Com investimento de R$ 23 milhões no horizonte, o centro aposta em novas áreas de atuação e trabalho com startups
Detalhe das instalações do Parque Tecnológico de São José dos Campos (Foto: divulgação)
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Engana-se quem pensa que o Parque Tecnológico de São José dos Campos é só sobre o setor aeroespacial. Uma das principais instituições do ecossistema de inovação tecnológica do país, o centro do interior paulista está às vésperas de um dos maiores movimentos de expansão da sua história recente, com foco em áreas como o 5G.
Criado pela prefeitura da cidade e o governo de São Paulo em 2006, o centro é um articulador na criação de novas tecnologias, produtos e processos, e é considerado um dos maiores e mais avançados parques tecnológicos do Brasil. Atualmente, lá residem aproximadamente 140 empresas geridas em três clusters de atuação, também chamados de arranjos produtivos locais, que fazem parte de políticas de Estado de desenvolvimento econômico. Além do segmento de aero, com empresas-âncora que incluem a Embraer e a Visiona, o centro conta com um um cluster de tecnologia, com residentes como Algar Tech e Ericsson, e um recém-criado cluster de agtech, que espera atrair grandes players do segmento, como a Bayer e a Raízen.
Sob a configuração de clusters do Parque, a ideia é fazer com que as companhias mais robustas consumam os produtos de empresas menores, incluindo startups, ampliando a maturidade em inovação tecnológica de toda a cadeia. Do universo de empresas baseadas no centro em SJC, cerca de 50 são startups, e, desde o início da pandemia, o Parque vem conduzindo seu programa de incubação e aceleração, o Nexus, de forma virtual. A instituição acabou atraindo, pela primeira vez, startups de fora do Vale do Paraíba para participar do processo: hoje, são mais de 200 empresas trabalhando com o centro remotamente e outras, como a paraense Ionic Health, se fixaram fisicamente no Parque.
“Estas empresas não vieram buscando um suporte no segmento aeroespecial, elas vieram por conta da nossa tradição e maturidade em diversas áreas, como saúde, mobilidade e outras. E é justamente essa grande diversificação de empresas que temos aqui que está no centro da nossa proposta de valor”, diz Marcelo Nunes, diretor de desenvolvimento de negócios do Parque Tecnológico de São José dos Campos, em entrevista ao Startups.
Mesmo em relação aos arranjos produtivos do Parque, a inovação não encontra limitações, diz o executivo. “Quando as pessoas pensam em São José enquanto polo tecnológico, podem pensar que agronegócio não tem a ver com o aeroespacial, mas todos os dispositivos utilizados na agricultura consomem dados espaciais. Conectamos isso com as empresas nacionais e estrangeiras que geram os dados e o setor de tecnologia, cuja atuação é transversal. O potencial de sinergias é imenso”, ressalta.
O Parque tem um custo de operação anual de R$11 milhões. Segundo Marcelo, para cada real investido no centro, cerca de R$11 são gerados em investimentos do governo estadual, federal, órgãos de fomento e do setor privado. Além das iniciativas para desenvolver startups e empresas de tecnologia, há uma grande demanda de organizações de diversos setores de atuação, que buscam impulsionar suas estratégias de inovação aberta através do ecossistema orquestrado pelo Parque.
Entre as diversas corporações que trabalham com o Parque estão a Nestlé e o Metropolitano de São Paulo (METRÔ), que procurou o centro para desenvolver iniciativas de inovação para a mobilidade. “Já temos muita interação com empresas e temos que nos preparar, principalmente depois da pandemia, para uma grande onda de centros de inovação de grandes empresas vindo para o Parque Tecnológico”, pontua.
“Muitas vezes, empresas tradicionais pegam um CIO ou CTO e dizem: ‘você será nosso head de inovação’. Acabam dando com os burros n’água, porque não é assim que funciona. É preciso ter uma vivência, preparação para lidar com a empresa grande e a startup. Fazemos esse trânsito muito bem e essa é a expertise que fomos criando ao longo dos anos”, acrescenta o executivo.
Este aumento na demanda por grandes corporações resultará na “inevitável” expansão física do Parque, que hoje tem 4 centros empresariais com 55 mil metros de área construída. Além de infraestrutura que inclui um supercomputador e fablabs para utilização das empresas residentes, o Parque conta com 5 centros de desenvolvimento tecnológico e instituições de ensino, como a FATEC, UNIFESP e UNESP.
Segundo Marcelo, o Parque passou para a segunda fase de uma chamada nacional da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), com um projeto para expandir o centro em 7 mil metros quadrados nos próximos dois anos. Se o projeto for aprovado, o Parque deve receber um investimento de cerca de R$ 23 milhões.
