As startups demoram cada vez mais para realizar a abertura de seu capital em uma bolsa de valores. Entenda quais os motivos e vantagens de manter o capital fechado por mais tempo.
por-que-o-ipo-ficou-mais-distante. (Foto: GettyImages).
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Por Victor Marques, da CapTable Brasil.
A abertura de capital de uma empresa em uma bolsa de valores costumava ser o principal objetivo de um empreendedor. O IPO – a listagem das ações em um balcão público de negociação – trazia uma aura de relevância e era visto como um selo de aprovação do potencial do negócio.
Não mais.
O mercado de capitais americano dava sinais de que a prática se tornaria menos relevante. Quando, em 2018, Uber, Pinterest e AirBnb eram questionados sobre quando abririam seu capital, a prática de manter-se privada por mais tempo ainda estava em seu princípio. Com resultados mistos, o IPO do Uber por exemplo foi considerado um fiasco por muitos – com ações até hoje com valor menor que o preço alvo do momento da listagem inicial – foi possível observar um adiamento nos IPOs em território americano.
Em 2022, os EUA continuam com grandes nomes do mercado de tecnologia operando como empresas privadas – da SpaceX, da indústria aeroespacial, de Elon Musk; passando pela Stripe, maior fintech americana; até o mensageiro Telegram. Todas elas com valorizações que justificariam o interesse em abrir o capital, mas, até agora, nada.
O desejo de se manter privado cresce junto ao capital disponível no mercado privado: com volumes cada vez maiores de investimento em startups privadas, não é mais obrigatório buscar o IPO para capitalizar um negócio em crescimento. Há muito dinheiro disponível para financiar a inovação antes da abertura de capital.
Alguns motivos para a fuga do IPO são: busca de maior controle, menor escrutínio do mercado, fugir de padrões de governança e aumentar o potencial de inovação do negócio. Entenda como cada um desses itens empurra os IPOs cada vez mais para frente na jornada de uma empresa.
Ao fazer o IPO uma das primeiras consequências é a perda de controle. Em uma abertura de capital tradicional, as ações oferecem direto a voto – algumas empresas adotam ações dual-class para mitigar uma possível menor autonomia para tomar decisões, foi o caso do Google (Alphabet) quando abriu capital.
Ainda assim, as empresas precisam passar a prestar contas aos investidores, entregar relatórios extensivos sobre o negócio, ter uma área de relação com investidores e lidar com as expectativas do mercado. Inevitavelmente, as decisões passam a ser tomadas com maior burocracia e, portanto, de forma mais lenta.
Os requerimentos de estrutura de governança e de controle são outro motivo para adiar um IPO. Conselhos administrativos, estrutura de compliance, departamentos jurídicos numerosos e maior transparência de todos os processos costumam assombrar os empreendedores que escolhem abrir o capital.
Não só pelo desejo de evitar esses entraves, mas também pela possibilidade de conseguir capital de outras maneiras, menos controladoras, a via do IPO fica cada vez menos movimentada e o caminho até lá, mais longo. Imagine que você é fundador de uma startup de sucesso, no caminho para realizar um IPO, mas diversos fundos e investidores oferecem milhões de dólares para participar do seu negócio – sem muitos questionamentos e sem perder o controle – por que você iria optar pelo IPO?
Maior controle, estruturas mais complexas, cada vez mais a empresa vai perdendo a cara de startup e as características – uma delas, a mais marcante, é a capacidade de inovar. Há dados que mostram que é benéfico para a inovação uma empresa se manter fechada.
Os motivos são simples: menor liberdade para investir capital em diferentes áreas, maior controle do orçamento e maior tempo necessário para lidar com o mercado de capitais. Claro, há casos de empresas de tecnologia que foram a público sem perder seu potencial de inovação, mas inevitavelmente as dificuldades são maiores para manter essa cultura em uma empresa de capital aberto.
Independente do motivo que afasta os empreendedores da abertura de capital, se não houvesse uma maneira substituta de captar dinheiro para crescer, todos precisariam se render ao IPO em um momento anterior em suas trajetórias. A diferença está na quantidade de capital disponibilizada pelo Venture Capital – são bilhões de dólares à disposição dos empreendedores, com muito menos burocracia.
A prova da atratividade desse capital é que o número de empresas listadas publicamente nos EUA caiu 52% do final dos anos 90 para 2016. Já o volume investido através de Venture Capital em 2021 foi de US$ 621 bilhões globalmente – mais que o dobro investido em 2020 (US$ 294 bilhões).
Embora a tendência tenha começado nos EUA, outros países já começam a se inspirar nos novos períodos de duração da fase fechada das empresas. No Brasil, exemplos como o Nubank, que passou quase uma década com o capital fechado, e atualmente, QuintoAndar que já está avaliado em mais de US$ 4 bilhões.
A diferença entre o Venture Capital brasileiro e o americano está na falta de liquidez do mercado brasileiro. Como ainda não há, assim como existe nos EUA, legislação que permita a transação de ações em um mercado secundário, para que fundadores, colaboradores e investidores dessas empresas possam vender suas ações é necessário realizar um IPO ou algum evento que confira liquidez ao investimento (como novas rodadas ou M&A). Em breve, é esperada uma atualização na regulamentação desse mercado que permitirá transacionar essas ações de forma facilitada e organizada.
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