Só sabendo se adaptar aos ciclos, que estão começando, no auge, chegando ao fim, ou recomeçando, é que conseguimos seguir montando nossa caixa de ferramentas, ou seja, nosso repertório de habilidades e competências
Mulher japonesa de perfil (Fonte: Getty Images)
, Redatora
8 min
•
5 dez 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Quando eu tinha 12 anos, na passagem entre infância do nosso pequeno universo e a adolescência cheia de questionamentos e rebeldia, eu comecei a notar que toda que vez que ia para a escola, cruzando a cidade do Rio de Janeiro, do Leblon à Laranjeiras, eu me deparava com uma menina vendendo chiclete no mesmo semáforo todos os dias.
Ao invés de ir me acostumando, eu fui me revoltando. Aquela cena, assim como muitas outras, me levaram a uma série de perguntas: por que a menina não estava na escola? Porque eu estava no carro com meus irmãos e ela na rua com os dela? Porque ela estava vendendo chiclete? Onde estava a mãe dela? Será que ela estava com frio, fome, ou cansada? Muitas perguntas eram retóricas, outras nem tanto.
Durante os 4 anos seguintes até os 16 anos, eu vi minha lista de perguntas crescer, e a criação de uma lista de hipóteses para explicar aquela e tantas outras situações que eu fui me dando conta. Eu também tinha uma terceira lista, a de críticas da nossa sociedade. Com razão, eu estava no auge da adolescência rebelde. Naquele momento turbulento de criação de identidade, tive que escolher o “meu futuro”. Eu fiz vestibular com 16 anos, e é nesse momento que escolhemos o que “ser quando crescer”.
Ali com a caneta na mão, há mais de 20 anos, eu escolhi Psicologia. Era a única opção viável para a Iona de 16 anos. A que abriria uma jornada para se capacitar a ajudar no desenvolvimento do talento que cada indivíduo tem. Eu acredito que absolutamente todo ser humano tem talentos. O que muitos não tem é autoconsciência das suas habilidades e limitações emocionais, justamente as que nos limitam e não as habilidades analíticas e técnicas. Passados os 5 anos de graduação, me formei e logo percebi que eu não sabia nada e precisava fazer um mestrado.
Foram mais 2 anos de teoria e pesquisa com quase nada de prática. Mesmo assim, consegui trabalhar e dedicar alguns anos entre a clínica particular em um dos bairros nobres do Rio, São Conrado, e a Clínica Social da Favela da Rocinha, atendendo crianças e famílias. A distancia entre o consultório e a clinica social era feita a pé, tamanha proximidade e discrepância social.
Após me tornar mãe aos 25 anos, o choque de realidade de não conseguir pagar as contas do final do mês foi mais alto do que qualquer paixão e propósito e eu entendi que precisava procurar uma outra carreira, um outro emprego. Para me recolocar, eu precisava me requalificar. Minhas habilidades e competências eram pouco valorizadas pelo mercado de trabalho. Lá fui eu fazer um MBA noturno e conseguir mostrar meu potencial.
O fato é que eu já havia passado mais tempo estudando do que trabalhando e ao final do MBA, com 28 anos e então dois filhos em casa, eu estava cada vez mais distante de ser uma jovem com experiências de trabalho, que são devidamente valorizadas durante um processo de contratação.
Eu aceitei um trabalho no Governo do Rio de Janeiro em Projetos Estratégicos, imbuída do espírito de fazer diferença pra menina que ainda estava vendendo chiclete na rua e pra nossa sociedade em larga escala. Eu queria unir minha revolta com a realidade de péssima qualidade de vida da maioria das pessoas no nosso país com o meu trabalho e descobrir, finalmente, uma forma de mudar a realidade que tanto incomoda.
Apesar dos esforços, após 4 anos com algumas frustrações na bagagem, eu pensei bastante no que eu queria para minha vida. Em quem eu era naquele momento – porque a Iona de 12 anos era diferente daquela de 16 ou 25, e com certeza muito diferente daquela que passava dos 30 anos. Eu fui em busca do que tem de melhor para transformar a vida das pessoas até que eu encontrei a Universidade de Stanford, onde ideias malucas são bem vindas, onde não tem sonho grande demais para ser levado a sério, onde todas as pessoas são bem-vindas, aliás, quanto mais diversidade melhor.
Lá, eu vivi a experiência de quanto mais diferente mais rico são os grupos, as turmas, as classes, os projetos. Eu aprendi que através da tecnologia a gente consegue desenhar soluções que não existem ainda. E que uma vez testadas, nasce um produto. E que esse produto pode e deve ser escalável para alcançar as pessoas que mais precisam e que não tem acesso a estar ali. Eu conheci pessoas que se recusam, assim como eu, a se acomodar e a ficar na bolha uma vez tendo a oportunidade, muitas vezes sofrida, de entrar e ser aceito na tal bolha. Eu me senti em casa.
Há 9 anos que eu me transformo, cada dia um pouco, na Iona que hoje é CEO da Education Journey, uma startup focada em transformar a vida de muita gente, quem sabe atingindo o 1 bilhão de pessoas que o Fórum Econômico Mundial alertou que precisarão de algum tipo de upskilling ee reskilling até 2025. Eu aprendi a me adaptar, a aprender, a desaprender e a reaprender.
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Founder & CEO da Education Journey
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