29 jan 2021
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Atualizado: 11 out 2023
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O mundo e, consequentemente o mercado de trabalho, está passando por uma grande mudança – postos de trabalho e indústrias inteiras estão se expandindo e se contraindo em um ritmo alarmante, e as habilidades necessárias para ocupar praticamente qualquer trabalho estão se transformando. Nesse contexto, a crença que a maioria das pessoas tem de que a aprendizagem só é efetiva quando associada a uma educação formal está caindo por terra nos últimos anos.
O brasileiro passa cerca de dez anos na educação formal – considerando escola e universidade -, e durante esse período, a principal tarefa é aprender e absorver tudo o que esses ambientes têm a oferecer. A maior parte do tempo é gasto dentro das salas de aula, adquirindo novos conhecimentos, mas quando a fase de educação acaba muita gente acredita que o tempo dedicado a aquela atividade se esgotou. É uma ideia errônea, mas absorvida por muitos, pelo menos subconscientemente.
De um modo geral, é verdade que a educação formal e as qualificações resultantes dessa prática são importantes e ainda valorizadas no mundo de hoje – ela pode maximizar o potencial de uma pessoa encontrar empregos melhores, oferecer estabilidade financeira e sucesso na carreira escolhida. Mas de acordo com Ana Maria Diniz, uma das fundadoras do movimento Todos Pela Educação, educar uma pessoa desde pequena, e por apenas parte da vida dela, para que a mesma exerça uma função específica durante o resto a sua existência não faz mais tanto sentido hoje quanto antigamente.
“O modelo de ensino tecnicista do século 20 que predomina até hoje, definitivamente, não prepara ninguém para o trabalho e para a vida no século 21”, diz a especialista em um artigo publicado no Estadão. Com isso em mente, a crença de que a escola não é o único provedor de aprendizado, bem como a ideia de que a escolaridade é apenas um tipo de aprendizado dentre diversas oportunidades de aprofundar conhecimentos e desenvolver habilidades ao longo da vida, começa a ser disseminada na sociedade.
Nesse contexto, surge o conceito de lifelong learning – aprendizagem ao longo da vida, em tradução livre -, termo que se refere a busca “contínua, voluntária e auto-motivada” do pela atualização conhecimento, seja em âmbito profissional, acadêmico ou pessoal. Segundo a Lifelong Learning Council Queensland (LLCQ), uma instituição que dissemina o conceito ao redor do mundo, a ideia de lifelong learning é definida como “um aprendizado que é perseguido durante a vida: um aprendizado que é flexível, diverso e disponível em diferentes tempos e lugares. O lifelong learning cruza setores, promovendo aprendizado além da escola tradicional e ao longo da vida adulta”.
Apesar de ser um termo bastante difundido, e muitos profissionais o conhecerem, o lifelong learning ainda não é tão aplicado no dia a dia. Para mudar esse cenário e colocar o conceito em prática, o primeiro passo é se desprender da educação formal e reconhecer que o aprendizado não se limita à infância, adolescência ou início da vida adulta de uma pessoa – ele pode ocorrer ao longo de uma trajetória e em uma variedade enorme de situações.
De acordo com Filippo Ghermandi, CMO e cofundador da Clara, essa pessoa que optar por adotar essa prática se torna, automaticamente, o eterno aprendiz. “Não no sentido pejorativo de ser um iniciante para sempre em algo, mas de estar sempre buscando novos aprendizados e experiências. O lifelong learner foge do modelo formal de educação. Ele não precisa de ensino imposto via tarefas, pois é auto-motivado para buscar as experiências que interessam a ele”, explica.
Ainda segundo a Lifelong Learning Council Queensland, o conceito se baseia em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. Em primeiro lugar, é preciso “aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos – ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida”, explica Jacques Delors no livro Educação: um tesouro a descobrir. Além disso, de acordo com ele, é preciso aprender a fazer, não só no âmbito profissional, mas de uma maneira mais abrangente, a fim de tornar a pessoa apta a enfrentar situações adversas e trabalhar em equipe.
