O uso de dados dos clientes pelas empresas passa pela transparência. Veja como isso colocou as farmácias em uma saia justa ao coletar o CPF
, Jornalista
8 min
•
31 mai 2023
•
Atualizado: 1 jun 2023
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Dizer o CPF no fim de uma compra virou um ato tão automático que parece até inofensivo. A ação, entretanto, virou polêmica nas farmácias, que solicitavam o CPF, mas não deixavam claro o uso da informação.
Em nome de descontos, clientes acabam digitando o CPF no fim da compra na farmácia.
O problema? A falta de transparência sobre o uso do dado (informações de saúde podem valer muito para planos e serviços de saúde em geral). Além disso, o desconto muitas vezes só é informado após a digitação dos dados, sem clareza de que o desconto será condicionado ao fornecimento do CPF. Isso pode limitar a liberdade do consumidor para decidir ceder ou não as suas informações, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
O documento emitido pela ANPD deixa claro que, no cenário atual, “há baixa maturidade dos agentes de tratamento do setor de varejo farmacêutico no que se refere à proteção da privacidade e dos dados pessoais, o que tem prejudicado o direito à informação dos titulares.”
O CPF, especificamente, é uma porta de entrada para mais dados. A partir dele, a empresa pode entender melhor o perfil do usuário (com informações como endereço, telefone e estado civil), tendo mais robustez com os dados da compra, como remédios e produtos escolhidos e frequência da compra. Isso gera insights e insumos de vendas, mas deve ser transmitido com clareza ao cliente.
Além disso, de todos os dados vazados no mundo em 2022, 43% deles foram vazados somente no Brasil, segundo relatório da Tenable, empresa norte-americana de cibersegurança.
A coleta e o uso da análise dos dados não é o problema, desde que a Lei Geral de Proteção de Dados não seja ferida. No caso das farmácias, existe um contexto de dados sensíveis (explicamos melhor na sequência).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, “os dados relacionados à saúde são sensíveis, o que significa que merecem um tratamento especial e estão submetidos a regras específicas - como também é o caso para informações sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política ou aspecto genético ou biométrico.”
A Lei permite que os dados pessoais sejam compartilhados em casos de “tutela da saúde”, envolvendo profissionais ou serviços de saúde ou autoridades sanitárias. Em todos os outros casos, o compartilhamento dessas informações está proibido sem o consentimento expresso.
O relatório da ANPD não menciona risco de multa neste caso das farmácias, mas existe um conjunto de sanções para o caso de pessoas e empresas que violarem as regras previstas como:
Os dados se tornaram mais estratégicos, podendo entregar aspectos de personalidade, garantindo perfis mais certeiros dos clientes, e influenciar decisões. O que as empresas ainda estão entendendo é que dados também exigem governança e adequação à lei.
Em entrevista ao Uol, o diretor do ITs-Rio, Carlos Affonso Souza, diz que a LGPD pode ser um marco como foi o Código de Defesa do Consumidor. A vigilância garante os direitos dos clientes e eles vão cobrar.
Por outro lado, Fernanda Doria, Diretora de Negócios de Médias empresas no Google Brasil, disse em entrevista à StartSe que “o consumidor final tem interesse em ceder seus dados pras empresas, desde que ele perceba valor”, sinalizando o desafio que é entregar a customização desejada pelo cliente e a segurança necessária.
Então é possível criar uma jornada data driven entre farmácia e consumidor, garantindo vantagens para os dois lados. A questão é como comunicar e garantir clareza nas informações.
Dados e LGPD podem ser um diferencial competitivo poderoso para empresas que sabem usá-lo para orientar melhor tomadas de decisão das empresas e melhor atendimento a clientes. Mas se usados de forma errada (mesmo sem saber) podem botar empresas ou indústrias inteiras em situações delicadas (como no caso das varejistas farmacêuticas). Saiba tomar decisões baseadas em dados e proteger sua companhia neste link aqui. Veja mais
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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