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Em vez de fazer networking, evolua para o netweaving

A prática de newtworking, tão necessária, pode ser melhorada e até ajustada para algo mais confortável. Entenda nesta coluna da Giuliana Tranquilini

Em vez de fazer networking, evolua para o netweaving

, Redator

12 min

31 jul 2023

Atualizado: 31 jul 2023

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Por Giuliana Tranquilini*

No filme “O Poderoso Chefão”, há uma clássica cena em que o personagem de Marlon Brando deixa claro: para cada favor prestado, um dia pedirá algo em troca. Essa é a forma de você se conectar profissionalmente com as pessoas? Se for, está na hora de re-significar o networking.

Networking não é aceitar convites para encontros enfadonhos e, depois, se sujeitar a follow ups inconvenientes de pessoas interesseiras. Acessar as pessoas com intenção puramente comercial ou interesseira pode, inclusive, prejudicar sua reputação.

Se não devemos ser aquele “amigo” interesseiro que aparece na festa sem ao menos levar uma bebida, também não precisa ir ao extremo oposto de não “incomodar” os outros. Não há nada errado em pedir ajuda. Afinal, somos seres humanos, e ninguém vive sozinho.

Empresário escrevendo notas enquanto usa laptop (Fonte: stock/via Getty Images)

O verbo “pedir” coloca seu agente em posição de vulnerabilidade, mas não é um problema com o qual você deveria se preocupar. Vivemos todos dentro de uma espécie de “barco social". Solicitar uma conexão no LinkedIn, uma indicação para uma vaga de emprego ou até mesmo uma reunião individual com alguém importante da sua indústria pode gerar ansiedade, medo e timidez. Nessas horas, adote posição pragmática: “o não você já tem”.

Aprendi desde muito cedo e isso se confirmou no pós-pandemia: pessoas estão dispostas a conversar, criar conexões significativas ou só bater um papo descompromissado com alguém interessante.

Quando me mudei para Palo Alto, na Califórnia, precisei começar do zero minha rede de contatos por aqui. Eu, uma imigrante brasileira, sem nenhum histórico local para abrir portas, tive de arregaçar as mangas e recomeçar .

Se no Brasil tenho anos de experiência profissional como executiva e empresária, onde atendo altos executivos de diferentes mercados, e já tenho uma certa reputação e contatos que facilitam muito, nos Estados Unidos sou apenas a Giuliana em uma página em branco.

Percebi logo de cara que não adianta me ancorar nos sobrenomes corporativos para iniciar uma conversa: Natura, Havaianas? São marcas gigantes por aqui, mas lá no “mundinho da tecnologia”, o discurso tinha que ser completamente diferente, mesmo muitos estando com o chinelo Made in Brazil no pé.

Foto: em reunião


Num lugar onde surgiram as empresas mais criativas e valiosas do mundo, a diversidade é reconhecida como um dos principais motores da inovação. Quanto mais pessoas nos conectamos e conversamos, maiores são as chances de sucesso. Se em um dia você conversa com uma brasileira especialista em Marca Pessoal, no outro você fala com um engenheiro indiano fera em Inteligência Artificial e por aí vai, até essas pessoas recomendarem você para terceiros, girando a roda.

Por isso, decidi investir meu tempo em entender qual o valor eu aportava para o grupo de pessoas que eu interagia, ou para as pessoas que eu gostaria de me conectar, anotei todos os nomes no meu iPad e estrategicamente: mandei uma mensagem individual para cada uma explicando brevemente quem eu era e que estava interessada em ouvir a história daquele profissional.

Meu objetivo? Aprender com ele um pouco mais do mundo corporativo na América e propondo um café virtual de 15 minutos.

Para minha satisfação, aqui na Califórnia encontrei uma comunidade extremamente aberta e receptiva. Ao enviar estas mensagens pelo LinkedIn — atividade que já virou rotina (sim, faço isso toda semana e tem um espaço na minha agenda semanal para isso — como uma reunião fixa semanal) — mais de 90% das mensagens foram respondidas, topando os 15 minutos de café virtual.

Uma espécie de web-networking que defendo fortemente que vire moda no Brasil. Se importamos tantas ideias do Vale do Silício, por que não mais essa de abrir a sua agenda para novas conexões?

