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Quando o ego sabota sua comunicação

Como dominar suas mensagens com autoconhecimento, empatia e estratégia para alcançar seus objetivos sem perder sua essência

Quando o ego sabota sua comunicação

Foto: Pexels

, Colunista

10 min

17 jan 2025

Atualizado: 17 jan 2025

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Quantas vezes você já perdeu uma oportunidade porque o seu ego falou mais alto? Na comunicação, o ego não só sabota nossas mensagens, mas pode nos afastar completamente dos nossos objetivos.

Poucos inimigos são tão sutis e poderosos quanto o ego. Em seu livro O Ego é Seu Inimigo, Ryan Holiday nos alerta para essa força interna que nos ilude, inflama e, muitas vezes, nos afasta do que realmente importa. 

  • O ego não é a autoconfiança saudável, nem o orgulho legítimo pelos nossos esforços e conquistas. O ego é aquele impulso que nos faz querer ser validados e impor nossas verdades — mesmo quando isso contraria nossos próprios objetivos.

Holiday divide a relação com o ego em três momentos chave: aspiração, sucesso e fracasso. Colocando de forma bem simplificada, ele diz que, na aspiração, o ego nos distrai com a busca por validação; no sucesso, nos cega com a sensação de invencibilidade; no fracasso, nos bloqueia com culpa ou ressentimento.

Mas como isso se traduz na prática? 

Especialmente na comunicação, o ego pode ser um grande sabotador. Ele faz com que nossas mensagens sejam moldadas pelas nossas emoções e crenças, em vez de focarem no outro, no objetivo e no impacto que queremos gerar. Isso distorce nossas mensagens, pois priorizamos impor nossas verdades ou buscar validação para o que sentimos, muitas vezes nos afastando do que realmente queremos construir.

Permita-me contar uma história para ilustrar:

Certa vez, uma cliente chegou até mim entusiasmada e com um objetivo claro: incentivar uma grande empresa a contratar mulheres para cargos de liderança. 

A organização era amplamente conhecida por sua visão conservadora na forma de fazer negócios, tanto que era comandada exclusivamente por homens, brancos, 60+, com valores e práticas também conservadoras. 

“Eu quero mostrar que eles precisam mudar, que precisam fazer a parte deles por uma sociedade mais justa e equitativa. Preciso que eles se importem!”, me disse, com paixão brilhando nos olhos. Transformar valores e formas de pensar em tão pouco tempo não é uma tarefa simples; na verdade, é bastante audaciosa.

Ela teria 20 minutos para entregar sua mensagem e persuadi-los. Seu público seriam esses homens que compunham a altíssima liderança da companhia. Sem entrar nos detalhes de como essa oportunidade surgiu, ela representava uma rara brecha naquela estrutura.

Você pode imaginar a abertura que ela escolheu? “A ONU estabeleceu como meta para 2030 que as grandes corporações garantam pelo menos 40% de mulheres em cargos de alta liderança para que possamos construir uma sociedade mais justa e com mais equidade.”

Por mais que eu admirasse sua convicção, algo ali não estava certo. Perguntei: “Você acha que esses líderes, com o perfil que têm, se conectam com termos como ‘justiça social’ e ‘equidade’?” Ela me olhou intrigada e, quase de forma defensiva, respondeu: “Mas é o certo! Eles deveriam se importar.”

Naquele momento, percebi que quem falava era o ego dela.

O que ela queria era nobre. Mas, ao insistir em usar a linguagem que validava suas crenças e paixões, estava ignorando completamente o público que precisava persuadir. Ao invés de construir uma ponte, ela construiria um muro, escolhendo termos que muito provavelmente gerariam resistência ao invés de conexão.

Passamos algum tempo pensando sobre essa abordagem. Era fundamental fazê-la entender que ela precisava focar em atingir seu objetivo: fomentar o número de contratações de mulheres para cargos de liderança naquela companhia. 

