Os down rounds passaram a acontecer de maneira mais marcante a partir da metade do ano passado, o que indica que eles devem continuar em 2023.
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8 min
•
1 mar 2023
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Para um empreendedor, poucas coisas são mais difíceis de engolir do que sofrer um down round. Um down round é quando a startup capta uma nova rodada de investimentos com valor de mercado inferior à última. Quando isso acontece, os investidores conseguem fatias maiores do negócio por preços menores.
As “rodadas de baixa”, na tradução literal, passaram a acontecer de maneira mais marcante a partir da metade do ano passado.
De acordo com a Global Data, o volume de investimentos em startups nos primeiros nove meses de 2022 caiu 33% em relação ao mesmo período de 2021. Mais para o final do ano, desesperadas por dinheiro, algumas startups venderam participações com descontos que chegaram a 50%.
Embora as desvalorizações tenham atingido todo o mercado, quem sentiu o baque com mais força foram as gigantes.
BlockFi, Klarna e Stripe são exemplos de gigantes que tiveram que reduzir seus valuations para negociar novas rodadas. Respectivamente, seus valuations caíram de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão, de US$ 45,6 bilhões para US$ 6,7 bilhões e de US$ 95 bilhões para US$ 74 bilhões.
Tudo indica que esses movimentos devem continuar acontecendo em 2023. Em um período de maré baixa, quem tem dinheiro para financiar apenas doze meses de operação, ou menos, está particularmente vulnerável a sofrer desvalorizações – e até mesmo aquelas mais saudáveis correm esse risco quando os valuations de negócios similares despencam.
Estruturar rodadas internas é uma das maneiras que os empreendedores encontraram para evitar que o valor dos seus negócios caísse pela metade. Nelas, as startups fazem acordos com os seus investidores atuais para conseguir cheques adicionais, às vezes até oferecendo algumas vantagens, como descontos em ações em uma futura oferta pública.
Alguns investidores estão dispostos a não olhar para o valuation e injetar mais US$ 5 milhões em uma startup em que já colocaram US$ 100 milhões, por exemplo, para ajudar o negócio a se recuperar e para proteger seu investimento inicial.
Geralmente, essas rodadas acontecem quando a startup busca novos investimentos junto a fundos, mas não consegue manter o mesmo valuation da rodada anterior. Assim, a saída é aceitar cheques menores para garantir o caixa necessário para navegar durante esse período mais seco do mercado.
Outra estratégia de quem conseguiu driblar o down-round em 2022 é prometer aos investidores um break-even mais imediato, tirando o pé do acelerador no crescimento. Foi o caso da NotCo, que recebeu mais de US$ 70 milhões na rodada mais recente, sem sofrer desvalorização.
Para não correr o risco de precisar novamente de capital em pouco tempo, a NotCo já alegou que deve se tornar lucrativa em dois anos, quando o plano original previa atingir o break-even em cinco – e, para isso, sacrificará o crescimento e aumentará as margens.
Há algumas medidas que os empreendedores podem tomar para evitar que suas startups sofram um down round:
1. Gestão eficaz de caixa: é fundamental gerenciar o caixa de forma eficiente e planejada, de modo que a startup possa cumprir suas metas de crescimento sem a necessidade de levantar mais capital. Isso pode incluir cortar custos desnecessários e priorizar investimentos de acordo com sua rentabilidade potencial.
2. Metas realistas: estabelecer metas de crescimento e desempenho realistas e alcançáveis é essencial para evitar uma queda na avaliação da startup. É importante definir objetivos que estejam alinhados com a capacidade da empresa de gerar receita e crescer de forma sustentável.
3. Comunicação efetiva: manter uma comunicação transparente e efetiva com os investidores é importante para manter a confiança e o interesse deles na startup. Isso pode incluir atualizações regulares sobre o desempenho da empresa e a estratégia de crescimento.
4. Diversificação de fontes de investimento: diversificar as fontes de financiamento pode ajudar a reduzir o risco de depender de um único investidor ou fonte de financiamento. Isso pode incluir buscar financiamento de investidores anjo, crowdfunding, empréstimos e outras opções de financiamento.
Por aqui, as desvalorizações ainda não aconteceram de maneira tão expressiva, mas, desde o ano passado, as startups brasileiras estão adiando rodadas para preservar seus valuations.
Esse é um desafio especial para aquelas da Série B em diante, que estão “se segurando” com as rodadas que captaram em 2020 e 2021 e que possuíam valuations de duas a três rodadas para frente.
No estágio inicial, grande parte dos ajustes já foram feitos de forma mais rápida.
Para alguns especialistas, para aquelas startups que terão inevitavelmente que enfrentar um down round, o movimento pode não ser tão ruim, porque elas podem significar a sobrevivência durante o período de escassez.
"Essa correção de mercado é natural depois de taxas de juros muito baixas que criaram um certo exagero, mas agora diminui muito a pressão competitiva e é um ótimo momento", disse Eric Acher, sócio-fundador da Monashees, em um evento do BTG Pactual.
Acher também recomendou aos empreendedores a esperarem de um a dois anos de maior dificuldade, com investimentos mais seletivos e investidores em modo de espera para ver como serão os ajustes de valuation – o que acabará empurrando a liquidez mais para frente.
Já Cassio Spina, cofundador da Anjos do Brasil, aconselha que os empreendedores prestem atenção na diluição do cap table em sua startup, porque ela pode comprometer o futuro do negócio.
De acordo com Spina, nas negociações das rodadas, o empreendedor pode tentar manter intacta (ou até aumentar) a avaliação de mercado da startup, mas, para isso, precisará diminuir a própria participação, o que nem sempre é bem-aceito pelos investidores.
Além disso, a diluição pode também desanimar o fundador, que se vê menos “dono” do negócio, com menos poder de decisão e menos motivado para entregar os resultados prometidos aos fundos.
Por isso, para o especialista, a melhor recomendação nesse cenário é segurar o caixa de rodadas anteriores até uma nova mudança no mercado.
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Juliana Irala é produtora de conteúdo na Captable, plataforma de investimentos da StartSe, que conecta mais de 7 mil investidores a negócios inovadores. Formada em Jornalismo pela ESPM, tem mais de 4 anos de experiência em produção de conteúdo textual e audiovisual.
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