No terceiro pilar, a pessoa precisa compreender as interdependências existentes dentro de um projeto para que, no futuro, ela seja capaz de entender o outro e gerenciar conflitos, levando em consideração os valores do pluralismo. Por último, o indivíduo precisa “aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal”, explica Delors.
Carl-Benedikt Frey e Michael Osborne, da Universidade de Oxford, calcularam, em 2013, que 47% dos empregos existentes nos Estados Unidos são suscetíveis à automação. Em uma outra possibilidade, dessa vez menos apocalíptica, James Bessen, um economista da Universidade de Boston, diz que os efeitos da automação em profissões impulsionará o crescimento de cada uma. Isso ocorre porque a automação tende a afetar apenas tarefas específicas dentro de uma ocupação, ao invés de eliminar a profissão na sua totalidade.
A afirmação de James Bessen é comprovada – automação parcial pode aumentar a demanda e até mesmo reduzir os custos. Mas nem tudo são flores, nem mesmo na possibilidade menos apocalíptica do futuro. Ainda que a tecnologia não destrua empregos, ela força a mudança de mindset em muitas pessoas, que hoje precisam adquirir novas habilidades à medida que as estabelecidas se tornam obsoletas.
A obsolência, inclusive, é um problema que afeta, de uma maneira negativa, diversas pessoas no mundo atual. Hoje em dia, o conhecimento humano médio dobra a cada 13 meses, e a IBM prevê que no próximo ano, o volume de informações duplicará a cada 11 horas. Frente a esse cenário, o diploma universitário, que ainda hoje é um pré-requisito para muitos empregos, começa a ser encarado como algo que inspira pouca confiança nos empregadores na hora de contratar uma pessoa.
A ideia de achar que o diploma universitário já não é mais tão necessário assim, ao contrário do que muitos pensam, já está tomando forma em todos as áreas da sociedade. De acordo com uma pesquisa recente, conduzida pelo Pew Research Center, apenas 16% dos americanos pensam que um curso de quatro anos prepara os alunos para um trabalho de alto rendimento na economia moderna, e 54% acreditam que será essencial desenvolver novas habilidades ao longo de sua vida profissional; entre os adultos com menos de 30 anos, o número sobe para 61%.
A saída para não ser “substituído por uma máquina”, certamente, não será encontrada em uma educação que se baseia em métodos tradicionais, e nos dias de hoje, o lifelong learning se apresenta como a melhor opção para quem deseja manter seus conhecimentos e habilidades atualizados para a Nova Economia.
Nos últimos anos, o lifelong learning se tornou um imperativo econômico, principalmente em países desenvolvidos, e é fundamental para se manter atualizado em qualquer que seja a área de atuação. Mas não só. Além de ser algo considerado essencial na Nova Economia, a ideia de “estudar por toda a vida” traz uma série de benefícios para quem colocá-la em prática.
Quanto mais uma pessoa aprende ao longo da vida, mais ela será mais capaz de se adaptar às mudanças da Nova Economia – que exige flexibilidade e capacidade de improvisação em situações inesperadas. Nesse contexto, o lifelong learning traz muitos benefícios porque, além de manter o profissional qualificado durante toda a sua carreira, abrirá sua mente para novas possibilidades e suas conexões e redes de contato se fortalecerão, bem como habilidades naturais e outras skills.
Para as empresas, o lifelong learning representa uma mudança consistente no perfil do seus funcionários – que se tornarão mais versáteis e adaptáveis na hora de desempenhar funções diversificadas.
Há um tempo atrás, as pessoas poderiam terminar a faculdade e teriam toda a educação que precisavam para o resto de sua jornada profissional – realidade que hoje já não é mais possível. As habilidades que estavam na vanguarda há cinco anos estão provavelmente desatualizadas, e os trabalhos que estarão no auge na próxima década talvez nem existam ainda. Para se manter competitivo nesse mercado e, potencialmente, ganhar mais dinheiro, a pessoa precisa aprender a estudar por si só. Não apenas o lifelong learning pode ajudar as pessoas a ganharem mais dinheiro no seu emprego tradicional, como também pode ser a porta de entrada para alguém iniciar seu próprio negócio.
