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Rappi dá um passo atrás para avançar no varejo

A estratégia da Rappi para que mais pessoas utilizem o serviço é aumentar o número de locais atendidos por entregas ultrarrápidas – serão 300 dark-stores para fazer o plano se tornar realidade.

Rappi dá um passo atrás para avançar no varejo

rappi-passo-atras-avancos-varejo (Foto: Rappi/Divulgação).

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Por Victor Marques, da CapTable Brasil.

Parece um contrassenso, mas para que mais pessoas deixem de ir até o mercado, o plano da Rappi é abrir mais lojas. No entanto, essas lojas não recebem ninguém, a não ser os entregadores da Rappi. As dark-stores, como são chamadas as lojas que atendem apenas às demandas de entrega, sem nenhum contato com o cliente final, fazem parte da estratégia de expansão das entregas em até 10 minutos da Rappi para mais regiões.

A CORRIDA PELA ENTREGA

Até hoje, a maioria dos clientes da startup de delivery utiliza o serviço para compras da semana, maiores ou para compras sem muita urgência, podendo aguardar períodos maiores pelos produtos – mais de 30 minutos e, em alguns casos, agendados para o dia seguinte. 

A próxima fronteira é passar a atender pedidos de maior urgência: os de conveniência – como quando o cliente percebe a falta de um ingrediente no meio de um preparo, ou precisa de um item em poucos minutos. A promessa do serviço é realizar entregas em até dez minutos, com o chamado Rappi Turbo.

Entregar pedidos em dez minutos não é tarefa fácil: exige mais centros de distribuição com capilaridade, mais entregadores e muita inteligência para coordenar a logística de todas as partes. Depois de oferecer o serviço em cidades de maior relevância, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre, Niterói e Campinas, agora o serviço deve chegar a mais dez cidades (Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Londrina, Maringá, entre outras).

Para atender ao crescimento do Rappi Turbo, 128 dark-stores devem estar operando até o final de janeiro e a meta é chegar, em breve, às 300 unidades. Algumas, em regiões com alta demanda, como Copacabana e Itaim, também devem aumentar de tamanho.

Assim, de forma invisível, sem nenhum cliente saber, a Rappi vai se tornando uma grande varejista, uma diferença marcante do início das operações – que ainda faz parte dos serviços oferecidos – onde o aplicativo fazia apenas a intermediação de lojas/supermercados de terceiros com seus usuários. Agora, com lojas próprias, a Rappi passa de intermediador, para varejista. 

Com as informações obtidas entregando pedidos feitos nas lojas parceiras, a startup está unicamente posicionada para entender as necessidades dos moradores de cada região atendida. Com isso, pode construir dark-stores com estoque mais objetivo: composto pelos produtos preferidos de cada região. Além disso, conta com um histórico de períodos de maior movimento, podendo deslocar entregadores para regiões nas janelas exatas de pico de demanda.

OS PEDIDOS SEMANAIS IRÃO ACABAR?

Observando os movimentos, pode parecer que o delivery de compras maiores, com prazo de entrega mais alongado estão com os dias contados. Mas, obviamente, a startup não deixará de atender esse tipo de pedido – que justamente por ser mais variado e com mais produtos, tem prazo maior para entrega. O que a Rappi está construindo com o Rappi Turbo é uma nova vertical de consumo, que não deve competir com o modelo mais popular oferecido atualmente.

Por exemplo, no início, as bebidas geladas eram o item mais popular, hoje, um dos produtos campeões de vendas é o pão. Outros destaques são os produtos de higiene pessoal, como escova, pasta de dente e papel higiênico. São compras feitas quando se esquece de um item ou outro no mercado – ou em uma compra semanal no aplicativo – ou itens recorrentes que precisam de reposição.

Com os dados obtidos nas primeiras cidades e a tecnologia para analisar as informações, em breve a empresa pretende começar até mesmo a antecipar as necessidades dos clientes: por exemplo, se alguém comprou uma escova de dentes há mais de três meses, o aplicativo já irá entender que é o momento de começar a oferecer o item para o cliente. Também, se há uma categoria consumida regularmente, esse cliente tem maior probabilidade de ter interesse em um lançamento daquele segmento.

modalidade-em-expansao-rappi-turbo-promete-entregas-em-10-minutos (Foto: Rappi/Divulgação).

POR QUE IMPORTA?

O mercado de delivery no Brasil dá sinais de que não é fácil competir com um player dominante como o iFood – o Uber Eats já desistiu do mercado (de entrega de restaurantes), por exemplo. Por isso, é importante que a Rappi encontre maneiras de se diferenciar do líder de mercado. Outras gigantes varejistas também já estão de olho no segmento: Americanas, Magalu e Mercado Livre, por exemplo, já tem alguns segmentos de mercado operando em algumas regiões.

Outros, recém-chegados, mas que andam fazendo barulho considerável, como a Daki – que se tornou unicórnio em menos de um ano – já começaram focando em entregas ultrarrápidas, no caso dela em até 15 minutos. Assim como no Rappi Turbo, o diferencial para sobreviver nesse mercado deve ser o mesmo: velocidade.

Eventualmente, todos os players devem passar a oferecer entregas em menos de 20 minutos, mas quem dominar primeiro o maior número de regiões têm maior probabilidade de garantir a fidelidade e um número maior de clientes que sustentem uma operação do tipo. Espaço para conquistar existe: menos de 6% das compras são feitas digitalmente no Brasil – resta saber quem correrá o suficiente para chegar primeiro, ou, ao menos, para fazer sentido permanecer na corrida.

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