Entenda como a sustentabilidade norteia as decisões e produtos criados pela NotCo hoje -- e como isso também fará parte da sua vida
Imagem: reprodução
, jornalista da StartSe
10 min
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9 abr 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Tainá Freitas
Giuseppe. Esse é o nome da inteligência artificial utilizada pela NotCo para a criação de produtos à base de plantas. A companhia combina as alternativas oferecidas pela tecnologia com a experiência e opiniões de chefs de cozinha. Até agora, maionese, leite, sorvete e carne plant-based são os produtos oferecidos pela startup.
A startup chilena NotCo foi criada em 2015 por três amigos: Karim Pichara (CTO), Matías Muchnick (CEO) e Pablo Zamora (cientista). Pichara foi o criador do algoritmo, enquanto Zamora contribuiu com a ciência dos alimentos e Muchnick na administração de todo o negócio. Desde então, o objetivo continua o mesmo: oferecer alternativas à base de plantas que sejam tão ou ainda mais saborosas que as convencionais.
De 2015 para cá, os produtos da companhia já chegaram ao Brasil, México, Argentina, Peru, Colômbia e Estados Unidos. A NotCo conta com o apoio de grandes investidores, de Jeff Bezos, fundador da Amazon, aos fundos de capital de risco Kaszek Ventures, Indie Bio, General Catalyst, entre outros.
Ervilha, óleo de coco, fibra de chicória, extrato de abacaxi, óleo de girassol: esses são alguns dos ingredientes utilizados pela NotCo para criar o NotMilk, leite à base de vegetais. “Quantos anos demoraria para qualquer pessoa, até mesmo um chef, unir tudo isso para chegar a uma consistência muito parecida com a do leite?”, questiona Ciro Tourinho, líder da operação do Brasil da NotCo, em entrevista à StartSe.
A lista de ingredientes utilizada pela NotCo é curiosa. No hambúrguer feito de plantas, há cacau (para colorir), fibra e óleo de coco (para trazer a gordura) e extrato de beterraba para conferir a coloração avermelhada em cada mordida. Na maionese, há grão de bico, vinagre de uva (para trazer suavidade), lima (para equilibrar o sabor), óleo de canola e sementes de mostarda.
Mas se hoje existe carne, maionese, sorvete e leite à disposição em qualquer mercado, por que a NotCo -- e outras companhias concorrentes -- estão criando versões à base de plantas? A preocupação é com a sustentabilidade do planeta e alimentação a longo prazo.
“A Terra não consegue mais alimentar 8 bilhões de pessoas comendo carne e tomando leite todos os dias de manhã. A dieta como está estabelecida no mundo hoje em 15 anos irá à falência. Não há disponibilidade de recursos naturais que permita essa relação de alimentação animal”, explica Tourinho. A premissa é de que as pessoas se tornem “flextarianas” -- ou seja, continuem consumindo alimentos de origem animal, mas que também incorporem alternativas mais sustentáveis.
“Eu sempre dou um exemplo: ao falar de dirigir um carro elétrico há 100 anos atrás, pensávamos em carrinhos de golf. Agora, com a Tesla e outras indústrias criando carros elétricos eficientes e até de luxo, as pessoas querem consumir”, compara o gerente da NotCo no Brasil.
Para que essa substituição ocorra, é importante que o sabor e qualidade dos produtos permaneça. Há, no entanto, uma barreira que ainda existe também nos carros elétricos: preço.
No e-commerce próprio da NotCo, o hambúrguer vem com 2 unidades e custa R$17,99. Já o leite de 1 litro é R$ 14,99, a maionese R$ 11,99 e o sorvete R$ 13,99 (120 ml). Os valores são semelhantes aos aplicados por empresas do mesmo segmento. “Em algumas categorias, os produtos são de 20% a 30% maior do que os convencionais e isso é explicado pela escala. Quanto mais o consumo aumentar, os custos fixos da produção serão absorvidos”, explica Ciro. No caso do leite, o animal possui isenções tributárias que não existem na versão vegetal.
Essa é uma questão que aparece para qualquer empreendedor que trabalha com produtos. A NotCo optou por terceirizar a fabricação -- a mesma opção adotada pela nova companhia do setor, a Next Gen, em Singapura.
No Brasil, a startup possui quatro diferentes manufaturadores, uma para cada categoria de alimento que oferece até agora. A companhia também terceiriza produções em outros países, ao mesmo tempo que exporta alguns dos produtos. Em casos específicos, existe até mesmo a adaptação da receita de acordo com o paladar local.
A companhia possui escritórios no Brasil, Chile, Argentina e Estados Unidos. Em São Paulo, a NotCo conta com uma equipe de cerca de 30 pessoas, responsáveis pela operação, vendas, marketing, pesquisa e desenvolvimento, financeiro, entre outros.
Uma das novidades da companhia é que, em breve, o Giuseppe também poderá ser terceirizado. A NotCo recebeu a patente do algoritmo recentemente e está abrindo uma vertical B2B (de empresas para empresas) para que outras companhias possam desenvolver receitas plant-based.
“Seria muito injusto mantermos o algoritmo apenas para nós. A expectativa é que grandes indústrias de alimentos possam ter produtos ‘Powered by NotCo’, assim como smartphones também utilizam peças de empresas concorrentes”, afirma Ciro Tourinho.
É possível utilizar o algoritmo Giuseppe para criar produtos análogos aos derivados de leite, ovos e carnes. Na prática, o algoritmo é acompanhado de perto pelas pessoas, que trazem feedbacks sobre as receitas geradas -- se a textura, cor e sabor estão condizentes, por exemplo, alimentando a máquina (de forma não literal, é claro).
Embora a não-utilização de ingredientes de origem animal tenha um grande impacto na sustentabilidade, também é importante entender quais são as plantas utilizadas e qual foi o processo de agricultura. A NotCo afirma preferir fornecedores que fazem policultura, método em que várias plantas são cultivadas no mesmo terreno.
“A monocultura em larga escala gera um descompasso na natureza. Nós acreditamos que a policultura é o caminho para um equilíbrio ambiental”, explica Tourinho. Na produção do leite, a empresa afirma economizar 92% da água que é utilizada nos processos do alimento tradicional; 74% da energia e que há uma redução de 74% do carbono emitido.
A NotCo ganha cada vez mais concorrentes diariamente e não é à toa. O mundo está abrindo os olhos para entender como diminuir o impacto ambiental -- e a alimentação é um dos segmentos com grande possibilidade de transformações.
A concorrência não é apenas direta, de empresas que produzem alimentos à base de plantas, mas transversal. Grandes frigoríficos como a Marfrig e a JBS estão produzindo suas linhas “à base de plantas” -- a JBS, através da Seara, possui a linha “Incrível” que oferece desde bacalhau feito de soja aos nuggets, dentre outros produtos.
E mesmo para quem não é do setor de alimentação essa preocupação deve existir. O conceito de ESG está cada vez mais popular ao redor do mundo -- e significa: Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança, em tradução).
De acordo com um estudo realizado pelo The Boston Consulting Grup (BCG), as companhias que têm boas práticas nesses campos apresentam resultados melhores ao longo do tempo. Não é uma coincidência: os consumidores estão cada vez mais atentos sobre quais são (e a origem) os alimentos que compram, as roupas que vestem, os serviços que utilizam. Como a sua empresa está se posicionando neste segmento?
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, jornalista da StartSe
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Apresenta o podcast Agora em 10 na StartSe e também atua na área de Comunidades na empresa. É especialista em inovação, tecnologia e negócios.
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