Entenda os desafios que a eletrificação da frota de veículos brasileira enfrenta e o potencial de crescimento desse mercado em diferentes cenários.
mobilidade-quando-carros-eletricos-chegam-de-vez-ao-brasil. (Foto: GettyImages).
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10 min
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30 ago 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Victor Marques
O mundo estabeleceu a meta de zerar as emissões de carbono até 2050, para apoiar a meta, um fator é essencial: a eletrificação da frota de veículos mundial. Para isso, há, mundialmente, 400 modelos híbridos planejados para lançamento até 2025. A aceleração também já é percebida nos números de venda, enquanto em 2010 apenas 1 milhão de carros elétricos foram vendidos em todo planeta, em 2020 foram 8,4 milhões - desses, 1,9 milhão foram carros totalmente elétricos.
Na Europa, a legislação também já está alinhada à meta mundial: o parlamento europeu determinou como 2035 o prazo para que todas as montadoras deixem de produzir e vender carros a combustão. A região já apresenta números animadores de adoção dos veículos elétricos - pelo menos um terço dos carros vendidos na Europa em 2021 são eletrificados, esse número inclui carros híbridos (que não podem ser recarregados, mas carregam baterias com o movimento do carro), híbridos plug-in (que podem ser recarregados) e veículos 100% elétricos.
Frente ao cenário mundial e europeu, o Brasil ainda está longe do nível de popularidade, mas, a direção natural, é que o país caminhe para uma aceleração da adoção desse tipo de veículo nos próximos anos. A ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos) afirma que 13899 veículos elétricos/híbridos/híbridos plug-in foram registrados nos primeiros seis meses de 2021. No comparativo anual, a venda de carros elétricos disparou 66% no país.
A aceleração no país, segundo a BorgWarner, empresa multinacional americana, é explicada por algumas tendências: maior autonomia dos veículos elétricos, maiores investimentos em pontos de recarga - incluindo supermercados e postos de gasolina -, redução do IPVA para veículos elétricos - em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Maranhão e Pernambuco -, e queda nos preços dos veículos.
Algumas montadoras já dão passos ousados no mercado nacional: a Volvo deixou de oferecer modelos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel, fazendo do Brasil o segundo país do mundo onde a marca encerrou as vendas de carros com motores a combustão. Em questão de acessibilidade, a JAC Motors passou a oferecer o carro elétrico mais barato à venda no Brasil: O E-JS1 tem preço sugerido de R$ 149.900 e é o primeiro resultado da união da JAC Motors e da Volkswagen.
A popularização dos veículos elétricos depende dessa redução constante dos preços praticados pelas montadoras e - é importante notar - esse não é um problema exclusivo do mercado brasileiro. O alto preço dos veículos é resultado da presença de mais tecnologia embarcada, puxando para cima a média dos preços dos veículos elétricos quando comparados aos modelos a combustão. A esperança é que, a exemplo da Europa, as montadoras consigam reduzir o custo de produção e repassem a economia aos clientes.
Mas, ainda assim, serão necessárias outras iniciativas para baratear os veículos no Brasil, como a redução dos gastos de produção. Por exemplo, fabricar os carros nacionalmente reduziria o valor, mas acarretaria em custos iniciais altos, com investimentos em fábricas e especialização da mão de obra. Outra solução seria a implementação de novos incentivos fiscais para garantir um ambiente de negócios mais favorável.
No horizonte, já há alguns indicativos de que os impostos devem reduzir. Mesmo os carros elétricos importados devem se favorecer de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul que propõe zerar a alíquota para importar os veículos em até oito anos, em uma queda consistente que já deve iniciar em 2022 - com a maioria dos automóveis do tipo sendo produzidos na Europa, deve haver forte queda nos preços.
A atratividade dos veículos elétricos deve ter um ponto de virada decisivo: a paridade. Ou seja, o ponto em que o custo de comprar e utilizar um carro elétrico seja o mesmo de um carro a combustão. É importante notar que esse ponto é calculado com o custo total de propriedade do carro em mente, considerando preço de combustíveis, variação de taxa de câmbio, custo da aquisição, financiamento, substituição da bateria, manutenção e IPVA.
Considerando esse custo total de propriedade, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) estima que a paridade entre um carro flex com um carro 100% elétrico depende, especialmente, da quantidade de quilômetros rodados. Ou seja, o custo-benefício está diretamente relacionado ao uso: numa utilização de 60 mil quilômetros anuais, por exemplo, um carro médio (segmento C) passa a ter paridade de custo total de propriedade em 2024, um compacto (segmento B) em 2025. Em comparação, uma utilização de 12 mil quilômetros ao ano garantirá equiparação em 2035 para um carro compacto e 2031 para um carro médio.
As previsões também são impactadas pela postura que o país adotará nos próximos anos. A Anfavea, junto ao Boston Consulting Group, estima que, caso o Brasil tenha uma posição inercial no mercado - ou seja, não haja grandes incentivos - chegaremos a 2030 com 12% da frota eletrificada e em 2035 com 32%.
Em um segundo cenário, caso o Brasil adote uma postura de convergência global - adotando políticas similares às de países desenvolvidos -, teremos 22% dos veículos eletrificados em 2030 e 62% em 2035. O cenário prevê investimentos do país na eletrificação, com incentivos de produção e compra, além do apoio das montadoras que aplicariam as mesmas estratégias globais por aqui.
Em ambos os cenários, os motores a combustão ainda representarão a maioria dos veículos em 2030 - 86% ou 76% do mix -, mas os carros movidos somente a gasolina praticamente desaparecem do mercado. Tomando o seu lugar, os veículos híbridos (híbridos, híbridos plug-in, híbridos leves, 100% elétricos e com célula de combustível) se tornam cada vez mais relevantes.
Para suportar o crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil outro ponto relevante serão os investimentos em infraestrutura, principalmente de carregamento. O problema da autonomia dos veículos elétricos já foi ultrapassado - existem modelos à venda que podem circular mais de 300km em uma carga e alguns que ultrapassam os 400km de autonomia, como o Chevrolet Bolt. O que prejudica o alcance dos veículos elétricos é a falta de investimento em infraestrutura.
Embora cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba já contem com uma boa oferta de pontos de recarga, a maioria deles fica em locais privados - apesar de muitos terem uso gratuito. Em comparação com grandes capitais mundiais, como Roma e Londres, o país ainda está muito atrás - as capitais contam com diversos carregadores rápidos espalhados pelas ruas, o que facilita a adoção dos carros elétricos.
Os pontos de carregamento hoje são majoritariamente responsabilidade das montadoras: empresas como Volvo, Nissan e Enel são algumas das que mais investem em infraestrutura de recarga no país. Dependemos, no entanto, do crescimento de players independentes, que ofereçam estações de recarga para diferentes marcas e padrões de carregamento, a exemplo do que a ChargePoint fez nos EUA e na Europa - que hoje já contam com mais de 30 mil estações de recarga da ChargePoint.
Parte do caminho que o Brasil precisa percorrer para reduzir as emissões de gás carbônico é a eletrificação dos veículos - para isso o país precisará da instalação de pelo menos 150 mil carregadores, com custo estimado de R$ 14 bilhões.
Embora ainda haja desafios a serem superados para que o Brasil se destaque como uma potência dos carros elétricos, é inegável que o caminho natural é a eletrificação. Com diversas montadoras definindo prazos para a finalização da produção de carros a combustão, o futuro do setor automotivo é - de fato - elétrico. Com avanços na eficiência energética e tecnológicos, o ambiente para a popularização dos veículos do tipo no país é inegavelmente fértil.
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Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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