O anúncio tinha potencial, mas levantou discussões importantes sobre contratação no mercado de startups. Entenda
Mulher trabalhando em notebook em escritório (foto: LinkedIn Sales Solutions/Unsplash)
, Jornalista
6 min
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23 mar 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Camila Petry Feiler
Sim, a Husky, fintech que facilita transferências internacionais para influenciadores digitais, streamers ou profissionais que prestam serviços para empresas no exterior e recebem em moeda estrangeira, anunciou que a partir de agora todos os funcionários da empresa vão passar a receber pelo menos R$ 7 mil reais por mês.
Há 6 anos no mercado, eles dedicam o marco à escalada do negócio. “Nosso pessoal faz parte do crescimento e da jornada da Husky, nada mais justo que a remuneração acompanhe todos esses bons resultados”, relata Tiago Santos, CEO da empresa, em comunicado. A Husky tem uma projeção de atingir a marca de R$ 3 bilhões em pagamentos movimentados até o final 2022, um aumento de 200% em relação ao volume financeiro total processado até o momento pela startup.
A empresa diz que tomou a decisão com base em uma pesquisa sobre renda e custo de vida no Brasil realizada pelo IBGE, que aponta que apenas 5% da população recebe acima desse valor, o que pode trazer tranquilidade, qualidade de vida e incentivar o crescimento profissional de quem está na empresa.
A partir do momento em que o anúncio foi feito oficialmente, o que parecia uma atitude louvável tomou outros rumos. Por que? Muito tem se questionado sobre o modelo de contratação: as vagas anunciadas pela empresa na Gupy são no modelo Pessoa Jurídica (PJ) e não CLT.
Dessa forma, o profissional teria gastos que transformariam os R$ 7 mil em um valor menos atrativo. Um dos comentários no post da empresa no LinkedIn diz: “Tava lindo até ver a forma de contratação e que não tem benefícios de saúde. Quase caímos na pegadinha, hein.”
Outros apontam que a medida tem seu valor, sim. “Levo super em consideração que as vagas são PJ, mas, mesmo assim, acredito que esse seja um caminho que me dá mais gás pra criticar e buscar soluções pro cenário trabalhista brasileiro. Já ouvi de RH, quando solicitei aumentos justos, que eu deveria trocar de apartamento pra fazer as contas caberem no salário ridículo que me pagavam, por exemplo. Então, quando vejo avanços como o desse post, reconheço alguma esperança!”, aponta outro comentário.
A Husky tem investido e anunciado sua cultura como chamariz para talentos. Além de hierarquia horizontal, onde o tratamento é igualitário, eles seguem sem escritório, mantendo o time remoto e a comunicação assíncrona. Liberdade e autonomia é o segredo de muitas corporações, como o Google, e também o que vem ganhando o coração dos nômades digitais.
Licença maternidade/paternidade? Eles dizem que é possível trabalhar part-time a partir do sétimo mês da gravidez, e sair para curtir a paternidade/maternidade por mais 12 semanas se você tem ou adota um(a) filho(a), e mais 4 semanas de part-time para se readaptar quando estiver voltando. Esses períodos todos são gerenciados por você, ou seja, você define a ordem. Válido para mães e pais.
Soma-se ainda a transparência completa da gestão da empresa, possibilidades de partnership e folga - “Não temos limite máximo de dias de descanso no ano.”
Existem alguns pontos aqui resvalando a discussão: salário, salário emocional e o impacto das redes sociais.
Ao lançar uma notícia que envolve valores e salários, a empresa não traz luz a todos os pontos da questão: contratação PJ, quantos funcionários vão ser afetados e o impacto no ecossistema. Mas ela coloca em jogo a transparência salarial, tema em voga, e também o valor do salário emocional. Se o que a pessoa busca é um sistema descentralizado, que oferece chances de crescimento e o valor faz sentido, é o match naquele momento da carreira dela.
E as redes sociais, hein? Não tem como negar, a notícia correu e gerou muito burburinho que não deve ser negligenciado e nem vai ser silenciado. Até o momento, são quase 300 comentários e apenas os positivos foram respondidos pela empresa (até o momento da publicação). No fim, a sensação que dá é que a empresa não está fazendo nada novo, mas usou um tom de grandiosidade no anúncio. Será que ela ganha com a polêmica e vai dar conta de conversar com o público?
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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