Nesta coluna, Priscila Schmidt, especialista em comunicação para alta liderança, analisa a dualidade intrigante do cofundador da Apple. Confira!
Steve Jobs (foto: Tim Mosenfelder / Correspondente via Getty Images)
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10 min
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12 jun 2023
•
Atualizado: 16 jun 2023
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A comunicação desempenha um papel fundamental para a liderança, permitindo que os líderes transmitam suas ideias, inspirem suas equipes e influenciem o sucesso de uma organização.
Frequentemente, em treinamentos de comunicação, exemplos como Barack Obama e Steve Jobs são citados como referências. No entanto, quando nos aprofundamos nesse tema, surgem questionamentos relevantes.
Recentemente, uma cliente me perguntou: "Mas Steve Jobs era mesmo um grande comunicador?" Essa pergunta ultrapassa o senso comum e nos leva a uma análise mais profunda das habilidades de comunicação de um líder. Vamos explorar essa questão a partir do exemplo de Jobs.
Steve Jobs, cofundador da Apple, era conhecido por suas apresentações memoráveis e habilidades de comunicação cativantes. Ele dominava a arte de explicar suas ideias com clareza e envolvimento, recorrendo a metáforas, histórias e exemplos concretos.
Além disso, Jobs era um exímio vendedor, capaz de convencer investidores a acreditar na Apple, mesmo nos momentos mais desafiadores da empresa. Sua habilidade de comunicação não apenas levou o nome da Apple além, mas também inspirou sua equipe a trabalhar em projetos inovadores, impulsionados pela paixão e pelo propósito de Jobs.
No entanto, ao refletirmos sobre a amplitude da comunicação em liderança, é necessário considerar tanto a comunicação para o grande público quanto a comunicação interpessoal.
Jobs, um gênio da tecnologia, desempenhava o papel de visionário e porta-voz da Apple, enquanto Steve Wozniak, seu parceiro, era responsável pela execução das ideias ousadas que ambos concebiam.
Essa dinâmica de liderança evidencia que a comunicação para o público externo pode ser dominada por habilidades retóricas e de oratória, enquanto a comunicação interpessoal requer inteligência comunicacional e assertividade.
No entanto, ao explorarmos mais a fundo a trajetória de Steve Jobs, encontramos um paradoxo intrigante:
Depoimentos de ex-colaboradores revelam níveis alarmantes de estresse, pânico e desconexão. Os registros mostram casos de acidentes fatais e negligência nas medidas de segurança em algumas fábricas fornecedoras da Apple, como a Foxconn, onde ocorreram, em um período de dois anos, dezoito suicídios, segundo Yukari Iwatani Kane, autora de Haunted Impire - Apple After Steve Jobs. Esses relatos nos confrontam com uma realidade perturbadora e nos levam a questionar se Jobs era, de fato, do ponto de vista da comunicação e da liderança, um modelo.
Enquanto Jobs alcançou resultados excepcionais, precisamos nos perguntar a que custo: famílias desestruturadas, carreiras prejudicadas, mentes abaladas e vidas marcadas para sempre.
É inegável que Jobs deixou um legado significativo na história da tecnologia. No entanto, devemos reconhecer que sua liderança foi baseada em um estilo dominador, em que seus seguidores o viam como um oráculo e seus subordinados o temiam como um chefe tirano. Esse é o pior sentido da palavra "chefe".
Portanto, em uma empresa, ao refletirmos sobre a comunicação, é essencial que as altas lideranças façam sua lição de casa. É necessário desenvolver tanto as habilidades de porta-voz, para alavancar a companhia, quanto habilidades de comunicação interpessoal, para alavancar as pessoas. A liderança eficaz exige um equilíbrio entre a capacidade de comunicar uma visão persuasiva e a habilidade de se conectar verdadeiramente com as pessoas.
Um líder verdadeiro é capaz de mobilizar um grupo de pessoas comuns, organizadas e lideradas, para alcançar feitos extraordinários sem abrir mão de uma comunicação que inspire, respeite e promova um ambiente saudável de trabalho. Steve Jobs pode ter sido um grande orador e um ícone da história, mas sua incapacidade de se conectar verdadeiramente com outros seres humanos é um aspecto que não podemos ignorar.
A comunicação em liderança requer um constante desenvolvimento de habilidades, olhando para esses dois universos da comunicação. A responsabilidade de um líder vai além do sucesso de uma empresa, ela trata do sucesso de pessoas. Envolve a construção de uma cultura organizacional saudável e funcional, cuidando paralelamente dos resultados e do bem-estar de todos os envolvidos.
Como você pode melhorar paralelamente as habilidades de comunicação para ambos contextos:
Conhecer e dominar os aspectos da sua expressividade é muito importante para você se tornar um orador e uma liderança mais eficaz. Um treinamento de oratória ministrado corretamente pode dar conta desta habilidade que será útil tanto para a posição de porta-voz quanto para a posição de gestão de pessoas.
Existe uma frase de Dale Carnegie que diz que pessoas interessadas se tornam pessoas interessantes. Quanto maior for o seu interesse pelo outro, mais você irá desenvolver a sua empatia, competência fundamental para liderar bem, construindo um time que trabalha para resultados excepcionais mas sem abrir mão do bem estar do de cada indivíduo.
Não importa se é uma apresentação para 300 pessoas ou se é uma reunião individual de feedback, a preparação e o treino são fundamentais em todos os contextos. Para que você escolha as expressões, o tom de voz, as palavras e a linguagem adequada para cada contexto e interlocutor.
No final das contas, a pergunta da minha cliente nos trouxe uma reflexão importante sobre a complexidade da comunicação efetiva para lideranças, não se trata apenas de apresentações brilhantes e persuasivas, é sobre a capacidade de se conectar, inspirar e construir relacionamentos duradouros.
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Priscila é professora do WLP, formação internacional de impacto para lideranças femininas, da StartSe em parceria com a Nova SBE. Ela também é fundadora da Versa, empresa referência em desenvolver habilidades para comunicação em treinamentos corporativos, com foco em Altas-Lideranças e C-Levels. Com mais de 15 anos de experiência, ensina líderes como se tornarem porta-vozes de sua melhor versão. Além de atriz e professora de teatro, possui pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, bem como certificação em neurociência pela PUC-RS
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