Veja, o objetivo não era ‘fazê-los pensar como ela’ ou ‘torná-los militantes feministas’. Acontece que, no fundo, ela temia que, ao adequar sua mensagem ao seu público, estaria comprometendo seus valores.

Só que nosso trabalho não era mudar corações e mentes em 20 minutos, mas plantar uma semente que os aproximasse da ação desejada: contratar mais mulheres. Era o mais inteligente que ela poderia fazer em prol dos próprios valores dentro daquele contexto.

O que fazer?

Pesquisamos juntas e encontramos dados que mostravam como a diversidade de gênero em cargos de liderança impacta positivamente os resultados financeiros. 

  • E, embora ela não quisesse que contratassem mulheres apenas por lucro, aceitou que esse era o caminho que mais tocaria o público em questão e a aproximaria de seu próprio objetivo naquela fala.

Na palestra, sua abertura foi direta: “Empresas que promovem mulheres para cargos de alta liderança têm, em média, um aumento de 21% no faturamento anual. Estou aqui para mostrar para vocês porque contratar mulheres é um bom negócio e como vocês podem alcançar esses resultados.”

Deu certo! Não porque os líderes mudaram radicalmente suas crenças, mas porque ela conseguiu fazer com que a ouvissem. Ela conquistou a atenção e o interesse da audiência. E ouvi-la era o primeiro passo para qualquer transformação.

Quando o ego fala mais alto que o objetivo

Essa história é emblemática de como o ego nos sabota na comunicação. Ele nos faz acreditar que estamos sendo fieis a nós mesmos, quando, na verdade, estamos sendo reféns de nossas próprias emoções, paixões e certezas. Para evitar isso, precisamos desenvolver quatro competências fundamentais:

  • Autoconhecimento: é impossível dominar o que não conhecemos. Nossos valores, vieses e crenças moldam o que comunicamos. Ao identificá-los, ganhamos clareza para separar o que é essencial para a mensagem e o que é apenas um reflexo do nosso ego.
  • Empatia: comunicar é, antes de tudo, compreender o outro. Para persuadir, precisamos enxergar o mundo pelos olhos do nosso interlocutor. Quais são suas motivações, medos e resistências? Quando construímos pontes em vez de barreiras, somos mais eficazes.
  • Gestão emocional: a paixão pelo que acreditamos pode ser uma força poderosa, mas, sem inteligência emocional, vira um obstáculo. Gerir as emoções significa equilibrar o que queremos dizer com o que precisamos alcançar em cada situação, através de cada mensagem.
  • Versatilidade: a capacidade de adaptar nosso repertório e linguagem para públicos diversos é o que nos torna verdadeiramente influentes. A autenticidade não está em falar sempre do mesmo jeito, mas em encontrar a melhor forma de transmitir a nossa essência para diferentes contextos.

Em 2025, meu conselho é simples: não deixe o ego ser o maior empecilho entre você e os seus objetivos. Especialmente na comunicação, lembre-se de que o impacto não está no que você quer dizer, mas no que o outro é capaz de ouvir.

Quando superamos nossos impulsos, conhecemos nossos vieses e dimensionamos nosso alcance, descobrimos o verdadeiro poder de comunicar e persuadir.

Por isso, convido você a olhar para sua comunicação sob uma nova perspectiva: dominar sua comunicação é, acima de tudo, um ato de autoconhecimento — não uma questão de performance.

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Imagem de perfil do redator

Priscila é professora do WLP, formação internacional de impacto para lideranças femininas, da StartSe em parceria com a Nova SBE. Ela também é fundadora da Versa, empresa referência em desenvolver habilidades para comunicação em treinamentos corporativos, com foco em Altas-Lideranças e C-Levels. Com mais de 15 anos de experiência, ensina líderes como se tornarem porta-vozes de sua melhor versão. Além de atriz e professora de teatro, possui pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, bem como certificação em neurociência pela PUC-RS

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