A ansiedade causada pelo retorno ao ambiente de trabalho ganhou sigla e força no exterior. Saiba o que é e como lidar com o "Fear of Returning To the Office"
Empresário trabalhando no notebook se sentindo preocupado (Foto: martin-dm via Getty Images)
, jornalista
9 min
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12 jul 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Sabrina Bezerra
Depois de cerca de dois anos — desde a chegada da pandemia de coronavírus —, você já estava se acostumando com o home office. Mudou hábitos, aprendeu a entregar as demandas de forma online, vendeu o carro e está morando no interior. Mas agora, um novo comunicado da empresa faz você sentir ansiedade e estresse: é preciso voltar para o escritório, seja no modelo híbrido ou totalmente presencial.
Esse medo que você está sentindo tem explicação. Especialistas afirmam que o cérebro humano não gosta de incertezas, e, por isso, provoca reações - no caso, o receio de voltar ao trabalho presencial. E você não é a única pessoa com esse sentimento (saiba mais abaixo). Para você ter uma noção, no exterior, ele ganhou até nome: FORTO.
É a sigla para “Fear of Returning To the Office”, que em português significa medo de voltar ao trabalho presencial, ou seja, ao escritório. Como consequência da síndrome, alguns sintomas podem surgir, como: batimento cardíaco acelerado, dificuldade para dormir, impaciência, entre outros.
“No entanto, a síndrome não tem aval científico, no sentido de ser classificada no DSM 5 (sigla para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Não tem CID. Não é algo oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde)”, diz Tais Targa, psicóloga e especialista em carreira.
Mas como surgiu? O nome vem do exterior, onde cresce o número de pessoas que sentem receio de voltar ao trabalho presencial. “No Brasil também há relatos de profissionais com medo e ansiedade absurda ao voltar ao ambiente corporativo”, conta Tais.
“A ansiedade se refere à perda de ‘parte das nossas habilidades sociais’, que ficaram ‘um pouco destreinadas’ com o longo tempo de isolamento”, afirma Flávia Andressa Farnocchi Marucci Dalpicolo, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, ao jornal da USP.
As causas são as mais diversas, como: insegurança ao ter mais exposição aos riscos de contrair a Covid-19, novos hábitos adquiridos com o teletrabalho, medo do estresse durante o trajeto (já que para 21,6% dos trabalhadores, o tempo gasto no transporte é o maior desafio na volta ao trabalho presencial, segundo pesquisa feita pela corretora It'sSeg, entre outros.
Afinal, demorou para você se acostumar a uma rotina, fazer todas as entregas de maneira online, e daí quando você se acostuma, precisa mudar mais uma vez. “E para o ser humano, adquirir e perder costumes gera muita ansiedade porque você sabe que seus hábitos vão mudar totalmente. Você vai precisar mudar, de novo, o seu estilo de vida — e isso pode bloquear as pessoas”, diz Tais.
Além disso, entre as pessoas que estão com medo de voltar ao trabalho, estão as que têm outros transtornos, como síndrome do pânico, estresse pós-traumático, burnout. “Elas não querem retornar ao escritório porque não têm saúde mental para estar presencialmente. Junta um pouco dessa nova Síndrome de Forto com toda uma comorbidade”, afirma a especialista.
No entanto, tem também os trabalhadores que estão com a saúde mental em dia, mas não tem possibilidade real. “Seja porque mudou o filho de escola, ou desfez do carro, foi morar em um sítio. Nestes casos, como a pessoa voltaria à vida de antes? A vida de antes nem existe mais. A nova vida que criou não prevê o trabalho presencial”, conta Tais.
O ideal é conversar com a liderança ou a área de recursos humanos para que você possa voltar aos poucos. “Dando tempo ao cérebro e ao corpo para se se acostumarem com a nova rotina”, diz Tais.
Depois, reveja os seus hábitos: “desde saber que horas vai acordar e dormir. É importante que acorde e tenha um tempo de qualidade de manhã e não faça tudo às pressas”, completa a especialista.
E vá, se exponha ao ambiente físico. Isso porque, “quando a gente se expõe a novos contextos nós vamos novamente desenvolvendo repertório para lidar com eles”, conta Flávia.
Outra dica é: “personalize o ambiente de trabalho. Coloque uma planta [que você goste] na sua mesa, ou se a empresa permitir, leve o seu pet”, diz Tais.
Segundo a pesquisa The Born Digital Effect, realizada pela Citrix Systems, 90% dos millennials e Geração Z não querem voltar ao escritório em tempo integral. Para 51% deles, o modelo ideal seria o híbrido.
Outra pesquisa feita com 2 mil funcionários do Reino Unido, encomendada pelo Institute of Workplace and Facilities Management (IWFM), mostra que 31% deles sentiram que a empresa estaria pressionando a retornar ao presencial.
Por ser algo novo, o futuro do trabalho ainda é incerto. As companhias ainda estão descobrindo qual seria o melhor modelo. Algumas apostam no teletrabalho, outras em presencial e híbrido.
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Sabrina Bezerra, head de conteúdo na StartSe, possui mais de 13 anos de experiência em comunicação, com passagem por veículos como Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios, ambos da Editora Globo.
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