Ser capaz de se conectar com os outros não apenas torna uma pessoa mais interessante, mas também a faz mais influente. Quando maior a sua base de conhecimento, diferenciado, mais o líder será capaz de conhecer quem está ao seu redor e maior será o estoque de soluções à disposição para resolver problemas e superar desafios, internos ou externos.
Em seu livro, Drive, o autor Dan Pink argumenta que as pessoas precisam de três coisas para se sentir motivadas e satisfeitas com a vida: autonomia, domínio e propósito. Tornar-se um lifelong learner satisfaz todas essas três necessidades psicológicas.
Quando alguém é um autodidata, ao invés de ser um consumidor passivo de conhecimento, ele estará ativamente escolhendo o que aprendeu. Em outras palavras, essa pessoa é autônoma. Ao aprender novas habilidades, ela desfrutará do sentimento positivo que vem com a maestria e, consequentemente, se encontrará com um sentido renovado de propósito na vida ao estabelecer metas para sua própria educação.
Hoje, o mundo se move muito mais rápido do que há cinco ou dez anos, e há mais concorrência do que nunca. A grande maioria das pessoas, inevitavelmente, sente como se estivesse ficando para trás se o investimento em si mesma não é contínuo e, com a chegada da geração mais jovem ao mercado de trabalho, novas habilidades brilham aos olhos dos empregadores. Nesse contexto, para os empreendedores, a aprendizagem ao longo da vida é fundamental para o sucesso a longo prazo.
Se uma pessoa trabalha em uma grande empresa, ela colide com novas experiências, ideias e habilidades, e acaba sendo forçado a adotá-las. Da mesma forma, se uma pessoa cria o seu próprio negócios, ela se encontrará, frequentemente, executando atividades sem as habilidades fundamentais – como contabilidade, finanças e marketing. A medida que as demandas para esse empreendedor crescem, o mesmo procurará trabalhar as habilidades necessárias para que, no futuro, seja possível desempenhá-las sem nenhum problema.
Atualmente, muitos dos renomados empreendedores, como Mark Zuckerberg e outros visionários da tecnologia, compartilham uma coisa em comum: nenhum diploma universitário. Esse fato não surpreende muito a indústria, uma vez que, agora, há mais donos de empresas independentes sem um curso de quatro anos do que aqueles com diploma de bacharelado ou superior, diz uma pesquisa realizada pela CNBC e pela SurveyMonkey.
O lifelong learning se tornou fundamental para o sucesso dos empreendedores na Nova Economia, e parece que os millennials já perceberam isso. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Manpower, em 2016, 93% dos millennials estão dispostos a gastar seu próprio dinheiro em treinamento adicional durante sua trajetória profissional, seja necessário ou não.
Com a correria do dia a dia, muitas pessoas acabam usando a desculpa de “não ter tempo suficiente” para não se dedicar aos estudos. Porém, o que muitos não sabem é que, com o lifelong learning, a pessoa consegue aproveitar os poucos minutos que sobram do seu dia e encaixar a educação como quiser. Além do tempo, a barreira do dinheiro é apontada como um fator crucial para não estudar – mas, graças as novas soluções oferecidas hoje, é possível aprender qualquer coisa completamente de graça, ou por um custo muito baixo.
Essas e outras barreiras, como a localização, apontadas como desculpas para não embarcar no lifelong learning são fáceis de serem superadas. Com a internet, a pessoa pode assistir a uma aula em casa, no metrô, no parque ou em qualquer outro lugar que quiser, e até mesmo tirar dúvidas com o instrutor por vídeo, mensagens de texto ou áudio.
Em primeiro lugar, para se tornar um lifelong learner, a pessoa precisa estar consciente da necessidade de continuar aprendendo e das vantagens que isso trará a ela e, invariavelmente, promover uma mentalidade de crescimento e mudar sua ideia de aprendizado. Com isso em mente, ler, desenvolver habilidades em ambientes não necessariamente criados para isso e tentar coisas novas são bons começos para quem quer se desprender do ensino tradicional de sala de aula e adquirir novas skills.
