A união entre conhecimento acadêmico e inovação tecnológica na saúde traz novas possibilidades para redução dos erros no mundo.
Cientista estudando DNA em labortório (foto: janiecbros/Getty)
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Por Belisa Frangione
Um levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde comprovou que a ocorrência de erros médicos vem aumentando. São pelo menos cinco mortes por minuto no mundo e 2,6 milhões de mortes por ano nos países de baixa e média renda.
No Brasil, dados do relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, realizado em 2020, apontaram que, em 2019, foram realizadas um total de 459.076 demandas judicializadas relacionadas à saúde. Já nos Estados Unidos, os erros médicos seguem sendo uma das principais causas de processos, sendo superior aos decorrentes de cirurgias e procedimentos, de administração de medicamentos e de segurança do paciente.
De modo geral, os erros médicos são classificados em três tipos: negligência, que são os erros resultantes de falta de atenção ou cuidado; imperícia, decorrentes da falta de total capacidade do médico de realizar determinado procedimento; e imprudência, quando o médico realiza um procedimento não indicado ou não comprovado.
Eduardo Moura, Médico e Diretor de Pesquisa e Inovação da PEBMED/Afya, detalha que os erros de diagnóstico são, além da principal causa de processos, uma das principais causas de morte, e que se considerássemos erro de diagnóstico como doença, ele seria a 6ª doença que mais mata.
“A incidência de erros diagnósticos segue uma média de 10-15% na maioria das especialidades médicas. A literatura em erros diagnósticos indica que a principal causa, presente, em até 75% dos casos, são fatores cognitivos, ou seja, os famosos vieses cognitivos, que afastam os médicos do diagnóstico correto”.
Moura reforça que o maior problema que contribui para a propagação dos erros diagnósticos é a ausência de feedbacks. Para ele, o serviço de saúde ainda é uma estrutura extremamente fechada, uma verdadeira "caixa-preta”.
“Embora tenhamos avançado muito em monitorar métricas de qualidade da assistência, ainda não construímos um sistema sólido capaz de identificar os erros cometidos e gerar feedbacks para os profissionais, com o genuíno intuito do aprimoramento. Os profissionais estão cegos sobre seus próprios erros”.
O processo diagnóstico é, possivelmente, a decisão mais complexa que um médico precisa tomar. Ele é baseado na integração de dados imprecisos provenientes de múltiplas fontes, inclusive de fontes humanas.
O pai da medicina moderna, Sir William Osler, já dizia desde o século 19 que a medicina é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidades. Uma premissa básica é que, onde há probabilidade, há erro: se trabalhamos sempre com o que é mais provável, eventualmente deixamos escapar algo inesperado.
O Diretor da PEBMED/Afya opina que é necessário reconhecer precocemente esses erros e trabalhar para preveni-los. Ele também lamenta que ainda hoje, apesar de toda a tecnologia disponível, a medicina ainda falha nesse aspecto.
“As vulnerabilidades do processo são principalmente derivadas dessa complexidade: cerca de 80% dos erros de diagnóstico são decorrentes da integração de dados de maneira incorreta na mente do tomador de decisão. Ou seja, não é uma questão puramente de falta de conhecimento médico, ou de uma coleta de dados inadequada, seja pela anamnese ou pelos exames complementares”.
Hoje já existem ferramentas de suporte ao tratamento que monitoram continuamente o processo de prescrição médica por via digital e avisam em caso de potenciais interações medicamentosas, alergias e incompatibilidades de administração. Há ainda protocolos eletrônicos que guiam o médico na abordagem ao paciente, alertas de tempo prolongado de cateteres invasivos, entre outros.
“Especificamente para o contexto do diagnóstico, as principais ferramentas de apoio são os geradores de diagnóstico diferencial, que ajudam o médico a considerar doenças na abordagem diagnóstica do caso, e as ferramentas de apoio à beira leito, como o Whitebook, que oferece informações precisas e práticas para uma tomada de decisão mais segura”, afirma Moura.
O profissional avalia que é importante destacar que as ferramentas de suporte à decisão comprovadamente demonstram valor em diminuir a chance de erros.
“Muitas dessas ferramentas são sites e aplicativos, e muitas delas, principalmente as voltadas para o tratamento e seguimento de pacientes, são integradas ao prontuário eletrônico do consultório, clínica ou hospital”, completa.
Entre 2017 e 2018, o Food and Drug Administration (FDA), aprovou, nos Estados Unidos o uso de mais três ferramentas baseadas em inteligência artificial para suporte diagnóstico: o LVO Stoke Platform, que detecta sinais de acidente vascular cerebral em tomografia computadorizada; o IDx-DR, ferramenta de triagem para retinopatia diabética que pode ser usada na atenção primária para detecção precoce da doença e o OsteoDetect: ferramenta para diagnóstico de fraturas de pulso em adultos. O que há em comum entre elas? A tecnologia de reconhecimento de imagem para diagnóstico.
No Brasil, a evolução mais notável que tem sido observada é o uso de Machine Learning para diagnóstico de imagens, especialmente imagens radiológicas e dermatológicas, que se utilizam do reconhecimento de padrões para inferir diagnósticos. Moura alerta, no entanto, que a inteligência artificial é uma ferramenta e que não deve substituir o diagnóstico humano, mas sim auxiliá-lo.
“Os benefícios para a radiologia são reais, a dúvida agora é em que ponto dentro do fluxo de trabalho essa ferramenta seria melhor empregada: na triagem dos exames, separando os mesmos por urgência? Ou seria após o diagnóstico humano, confirmando ou prevenindo que achados passem despercebidos? A radiologia hoje já conta com dupla checagem de exames para a maioria dos exames de imagem, uma dessas etapas poderia ser substituída pela máquina”.
Moura avalia que essa pergunta pode ser respondida para vários atores diferentes dentro do sistema de saúde. Segundo o médico, para os serviços de saúde, a resposta está em estimular o trabalho em equipe, o feedback constante e preferencialmente aleatório, e adotar ferramentas de suporte à decisão a nível hospitalar.
No caso dos médicos, a resposta está em entender de raciocínio clínico e de pensamento crítico, obrigar-se a refletir em cima dos casos, procurar segundas opiniões, trabalhar em equipe e tomar decisões em equipe.
“Eu acrescento, por fim, humildade. A humildade é importantíssima para o profissional entender suas limitações, reconhecer seus erros e buscar melhorias continuamente”.
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