Rodada da Marvin foi liderada pelo fundo americano Canaan e aconteceu nos termos que a companhia queria, mesmo com cenário menos favorável
Pagamento de comida com cartão (foto: Getty)
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Em novembro/21, a fintech Marvin, que quer transformar os recebíveis de cartão em um meio de pagamento, começou a ser abordada por fundos para fazer uma nova rodada de investimento. Com o caixa cheio do seed feito em agosto, e com o cenário do mercado favorável, a decisão foi por adiar esse movimento. Em fevereiro, quando decidiu dar o passo, a situação já estava diferente.
“Em janeiro e fevereiro vimos o late stage desacelerar. Daí montamos o nosso deck e, 2 semanas depois veio a guerra na Ucrânia”, relembra Bernardo Vale, cofundador da Marvin. Para compensar o mal-humor do mercado, a companhia ampliou o leque de conversas com investidores. Foram 126 reuniões em 30 dias com gestores em toda parte do mundo.
No final, ao contrário do Marvin da música dos Titãs, a rodada deu pé e saiu do jeito que a companhia havia planejado. Em sua série A, a fintech levantou US$ 15 milhões a um valuation não revelado, mas que não trouxe uma diluição exagerada. O aporte foi feito majoritariamente pelo fundo americano Canaan, que já investiu na Instacart e no Lending Club e tem 70 IPOs no currículo.
É a 1ª vez que eles lideram uma rodada na América Latina. Canary e Mauá Capital, que já eram investidores, acompanharam. Também entraram investidores-anjo como o brasileiro Carlos Selonke (CIO do Revolut), Juan Ortega (cofundador do Rappi), Israel Salmén (da Méliuz), Lucas Amoroso (fundador da Lupa Capital) e Doug Scherrer (ex-CFO do Nubank).
De acordo Bernardo, o aporte chega para destravar o crescimento da companhia. O plano passa, principalmente por trazer pessoas mais experientes para a operação. A ideia é começar por cima e depois ir para a base. Mas o número de funcionários deve apresentar um crescimento explosivo. O aumento deve ficar entre 20% e 30% nos próximos meses. Atualmente a companhia tem 54 pessoas.
“Não vamos fazer nenhuma loucura de contratações. Não precisamos ter uma equipe enorme”, reforça Bernardo, destacando o fato de o negócio não ser tão intensivo em capital.
Em termos de desenvolvimento de produtos, o fundador diz que o plano é não ousar muito. “Somos muito conservadores nesse sentido. A obstinação é na execução, deixar o produto de pagamentos redondo. Parece simples, mas tem uma grande jornada no meio do caminho. Tem muita coisa pra fazer pra ficar como a gente quer”, diz.
A Marvin nasceu sob o contexto das novas regras para o mercado de recebíveis no Brasil. Com o fim da exclusividade das adquirentes sobre essas obrigações, a ideia é transformar os recebíveis em um meio de pagamento que pode ser usado pelos lojistas. O modelo de atuação é de venda para grandes indústrias, que abrem caminho para oferta do serviço à sua rede de relacionamento.
Hoje são 26 clientes, com um total de 400 mil pontos de venda. Bernardo não revela o tamanho da base ativa no momento, mas diz que a meta é chegar a 1 milhão. “Para isso, precisamos ter 1 ou 2 milhões, o que passa por aumentar a base de clientes. Se isso vai acontecer em 2023, ou 2024 a gente não sabe. O importante é manter a cadência de crescimento”, diz.
Na avaliação do fundador, o fato de a Marvin não operar na concessão de crédito – o risco é do dono da maquininha – reduz muito a exposição da operação, o que deixa a fintech em uma situação mais confortável no atual momento.
Outro fator que joga a favor é que, com a alta dos juros, a tendência é que haja um aumento na busca por alternativas à antecipação de recebíveis tradicional, o que deve tornar mais fácil a conversa com os lojistas. Com esses predicados e sem uma estratégia de crescimento a qualquer custo, Bernardo diz acreditar que a Marvin se coloca em um bom caminho para continuar levantando recursos mesmo em um cenário mais desfavorável. Mas o momento é de ser consciente no uso de caixa e, segundo ele, uma nova captação ainda não está no radar.
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