Netflix nasceu como uma locadora online de DVDs e inovou a criar o maior streaming do mundo. Entenda a estratégia, as decisões e os aprendizados da empresa.
Fachada da sede da Netflix nos EUA (foto: Cameron Venti/Unsplash)
, Redator
13 min
•
5 out 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Tabatha Benjamin
A Netflix reduziu o preço de alguns de seus pacotes de assinatura em mais de 30 países. A notícia foi divulgada pelo The Wall Street Journal.
Para você ter uma noção, em algumas regiões a diminuição chega em até 50% do preço do que era até então cobrado. O Brasil não está na lista, de acordo com a CNN.
O corte de preços seria em países do Oriente Médio, incluindo Iêmen, Jordânia, Líbia e Irã. E no Quênia, na África, e Croácia, Eslovênia e Bulgária, na Europa.
A estratégia acontece depois de algumas semanas que a Netflix anunciou seus planos de ganhar mais dinheiro com assinantes de compartilhamento de senhas no Canadá, Nova Zelândia, Portugal e Espanha. De acordo com as novas regras, espera-se que os assinantes paguem mais por qualquer pessoa que use sua assinatura e viva fora de sua casa “principal”.
Por que importa? Assim, o foco passa a ser atrair e fidelizar clientes em meio ao crescimento da concorrência no mercado de streaming.
Agora, relembre a história da Netflix:
Reed Hastings é cofundador da Netflix. Ele abandonou o cargo de CEO, que ocupava há 25 anos. Agora, o executivo ficará como presidente do Conselho. Seus sócios Ted Sarandos e Greg Peters vão comandar a empresa.
“Esse é um movimento interessante. Afinal, dentre as empresas tech mais badaladas, poucos fundadores ocupam ainda o cargo de CEO. Talvez o mais expressivo ainda seja Mark Zuckerberg, na Meta”, diz Junior Borneli, fundador da StartSe, em seu LinkedIn.
“Novos momentos exigem novas habilidades. E a consciência de entender qual é a hora de abrir espaço para outras pessoas é fundamental. Reed Hastings cumpriu seu papel. Assim como Bill Gates, na Microsoft, Larry e Sergey, no Google, Jeff Bezos na Amazon e tantos outros que já passaram o bastão”, completa.
Acredite se quiser, a história desse gigante do streaming começou em 1997, quando Reed Hastings e Marc Randolph tiveram uma ideia: alugar DVDs pelo correio. Eles fizeram um teste enviando um DVD para seu próprio endereço, em Scotts Valley, na Califórnia, e deu certo.
No ano seguinte, surgiu o Netflix.com, o primeiro site de compra e aluguel de DVDs e, em 1999, foi criado o serviço de assinatura, que permitia os assinantes alugarem DVDs ilimitados e sem data para devolução, multa por atraso ou limite mensal.
Um ano depois, o site incluiu um sistema de recomendações personalizadas capaz de predizer as escolhas dos espectadores com base em suas avaliações sobre filmes já alugados (seria isso já uma amostra dos algoritmos atuais?). E em 2002, a Netflix abriu seu capital (IPO), vendendo cada ação por US$ 1 na NASDAQ, a bolsa de valores de Nova York, com o código NFLX.
O serviço de streaming que permitia os assinantes assistirem a filmes e séries instantaneamente foi introduzido em 2007, revolucionando a indústria do entretenimento, e alcançou 10 milhões de assinantes em dois anos.
A Netflix é uma plataforma de streaming de filmes e séries. Ou seja, um serviço que permite que usuários assistam a conteúdos online de forma instantânea, sem a necessidade de fazer download. Para isso, basta escolher um plano que melhor se adeque ao seu perfil e fazer a assinatura.
E não para por aí! A empresa já começou a incluir jogos de videogame em seu catálogo, mercado que está em alta e fatura R$ 600 bilhões ao ano. Para liderar essa nova frente, contratou Mike Verdu, ex-executivo da Electronic Arts, uma das maiores distribuidoras de games para consoles, computadores e dispositivos móveis.
Para jogar, os usuários não pagam um valor adicional. Basta ser assinante do tradicional streaming para jogar cinco jogos: Stranger Things: 1984 (BonusXP), Stranger Things 3: The Game (BonusXP), Shooting Hoops (Frosty Pop), Card Blast (Amuzo & Rogue Games) e Teeter Up (Frosty Pop). Por enquanto, está disponível para celulares e tablets do sistema Android.
De um site para aluguel de DVDs ao streaming, a Netflix foi pioneira e, desde sua fundação, seguiu evoluindo no meio digital, na contramão da principal cadeia de vídeos à época de sua fundação, a Blockbuster, por exemplo.
“Tínhamos o palpite de que a internet um dia seria veloz o suficiente para as pessoas assistirem a filmes e séries”, contou Reed Hastings em entrevista à Veja. E a aposta rendeu bons frutos. Em 2005, surgiu o YouTube, demonstrando o potencial dos vídeos online. Ao perceber que a evolução já havia começado, em 2007, ele transformou a Netflix em serviço de streaming.
Atualmente, a empresa segue inovando e indo na direção contrária dos seus concorrentes, que têm montado estúdios de gravação próprios: em vez disso, faz parcerias ao redor do mundo, rendendo agilidade e diversidade nas produções.
