Entenda o termo "rotulagem climática" e como tem sido adotado por empresas e clientes ao redor do mundo
, jornalista da StartSe
8 min
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26 jul 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Tainá Freitas
Os leites de aveia da Nude., foodtech criada em 2020, trazem uma informação muito importante em seus rótulos: a da pegada de carbono. A própria matéria-prima, a aveia, foi escolhida pelos fundadores Giovanna Meneghel e Alexander Appel devido ao menor impacto ambiental (de carbono e consumo de água) em comparação à amendoa, castanha, etc.
A foodtech brasileira hoje defende o que é chamado de “rotulagem climática”. No Brasil e no mundo, as empresas que estão vendendo produtos com menor impacto ambiental agora estão informando isso ao consumidor, para que este seja um fator de decisão (além do preço).
O cálculo é feito pela própria Nude e envolve todos os fornecedores e processos da companhia. A empresa conta com a validação da Carbon Cloud, empresa sueca especializada em cálculo de pegada de carbono.
A Nude. conta com diferentes sabores do leite de aveia (original, baunilha, cacau, com cálcio e barista) e o índice varia de acordo com cada um. Da lista, a versão com cálcio é a que tem menor impacto ambiental.
“Nós enviamos [para a Carbon Cloud] os parâmetros do cacau específico do Brasil, por exemplo, e índices da rede elétrica brasileira, que mudam a cada ano. Mas, no cálculo, é avaliada a distância dos centros de distribuição, o tipo de veículo utilizado na logística de transporte, entre outros”, explica Mariana Malufe, líder de sustentabilidade na Nude., em entrevista à StartSe.
Nesta lógica, o impacto em carbono passa a fazer parte das decisões estratégicas da companhia (onde ficam os centros de distribuição, quais são os fornecedores, etc). A preocupação com o custo do produto continua a existir, mas agora há outras variáveis tão relevantes quanto.
Quando perguntada se a sustentabilidade pode encarecer o produto, Malufe é categórica. “Este é um grande mito. Sustentabilidade é otimizar o uso de recursos, fazer mais com menos. Isso não é, necessariamente, mais caro. A curto prazo pode ter um investimento a mais, como o da própria plataforma, mas a médio e longo prazo os investimentos se pagam e dão lucro”, explica.
Ela acredita, ainda, que o custo ambiental dos produtos passará a ser levado em conta pela sociedade em um futuro não tão distante. Em alguns locais, isto já é uma realidade.
A Felix, rede sueca de alimentos, lançou, no ano passado, a “The Climate Store”. A loja temporária precificou os produtos de acordo com o impacto em carbono, não no custo monetário.
Os clientes pagavam com “dióxido de carbono e equivalentes” e possuíam uma cota semanal de 18,9 kg por pessoa. Produtos à base de animal, por exemplo, têm uma pegada de carbono maior do que os plant-based e eram, portanto, mais caros.
“Será animador entender como nossos clientes reagem negociando com a ‘moeda do dióxido de carbono equivalente’ e ver se eles conseguem se manter na cota semanal”, disse Thomas Sjörbeg, gerente de marketing da Felix, no lançamento. “Eu acredito que será revelador para muitos ver como algumas escolhas afetam o que você pode comprar em uma única sacola”.
A marca também reúne o impacto de carbono de cada produto em seu site e traz a média atual de produtos da Suécia, a efeito de comparação.
A rotulagem climática não é obrigatória em nenhum lugar do mundo -- nem mesmo na Suécia. A iniciativa, no entanto, está se tornando uma tendência. No Brasil, além da Nude., a cervejaria Praya está trazendo em suas comunicações que é uma empresa carbono neutro.
Isso acontece porque a empresa calcula seu impacto ambiental e o compensa através de projetos específicos. No caso da Praya, é através do apoio ao Projeto de Carbono implementado no Aterro Bandeirantes.
Já ao redor do mundo, a Quorn, marca de carne plant-based do Reino Unido, passou a trazer o impacto em carbono de seus produtos. No entanto, ela foi advertida por propaganda enganosa, pois trouxe em um anúncio na televisão que os produtos ajudariam a “diminuir” a emissão de carbono no planeta.
O caso nos mostra que, ao passo que a transparência ambiental é importante, a mesma transparência deve existir na comunicação aos consumidores. Embora a tolerância ao erro (no sentido de errar e aprender com ele) esteja cada vez mais difundida no mundo das startups, o cenário não é tão amigável quando os clientes se sentem enganados.
Isso porque existe o estigma do greenwashing -- quando é defendido o discurso da sustentabilidade, mas a empresa não toma decisões reais que mudem este cenário. “Muitas grandes empresas compram créditos de carbono e sentam no sofá como se tudo já estivesse feito. É necessário reduzir a emissão de carbono em todas as etapas do processo, não apenas compensá-lo”, defende Mariana Malufe, diretora de sustentabilidade da Nude.
Uma pesquisa da Universidade de Copenhagen avaliou o impacto da rotulagem climática. Em um experimento, 803 participantes puderam escolher seis opções de carne e carne plant-based, sem que fosse informada a rotulagem climática.
Deste número, 33% dos participantes disseram não desejar saber a informação climática sobre os produtos escolhidos. No entanto, em uma nova rodada de escolhas, agora com com todas as opções contendo o rótulo de impacto ambiental, mudanças aconteceram.
Os consumidores passaram a avaliar o impacto de suas escolhas. No primeiro grupo, que desejou saber o impacto ambiental, a redução foi de 32%. Para o grupo que se disse não interessado, a diminuição foi menor, mas também aconteceu: 12%.
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Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Apresenta o podcast Agora em 10 na StartSe e também atua na área de Comunidades na empresa. É especialista em inovação, tecnologia e negócios.
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