Outro projeto do Parque, que deve ganhar corpo nos próximos meses, é um novo centro com foco em soluções para o 5G. Com foco em diversos segmentos como mobilidade, saúde e biotecnologia, o novo hub será impulsionado por uma chamada de startups com modelos de negócio focados na tecnologia de telecomunicações de quinta geração. O novo batch do Nexus está nos estágios finais de definição e será conduzido em parceria com a Ericsson, Claro e Embratel.
Segundo Marcelo, a ideia é criar um centro de excelência em 5G no centro de São José dos Campos, e um laboratório de homologação de soluções, que já sairão do ambiente prontas para entrar no mercado. “O grande desafio do 5G no Brasil não é a tecnologia em si, isso já está na estratégia das grandes operadoras. A questão é como ganhar dinheiro com o 5G, e isso não vai acontecer com o cliente final, e sim no segmento B2B”, ressalta o diretor do Parque.
O executivo nota que o centro já conta com uma antena 5G e está pronto para atender grandes empresas, como a Nestlé, que já testou soluções para a tecnologia no Parque. “Temos condições de testar estas soluções com corporações com a estrutura que já está disponível aqui hoje”, pontua Marcelo.
Além da chamada com foco em 5G, o Parque deve continuar a fazer as chamadas para os outros programas do Nexus, que acontecem duas vezes por ano – Lab, para empresas em estágio inicial de desenvolvimento, e Growth, para startups que já faturam e são escaladas por um período de cerca de dois anos. Outros programas incluem o Scale Up, para empresas ganhando tração e em fase de alto crescimento, que podem optar por se basear no Parque sem passar pela aceleração.
Segundo Marcelo, o funil dos programas do Nexus é pequeno: o centro tende a selecionar entre oito e 12 empresas de uma média de mais de 100 inscrições por batch. Uma vez selecionadas, as dores das startups são identificadas e trilhas de aceleração definidas. Além das oportunidades de networking, espaço de coworking e conexões com investidores e mentorias, a equipe do Nexus acompanha o progresso das startups a cada três meses. “[O acompanhamento trimestral] não é simplesmente um relatório, e sim uma fotografia detalhada de como a startup estes alcançando seus objetivos e o que precisa ser feito para acelerar o processo”, diz o diretor do Parque.
O maior valor para as empresas aceleradas pelo Parque são as conexões com investidores e empresas em estágios mais maduros, que impulsionam o desenvolvimento das startups. Depois de passarem pelo estágio inicial, as startups vão para o Growth. A esta altura, as startups passam a ter um acompanhamento anual, com trilhas de ações específicas com foco na promoção do crescimento da empresa. Exemplos nesta frente incluem a TecSUS, startup com foco na gestão de água, energia e gás através de soluções baseadas em Internet das Coisas (IoT).
A atuação do Nexus é apoiada pelo Escritório de Negócios, um time de mais de 50 consultores que dá apoio às startups em áreas como desenvolvimento de marcas e patentes até marketing, e aspectos como fiscal e tributário, além de internacionalização. Nesta última frente, o Parque também atende startups e empresas consolidadas de tecnologia que queiram se estabelecer no Brasil: um exemplo é a indiana Wipro, que estabeleceu seu braço de robótica e automação através do apoio fornecido pelo Parque.
Além de impulsionar as startups, o trabalho com uma abordagem consultiva também contribui para o desenvolvimento da equipe do Nexus. “Essa atuação junto às startups faz com que consultores busquem informações que normalmente eles não tinham para resolver os desafios. Muitas vezes, essa demanda que vem dos empreendedores vai qualificando também os nossos mentores e parceiros, pois muitas vezes os problemas são coletivos”, diz Marcelo.
Avanços recentes devem continuar a reforçar a reputação do Parque como um centro de excelência para o desenvolvimento de startups. No mês passado, o centro joseense foi alçado ao nível 4 do Cerne, certificação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com o Sebrae. O Cerne é um modelo de maturidade para gestão de operações desse tipo, e o Parque de São José dos Campos foi a primeira organização do país a obter, já na primeira avaliação, a certificação máxima do modelo, cujos níveis vão de 1 até 4.
Além do Nexus, somente a Unitec, incubadora do Tecnosinos, parque tecnológico sediado em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, tem o nível máximo da certificação. A obtenção da certificação é um testamento dos resultados obtidos junto ao ecossistema de startups nos últimos anos, segundo Marcelo. “Além disso, prova que nós temos um processo para chegar ao resultado”, finaliza.
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