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5 set 2024
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Atualizado: 5 set 2024
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A suspensão do X no Brasil continua dando o que falar. Desde que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio da rede social no país no último fim de semana, o que mais se vê por aí são especulações – assim como todo o auê do próprio Elon Musk em torno do assunto – sobre como essa medida pode impactar as empresas e o ambiente de negócios no país. Para fontes ouvidas pelo Startups, porém, o X fora do ar tem um impacto "praticamente nulo" nos negócios locais.
"Ninguém está falando de prejuízo no marketing, nem nas marcas. Não vi esse debate em nenhum grupo", afirmou um executivo do ecossistema, em conversa com a reportagem do Startups. Segundo a fonte, que preferiu não se identificar ("isso virou uma discussão política", disse ela), é possível que o X tenha manchado sua reputação nessa briga.
Em um grupo de WhatsApp com cerca de 200 a 300 heads de branding de empresas tech, a impressão é de que possíveis prejuízos com a suspensão do X não são relevantes, visto que, para a maioria das marcas, o Twitter há tempos não era uma prioridade. "O Twitter não era nosso foco, então o impacto foi praticamente nulo", disse um dos integrantes.
Fernando Moulin, partner da Sponsorb, uma consultoria boutique de business performance, explica que o X vinha sendo usado no Brasil por nichos, como empresas de conteúdo jornalístico, mas a monetização das empresas na plataforma já vinha sofrendo bastante desde a época em que a rede social ainda se chamava Twitter.
"Esse foi um dos motivos que fizeram com que as ações da empresa caíssem muito, os anunciantes já não investiam mais. E isso fez com que o próprio Twitter colocasse suas ações à venda, até que o Elon Musk comprasse a operação. Para os negócios no Brasil, os impactos serão pontuais, são poucas as empresas que dependiam dessa rede para gerar negócios. Era muito mais para fins de informação ou divulgação de mensagens – desde mensagens de ódio até mensagens específicas para alguns nichos. Mas eu não vejo grandes impactos nos negócios para nenhuma operação relevante", avalia.
Todos esses relatos entram em linha com os "dramas" vividos pela rede social desde que Elon Musk assumiu o comando da companhia, no fim de 2022. Segundo dados da Bloomberg, a receita do antigo Twitter com anúncios em 2023 foi estimada em US$ 2,5 bilhões, um valor aproximadamente US$ 1,5 bilhão inferior ao alcançado no ano anterior. Aliás, a resposta de Elon Musk aos anunciantes em fuga foi pouco apaziguadora.
Em dezembro passado, em um painel com o The New York Times, Elon mandou anunciantes do X se “f@$3rem”, e ainda jogou a culpa neles caso a rede social viesse a fechar, dizendo que eles teriam que “se explicar à Terra”, seja lá o que isso quer dizer.
Pra ter um contexto mais amplo, vale salientar que a implosão do X no Brasil até antecede toda a treta com Alexandre de Moraes. Desde fevereiro do ano passado (poucos meses após Elon Musk comprar o Twitter), quando Fiamma Zarife deixou o cargo de country manager no Brasil, o X estava sem liderança no país e já operava com um staff limitado.
Entretanto desde o começo desse ano, Elon Musk entrou em rota de colisão com Alexandre de Moraes e suas decisões judiciais, comentando em tweets que a disputa com Moraes era uma questão de princípios, e que estava disposto a fechar a empresa no Brasil, o que culminou no ocorrido nos últimos dias.
Embora muitos tenham "comprado" o lado de Elon Musk e sua defesa de liberdade de expressão, outros analistas de mercado resolveram jogar luz sobre outras possibilidades. Segundo o colunista e consultor Guilherme Ravache, o "circo" montado por Musk pode ser uma tentativa de reduzir perdas com a compra do X. Vale lembrar que ele comprou a rede social por US$ 44 bilhões, e hoje ela já vale menos que a metade do valor pago - e tem investidor insatisfeito com isso.
"Ironicamente, para Musk talvez seja um bom negócio abandonar o Brasil com o X. Por aqui a receita média por usuário é significativamente menor do que em países como os EUA, Canadá e a Europa, o que torna o Brasil bem menos lucrativo (...) Musk pode estar usando a saída do país para economizar recursos e ainda melhorar sua imagem pessoal como um defensor da liberdade de expressão, alegando que a saída é uma forma de evitar censura", pontuou Guilherme em uma publicação no seu perfil no LinkedIn.
Apesar de os impactos diretos nas operações serem pouco relevantes, investidores defendem que, para o ambiente de negócios no país, a atuação do STF pode ser vista como negativa. É que, ao suspender o X, o Brasil entra para uma lista de países controversos, como Rússia, China e Venezuela, onde a rede social também é bloqueada.
No sábado, o bilionário de Wall Street Bill Ackman, fundador da Pershing Square Capital, gestora com cerca de US$ 16 bilhões em ativos, chegou a dizer que a suspensão do X e o bloqueio nas contas da Starlink colocam o Brasil em um "rápido caminho para se tornar um mercado não investível".
Carlos Simonsen, cofundador da Upload Ventures, diz que a decisão do Judiciário foi "péssima" e "autoritária, semelhante ao estilo de Putin". "Isso será desastroso para a reputação do Brasil em termos de investimentos externos", afirma.
Apesar de ressaltar que as atitudes de Elon Musk podem estar sujeitas a críticas, Carlos condena a decisão do STF de aplicar uma multa de R$ 50 mil para usuários que acessarem o X por meio de ferramentas como o VPN. "A escolha do veículo de comunicação deve sempre ser do usuário final. Interferências nesse nível só foram vistas recentemente na Rússia e na China", aponta.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destaca que, apesar de a fala de Bill Ackman estar carregada de vieses, ela reflete visões de outros investidores. "Você pode ou não gostar do Elon Musk, mas essa supressão de direitos individuais e esse controle de veículos de comunicação de massa é muito ruim. O Twitter é bloqueado em oito países, mas grande parte dos casos são atrelados a questões políticas e de segurança, como Irã, Venezuela. Querendo ou não, o Brasil se torna semelhante a esses casos", pondera.
Em termos de captação de investimentos estrangeiros, é desfavorável para o Brasil se colocar nessa lista, diz o estrategista. Ele acredita que o caso brasileiro seja diferente da China, que com todas as incoerências políticas, ainda consegue atrair recursos internacionais.
"A gente não tem alguns pontos que atraem investidores para lá. Nosso mercado consumidor é muito menor que a China, por exemplo. Do ponto de vista de ambiente de negócios, essa postura do Judiciário atrapalha. Além disso, o bloqueio da Starlink só por ser uma empresa do Elon Musk pega muito mal. Tem investidores de grande porte que estão investindo nessa nova ideia, que com certeza não estão nem um pouco felizes com esse tipo de determinação. Isso acaba reverberando", finaliza.
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