Mas muito além disso, as opções on demand tornam a experiência do usuário ainda mais exclusiva: poder experimentar o serviço por 30 dias grátis, assistir a quantos filmes e séries desejar a um preço fixo, baixar conteúdos para assistir offline quando quiser, salvar títulos que gostaria de assistir, criar perfis para diferentes membros da família e amigos dentro de uma mesma conta e muito mais.
A Netflix soube aproveitar bem o avanço da internet e incorporou isso ao seu modelo de negócio. Mesmo quando ainda não havia um lucro significativo e seus ganhos eram instáveis, Reed Hastings e Marc Randolph não aceitaram vender a empresa por menos de US$ 50 milhões em 2000 e persistiram em seu negócio.
A existência da plataforma mudou completamente a forma como pessoas em todo o mundo consomem entretenimento. Se antes era necessário ir até o cinema para conferir lançamentos ou esperar chegar à TV a cabo para assisti-los do conforto do seu lar, hoje você pode assistir o que quiser quando e onde preferir.
A forma como a Netflix mede o sucesso dos títulos em seu catálogo também é diferente da TV, e é um dos fatores do seu sucesso. Enquanto a televisão é financiada por anúncios e mede sua audiência através de empresas terceirizadas, a precursora do streaming é custeada pelas assinaturas e pode rastrear suas estatísticas de forma muito mais rápida e precisa, facilitando o levantamento de conteúdos que seu público mais gosta e consome.
E mesmo após o surgimento de diversos concorrentes, como Prime Video, HBO Max e Disney+ (e, no Brasil, o Globoplay, seu maior rival até o momento), a Netflix é líder mundial em número de usuários: são 207,6 milhões. De acordo com dados da Visual Capitalist, a plataforma é seguida pela Prime Video, da Amazon, que conta com 175 milhões de assinantes e oferece o benefício de frete grátis a todos eles em seu e-commerce. Em terceiro lugar, fica a Tencent Video, o maior streaming da China, que possui 123 milhões de usuários.
O Disney+ só surgiu em 2019, mas já conta com 100 milhões de assinantes e pretende alcançar 240 milhões até 2024. Na sequência do top 10, aparecem HBO Max, Hulu, Eros Now (plataforma indiana de filmes e programas de TV), Paramount+, STARZPLAY e AppleTv+.
Falando em números nacionais, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de assinantes da Netflix no mundo, com 17,9 milhões de usuários ativos, de acordo com estimativa da Comparitech. Mas isso não significa que a plataforma seja líder no país. Quem leva a melhor é o Globoplay, que possui cerca de 3 milhões de usuários a mais. Hoje, as duas empresas juntas já superaram o número de assinantes da TV a cabo.
Com objetivo de atrair e manter sempre os melhores talentos em sua equipe, a Netflix busca oferecer diversos benefícios, como férias ilimitadas e licença maternidade e paternidade estendidas. Mas como e por que, exatamente, isso é feito?
Reed Hastings lançou em 2020 um livro chamado “A regra é não ter regra”s, em parceria com Erin Meyer, professora da INSEAD Business School e autora de “O mapa da cultura: rompendo os limites invisíveis dos negócios globais”.
Na obra, ele fala mais sobre a cultura, o modelo de gestão e a importância da liderança para o sucesso do negócio. “Fomos bem-sucedidos em todos os negócios justamente pela visão de time”, explica o CEO em entrevista à CNN Brasil.
Confira o que é considerado ideal por ele e é aplicado na gestão da Netflix:
Valor da autonomia: esse é um dos pilares da marca e é levado a sério internamente. “Quanto mais liberdade você der aos colaboradores, mantendo-os trabalhando como uma equipe eficaz, melhor será”, diz Hastings.
Importância do feedback: a avaliação de performance e opinião sobre como o colaborador tem feito seu trabalho são fundamentais para manter uma equipe de alta qualidade. “Tentamos ser um time em que uns apoiam os outros, que aprendem entre si e, claro, que dão feedback uns aos outros”, afirma.
Somos um time, não uma família: o CEO diz enxergar uma companhia mais como uma seleção de futebol em Copa do Mundo, onde os melhores são selecionados para ganhar a taça. “Tentando reunir os jogadores para ganhar o campeonato que, no nosso caso, é agradar os nossos assinantes”, diz.
Não à política de aprovação de férias: isso mesmo! Na Netflix, qualquer colaborador pode tirar férias quando quiser e por quanto tempo desejar, aderindo à política de honestidade. “Descobrimos que, muitas vezes, as pessoas têm suas melhores ideias e são mais criativas quando estão de férias”, comenta.
A primeira lição da expoente do streaming é a visão a longo prazo. Por mais que o negócio de aluguel de DVDs estivesse próspero, a Netflix notou que a internet e, principalmente, o YouTube estavam se popularizando e a qualidade da banda larga estava cada vez melhor. A partir disso, partiu para outro modelo de negócio que levasse isso em consideração.
Conhecer o público-alvo também é extremamente importante para entregar o melhor produto possível e saber o tom de voz ideal para dialogar com ele. Com isso, a empresa foca suas produções em pessoas de 18 a 49 anos. E a forte presença digital só comprova o quanto a Netflix sabe onde está sua audiência e busca interagir com ela.
Sua inovação não é apenas tecnológica, como criativa, e a companhia sabe usar muito bem essa ferramenta para anunciar seus próprios lançamentos, por exemplo. Isso foi o que levou a marca a ter tantas ideias originais e oferecer um diferencial desde o início.
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