Uma jornada nômade pela Europa revela como a ausência do Brasil no radar global pode se transformar em uma vantagem estratégica para surpreender e conquistar espaço no cenário internacional
Foto: Pexels
, redator(a) da StartSe
9 min
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14 jan 2025
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Atualizado: 14 jan 2025
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No ano de 2024, tive a oportunidade de realizar um sonho de muitos anos quando alguns astros decidiram se alinhar na minha vida: condição financeira, um toque de imprudência fiscal e o encerramento da operação de uma das minhas empresas, o que diminuiu a necessidade de disponibilidade constante no horário comercial brasileiro.
De março até o meio de julho, peguei uma mala e fui ser nômade digital na Europa.
Nesses quatro meses, passei por 14 países e tive uma série de primeiras experiências: viajar sozinho, ficar em hostel, segunda vez fora do Brasil (sendo a primeira no começo do ano para uma imersão de empreendedorismo no Vale do Silício com a StartSe) e primeira vez me inserindo em contextos onde eu não entendia nada da língua e não fazia ideia do que estava acontecendo.
Aprendi muita coisa, passei alguns perrengues e voltei com uma bagagem de vivência e experiências que anos na minha rotina não seriam capazes de proporcionar. Uma das mais importantes, além de checar previamente a regra de líquidos e produtos de higiene permitidos em cada aeroporto que eu iria: o Brasil não existe na consciência do europeu e do americano.
Claro, se você perguntar pra uma pessoa minimamente consciente, ela geralmente vai poder te falar de alguns dos nossos greatest hits, como carnaval, futebol, samba, Rio de Janeiro, Amazônia, Cristo Redentor, etc., mas o conhecimento do “gringo” médio geralmente para por aí. Isso me surpreendeu um pouco, mas, se você parar pra pensar, até que faz sentido.
O Brasil está a 10.000km da Europa e a uns 8.000km dos EUA. Considerando que eu geralmente esqueço de ligar pra minha mãe, que mora a 12km de mim, acho compreensível as terras tupiniquins só passarem pela cabeça dessas pessoas quando somos notícia. Algumas pessoas podem ver isso como um problema, mas eu enxergo essa vacância de metro quadrado mental como uma oportunidade.
Quando você não está no radar das pessoas, você tem a chance de aparecer e surpreender. Isso vale muito mais do que parece.
Se as pessoas já te conhecem, elas criam expectativas. Quando não pensam em você, é possível aparecer com algo inovador, fora do esperado, e ganhar espaço mais rápido. Essa ausência de visibilidade global em setores como tecnologia, negócios e empreendedorismo permite que o Brasil possa chegar com novidades de maneira mais estratégica.
Quando eu estava na Suécia, em um pub crawl, e falei que a cidade de São Paulo tinha mais gente do que o país inteiro que estávamos ou que o Brasil tem uma área muito próxima da Europa inteira, eles realmente entendiam a proporção e escala daqui. A reação era de ver o emoji de cabeça explodindo ao vivo.
Quando eu explicava como algumas outras coisas funcionavam por aqui, a surpresa era de outra natureza, e é aqui que está a nossa oportunidade.
Querem um exemplo? A empresa de pagamento sueca Klarna levantou um total de 4 bilhões de dólares em rodadas de investimento desde 2005. O seu diferencial? Nas palavras da própria empresa, “Buy now, pay later”, ou, pra ser mais claro, permitir que e-commerces ofereçam pagamento em até 4 parcelas.
Meus amigos gringos, eu lhes apresento o conceito brasileiro das 12x sem juros no cartão de crédito ou do carnê das Casas Bahia.
E não para por aí.
Existem várias soluções que já fazem parte do nosso dia a dia e que poderiam facilmente conquistar espaço em outros mercados. Quando falamos de Pix ou Boleto Bancário, são soluções que poderiam inspirar inclusão em mercados emergentes globalmente e nós já dominamos há anos.
Quando falamos de tecnologia, os nossos desenvolvedores não deixam nada a desejar em comparação com outros mercados fortes e ainda temos uma maleabilidade que é valorizada mundo afora.
Outro ponto importante é o jeito brasileiro de lidar com adversidades e incertezas. Quando me perguntavam o motivo do brasileiro ser tão alegre, eu falava que era porque aprendemos a rir da nossa própria desgraça. Era uma brincadeira, mas nós realmente vivemos em um ambiente de alta volatilidade econômica e política, o que nos deu uma habilidade única de sermos ágeis, adaptáveis e resilientes.
Essa mentalidade não é só um diferencial, é um superpoder em um mundo que está cada vez mais incerto e complexo, ainda mais quando falamos de culturas que estão acostumadas a uma certa estabilidade. Empresas brasileiras podem exportar essa agilidade e capacidade de resolver problemas de forma criativa e rápida.
Por exemplo, a nossa experiência em logística, especialmente de last-mile, com soluções que tiveram que ser criadas e adaptadas para atender grandes cidades em constante crescimento e sem um planejamento adequado, como São Paulo, pode servir de inspiração para outras cidades globais com infraestrutura complexas.
Quando eu digo que o Brasil não existe, eu vejo um mar azul de oportunidades.
Mais do que isso, temos um trunfo nas mãos: não ser vistos como concorrentes diretos ainda. Quando não estão pensando em você, quando menos esperam, é fácil pegar alguém de surpresa e ganhar terreno rapidamente. A vacância de espaço no imaginário global permite que o Brasil apareça como inovador, flexível, e com soluções que os outros nem sabiam que precisavam.
Claro, para isso acontecer, precisamos agir com estratégia. Precisamos levar nossos produtos e ideias para fora, usar a rede de brasileiros que já estão no exterior e participar mais de eventos globais. Temos que aproveitar essa janela de oportunidade enquanto ainda temos espaço para crescer antes que o resto do mundo perceba nosso potencial completo.
Aí podemos ser conhecidos por isso e, claro, Carnaval, Futebol, Rio de Janeiro e Samba.
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Você, assim como o Leandro, pode viver uma experiência transformadora no Vale do Silício, vivenciando a inovação e a tecnologia onde elas nascem. Saiba mais detalhes aqui.
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redator(a) da Startse
Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e desenvolvimento de produtos digitais, liderou e desenvolveu projetos variados para startups e multinacionais. Hoje é co-founder e CTO da Pixel Roads, onde comanda a criação de soluções inovadoras em mídia digital, além de atuar como mentor em tecnologia e produto na FGV Ventures, ABStartups e outras organizações de empreendedorismo.
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