Foi dessa forma que, logo no início das minhas interações, fui atendida por executivos de grandes empresas aqui no Vale. Na mesma semana que isso aconteceu, compartilhei essa experiência em uma palestra que dei na StartSe para um grupo de brasileiros, reforçando o valor das conexões.

Muitos estranharam tanta receptividade, pensando que isso só acontece porque é aqui nos Estados Unidos, e me perguntaram se eu acredito que os brasileiros também agiriam da mesma forma. Mesmo não sendo uma prática comum no Brasil, o que eu acredito é que independente de esperar uma resposta positiva, a prática no networking para servir o outro deve ser constante.

E será que existe esperança para quem já cancelou um café, virtual ou não, devido à ansiedade social? Segundo Karen Wickre, autora do livro Taking the work out of Networking - An introvert’s guide to making connections that count (“Networking para Quem Não Quer Fazer Networking”, pela H1 Editora) é possível nutrir um círculo vibrante de contatos confiáveis sem sair totalmente da sua zona de conforto. Enquanto para uns o ato de se expressar é natural, para outros pode parecer uma tarefa aterrorizante.

Mulheres conversando (foto: Christina @ wocintechchat.com/Unsplash)

Se os conselhos tradicionais para os introvertidos geralmente giram em torno de uma mudança de personalidade, Wickre, que é um nome poderoso aqui do Vale há mais de 30 anos e se descreve como uma introvertida, diz que você deve abraçar a sua verdadeira natureza. No lugar de uma festa repleta de pessoas, que tal um encontro individual? Outra, abuse das redes sociais, afinal, você pode fazer conexões significativas do conforto da sua casa.

Outra preocupação que costuma surgir no mercado de trabalho é o fato de não associarmos a palavra doação com sucesso. Seja a doação do nosso tempo, conhecimento ou até mesmo dinheiro. Talvez seja por isso que o livro “Dar e Receber”, de Adam Grant, tenha tido uma receptividade tão grande quando foi lançado há uma década, seguindo atual e cada dia mais relevante.

 Na obra, Grant categoriza os indivíduos em três grupos distintos: doadores, compensadores e tomadores:

  • Os doadores são aquelas pessoas que oferecem ajuda e suporte aos outros de maneira pró-ativa e altruísta.
  • Em contraste, os compensadores adotam uma mentalidade de reciprocidade, buscando uma troca equitativa de favores e gentilezas.
  • Por fim, os tomadores são aqueles que tendem a agir de forma oportunista, buscando seus próprios interesses sem hesitar em puxar o tapete de outras pessoas ou trair a confiança do mundo ao seu redor.

Os que chegam mais longe são os doadores, que dão o seu melhor aos outros sem reservas nem exigências. De acordo com a pesquisa realizada pelo autor, os doadores tendem a criar relacionamentos mais positivos e duradouros, levando a um maior sucesso a longo prazo. No entanto, eles também são vulneráveis à exploração por tomadores se não forem cuidadosos. Para lidar com isso, Grant enfatiza a importância de criar uma cultura de reciprocidade em que doar seja a norma e as pessoas se sintam à vontade para buscar ajuda quando necessário. Você tem sido recíproco nos seus relacionamentos?

A reciprocidade, aliás, nos remete ao conceito de netweaving, a prática de alavancar a própria experiência e expertise para ajudar outras pessoas a atingirem seus objetivos. Apesar de estar intimamente ligada ao networking, o netweaving difere tanto em sua abordagem quanto em suas ações.

Se durante o networking tendemos a pensar “como essa pessoa vai me ajudar em minha carreira ou vida?”, no netweaving a conclusão gira em torno da questão: “como posso ajudar essa pessoa ou com quem posso conectar esta pessoa para que ambos se beneficiem desta nova relação?”.

A já citada reciprocidade e também o ato de construir confiança, formando conexões significativas e duradouras acabam se tornando o resultado final da prática do netweaving. O autor e especialista em finanças Bob Littell, que primeiro cunhou essa denominação, afirma, contudo, que ambas as práticas não são excludentes e podem caminhar juntas rumo ao sucesso. Como tudo na vida, o importante é o equilíbrio.

*Giuliana Tranquilini é co fundadora da consultoria Betafly Brandmakers e professora da StartSe University no Vale do Silício

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