Número de usuários da plataforma cresceu, mas perspectivas para o futuro não são muito promissoras. Entenda.
App do Spotify no celular (Foto: Fixelgraphy/Unsplash)
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Por Rodrigo Fernandes
Na semana passada, a Spotify publicou os seus resultados relativos ao 4Q21. Muita gente encontrou motivos para pensar que esse copo está meio cheio.
De fato, este foi o melhor trimestre da história da empresa em termos de crescimento de MAU. Engajamento e retenção também ficaram em níveis bons, de acordo com a declaração deles.
“Com 120 milhões de usuários, nós vimos um engajamento sem precedentes, alta de 29% ano sobre ano com os maiores níveis vindos do público Geração Z.”
“O Q4 foi nosso maior trimestre em crescimento de MAU na história da Spotify.”
No entanto, quando a gente quebra essa curva de crescimento de MAU's (monthly active users) entre aqueles que estão no plano gratuito (ad supported) e os que estão no premium, um outro padrão começa a aparecer.
A curva de adição de novos clientes do serviço de streaming está ficando cada vez mais acelerada no gratuito e cada vez menos acelerada no premium.
O número de usuários tem crescido em ambos os planos, mas a diferença no ganho de usuários a favor do gratuito está cada vez maior.
Para quem acha que isso é uma obviedade, vale observar que nos anos de 2017 e 2018, a empresa estava apresentando um maior crescimento de MAU's no plano pago que no gratuito.
Extrapolando essa tendência, a gente vê uma Spotify cada vez mais parecida com Youtube que com Netflix.
Ou seja, o plano pago está cumprindo o papel secundário de um produto adicional e não o 'core' do negócio – que é efetivamente baseado em ads.
Na verdade, a Spotify vem ficando mais parecido com o Youtube também por compartilhar a visão de “creator economy”.
“E nós achamos que o ecossistema Spotify sozinho irá abranger mais de 50 milhões de creators ativos, o que significa um crescimento dos 11 milhões totais que temos hoje.”
O entrevistador Joe Rogan e todas as suas polêmicas se encontram bem entranhados em meio a essa estratégia.
A fim de se tornar a “casa dos podcasters", a Spotify está ficando em um morde e assopra, mantendo o entrevistador, mas tirando os episódios que eles julgam ser mais problemáticos.
Em busca de escala, eles fazem apostas extremamente perigosas.
A meta é ousada, mas perfeitamente possível. Porém, há um preço (ou a falta dele). Com a meta de sair de 406M para 1 bilhão de usuários, a Spotify vai ter se apoiar ainda mais no plano gratuito.
Em termos de lucratividade, a empresa tem ficado muito próxima do zero a zero.
Em termos de fluxo de caixa livre (FCF), foram gerados apenas US$ 185 milhões no trimestre, isso porque o M&A não foi incluído no cálculo do FCF, que teria ficado ainda menor.
Ou seja, estamos falando de US$ 0,50/ano de FCF por usuário ativo. Repare bem: 50 centavos por ano.
No Facebook, que também é ad based, esse número dá (US$ 39,12 bilhões / US$ 2,912 bilhões) algo torno de US$ 13,43 – 26x mais que a Spotify.
O modelo de negócios da Spotify tem se mostrado muito eficiente na geração de valor para usuário, mas muito fraco na captura de uma parte relevante deste valor.
Devido à “mordida” das gravadoras, a parte musical do negócio não gera (e não talvez nunca venha a gerar) um lucro minimamente interessante.
Por isso, eles estão em busca de obter alguns milhões de criadores de conteúdo que eles possam efetivamente monetizar ao estilo Youtube – sem nenhuma gravadora no meio do caminho.
Até o momento, essa conta não fecha. Com maior escala em termos de criadores de conteúdo, talvez ela comece a ficar mais interessante – mas por enquanto isso não passa de uma aposta.
No entanto, quando (e se esse) dia chegar, a Spotify vai ter um outro desafio: encarar os gigantes da publicidade na Internet.
Mesmo com um otimismo que dificilmente consegue encontrar justificativa nos números, a situação da empresa não parece ser muito confortável em uma visão de médio e longo prazo.
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