Um bom ponto de partida é o estabelecimento metas de aprendizado, contemplando habilidades e conhecimentos que deseja adquirir ao longo do tempo. Na hora de planejar seus objetivos, a pessoa precisa prestar atenção para não ser muito exigente consigo mesmo ou, por outro lado, permanecer na sua zona de conforto. Essa tática, além de ajudar a monitorar e controlar o que foi aprendido, incentiva as pessoas a aprenderem o máximo possível em pouco tempo.
Além disso, se questionar, praticar a teoria e até mesmo ensinar o que foi aprendido a outras pessoas também é são bons pontos de partida para começar a aprender durante toda a vida.
A partir da ideia de lifelong learning, surgiram os Curso Online Aberto e Massivo, do inglês Massive Open Online Course (MOOC), um tipo de curso criado como um alternativa para as plataformas educacionais tradicionais. Os MOOCs, que são disponibilizados em ambientes de aprendizado abertos e online, buscam atingir o maior número de pessoas possível e, para isso, oferecem conteúdos de maneira dinâmica.
Scott DeRue, reitor da Ross School of Business da University of Michigan, diz que a separação do conhecimento em conteúdos menores o lembra de outra indústria: a música. As músicas costumavam ser agrupadas em álbuns antes de serem desagregadas pelo iTunes e pelos serviços de streaming, como o Spotify. Na analogia de DeRue, a formação é o álbum, o conteúdo do curso que está disponível gratuitamente em MOOCs é o serviço de streaming, e uma “microcredencial” como o nanodegree ou a especialização é paga para o iTunes. Ou seja, nesse contexto, assim como a indústria da música, o ensino tradicional terá de se reinventar para agradar o novo consumidor.
Atualmente, de acordo com um levantamento, divulgado em janeiro deste ano, o número de MOOCs ultrapassou 9,4 mil com 78 milhões de usuários inscritos em algum curso até o final de 2017. No Brasil, há uma longa lista de universidades que oferecem os serviços gratuitamente, nas mais variadas áreas, cobrando apenas pelo certificado. Além disso, empresas como Udemy, EdX Coursera, Udacity, Veduca e nós da StartSe decidiram entrar nesse mercado e monetizar esse tipo de aprendizagem. Aqui, acreditamos que uma educação continuada é a chave para o desenvolvimento pessoal!
Há um outro modelo de MOOCs em voga no mundo: os corporativos. A integração desses cursos como parte da cultura corporativa pode ser benéfica para ambas as partes. Ao criar MOOCS, as empresas podem gerar imagem de marca e, ao utilizar cursos já existentes, não duplicam esforços no treinamento de funcionários que passam menos tempo a cada vez. Para os funcionários, isso lhes proporciona um valor agregado em seus currículos, mostrando proatividade e disposição para aprender e eles podem ser valorizados como parte da aprendizagem ao longo da vida dentro da empresa.
Fala-se muito da aprendizagem ao longo da vida, embora poucos países estejam fazendo muito a respeito. Ao contrário da maioria, Cingapura decidiu dar o pontapé inicial e reivindicar a abordagem com a sua iniciativa SkillsFuture. Como parte do programa, os empregadores da cidade-estado foram solicitados a explicitar as mudanças que esperam que aconteçam nos próximos três a cinco anos em seu setor e identificar as habilidades necessárias para os trabalhadores do futuro.
A partir dessas informações, desde janeiro de 2016, todos os cidadãos de Cingapura com mais de 25 anos receberam um crédito de US$ 345 dólares, que poderia ser usado para pagar por qualquer treinamento oferecido pelos mais de 500 provedores aprovados, incluindo universidades e MOOCs. Apesar de promissor, de acordo com Ng Cher Pong, executivo-chefe da SkillsFuture, os retornos sobre isso dependem da mudança da mentalidade em torno de uma contínua requalificação.
Apesar do sucesso da iniciativa, dado o tamanho e o sistema político de Cingapura, essa abordagem não é facilmente replicada em outros países. Mas ainda é possível extrair lições. Faz sentido para os empregadores, particularmente os menores, se unirem para sinalizar suas necessidades de habilidades para a força de trabalho em geral. Além disso, a medida que exemplos como o de Cingapura aparecem, é possível imaginar maneiras pelas quais esse tipo de educação pode se tornar mais acessível e acessível para todos os cidadãos.
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