Diferente dos unicórnios, as startups camelos crescem de maneira sustentável, com gastos controlados e com perspectivas de lucro.
saem-unicornios-entram-camelos-startups (Foto: GettyImages)
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6 min
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5 jul 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Juliana Irala, da CapTable Brasil.
Em 2019, uma startup levaria até cinco anos para virar unicórnio – nome dado àquelas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Em 2021, essa espécie “rara” ficou tão comum e de ascensão tão rápida que algumas startups levaram apenas 12 meses para receber a mágica classificação. Hoje, já são mais de 350 unicórnios ao redor do mundo.
A maioria deles nasceu envolto a um período de capital abundante e alta liquidez para investimento em startups de tecnologia. Só entre 2020 e 2021, foram investidos R$ 27,2 bilhões e R$ 47,4 bilhões, respectivamente, apresentando um aumento de 174% em um ano.
Mais do que um mero valor de mercado, os unicórnios representam um modelo de negócio, onde um crescimento rápido e agressivo é almejado. Para entregarem esse crescimento acelerado, no entanto, as startups tiveram de abrir mão de lucratividade. E isso, até então, não era problema para os investidores, que, mesmo testemunhando operações de alta queima de caixa, acreditavam no lucro a longo prazo e no futuro promissor das suas investidas.
Essa dinâmica funcionou por um tempo. Até que inflação, recessões econômicas, instabilidades políticas e baixas astronômicas em bolsas ao redor do mundo colocaram uma bomba relógio no colo dos fundadores de startups, que tiveram de rever rotas para conseguirem sobreviver.
Nisso, saíram os unicórnios, entraram os camelos.
Diferentemente dos unicórnios, os camelos não são criaturas mágicas. Eles são reais, resilientes, sobrevivem sem água e comida por meses e, quando preciso, conseguem dar impulsos com velocidade. Assim como esses animais, as startups “camelos”, priorizam a sustentabilidade, sobrevivência e têm muito mais resiliência.
Com menos capital girando, as startups camelos têm seus gastos mais sincronizados com a sua curva de crescimento. Por exemplo, novas contratações são justificadas por crescimentos em receita e investimentos em marketing têm de crescer de modo apropriado com o negócio.
Saber quando acelerar, de forma sustentável, é uma das estratégias dos camelos. Essas empresas ficam atentas às oscilações e tendências do mercado, da concorrência e da capacidade interna para decidir qual o momento ideal para dar o “sprint” necessário.
Diferente dos “unicórnios do Vale do Silício”, que estão dispostos a subsidiar seus produtos porque há capital de sobra e eficiência é julgada pelo crescimento da base de clientes, dando menos atenção aos custos e à lucratividade, os camelos entendem que o valor do produto final não deveria ser uma barreira à sua adoção, mas que reflete sua qualidade e posicionamento no mercado.
Nisso, porque um dos atributos das startups camelos é resiliência, a qualidade um dos tripés que irão sustentar e dar capacidade para que elas continuem crescendo.
A Omie é um exemplo de startup que procura crescer mantendo seus unit economics saudáveis. Em meio a um período de maré baixa do mercado, a startup não freou seus planos de expansão e continuará contratando – passará de 1,7 mil funcionários para 2,1 mil até o final do ano.
A Omie captou R$ 580 milhões em setembro do ano passado. E, um mês depois, teve rodada com a chinesa Tencent, de valor não divulgado. Hoje, a startup tem uma margem bruta de 75% e acredita que sua taxa de crescimento a levará para um equilíbrio financeiro até meados de 2023... e ainda com folga de caixa.
"É uma composição de timing de captação e entre lucratividade", diz Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie. “Se a startup tem margem bruta alta e pode manobrar para a lucratividade, não precisa desacelerar".
Um outro exemplo é a Shopper, startup que entrega itens essenciais na casa das pessoas, como produtos de limpeza e higiene pessoal, a preços até 40% mais baratos. Depois de levantar R$ 260 milhões em duas captações, uma em março e outra em setembro, a Shopper já conta com 1.650 funcionários e vai seguir contratando uma média de 100 por mês até dezembro.
Além de terem captado grandes somas de capital ano passado, Omie e Shopper, apesar de serem deficitárias, têm produtos e serviços que dão lucro, quando se tira da conta o investimento que está sendo feito para crescer de forma acelerada.
As regras do ecossistema de startups costumavam deixar investidores de outros tipos de ativos de queixo caído. “Lucro não importa”, “estamos investindo baseados no valor futuro da empresa” ou “precisamos crescer a todo custo” eram afirmações frequentes nesse mercado, mas que agora vem desaparecendo em um mercado mais exigente.
Para as startups camelos, sobrevivência é a estratégia principal, e isso leva tempo. Nesse período, os empreendedores desenvolvem um modelo de negócio sólido, criam um produto interessante e de qualidade para os clientes e estruturam a distribuição com clareza, afinal, eles entendem que a construção de um negócio de sucesso não é de curta distância e que não importa quem chega antes ao mercado, mas quem sobrevive mais tempo nele.
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Victor Marques é Head de Conteúdo na Captable, maior hub de investimentos em startups do Brasil, que conecta seus mais de 7000 investidores a empreendedores com negócios inovadores. Escreve há mais de dois anos sobre inovação. Formado em Letras e Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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