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A diferença entre sobreviver e lutar com honra

O que a Tesla e Game of Thrones nos ensinam sobre vencer ou perder seguindo as regras, e porque os gigantes caem diante dos oponentes aparentemente mais fracos.

A diferença entre sobreviver e lutar com honra

Bronn, de Game of Thrones (foto: divulgação)

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Por Guilherme Ravache

A Tesla é uma empresa curiosa. Não gasta dinheiro com marketing tradicional; o fundador e CEO da companhia, Elon Musk, é falastrão e vive enrolado em polêmicas. Desde o nascimento da empresa tem quem aposte que ela vai morrer em breve, mas a cada ano ela vale mais e vende mais carros. E apesar dos adversários formidáveis e melhor preparados em Detroit e no Japão, a Tesla venceu a corrida do carro elétrico. 

Musk também está reinventando a indústria espacial e a indústria de energia. E à medida que cresce sua influência, cresce o número de detratores. 

Mas para entender o sucesso de Musk, e outras histórias de sucesso no empreendedorismo, uma boa analogia é o episódio na primeira temporada de Game of Thrones na qual o mercenário Bronn luta contra um cavaleiro chamado Ser Vardis em um "julgamento por combate" (“trial by combat”. A história desde o início foge às convenções. Afinal, Bronn entra na luta para salvar Tyrion Lannister de uma sentença de morte e, o mais importante, receber um bom pagamento de Tyrion se ele conseguir salvar sua vida.

Ser Vardis é o modelo de cavalheiro e a tradição. Campeão do reino, figura respeitada por suas muitas batalhas. Bronn é um mercenário. Enquanto Vardis empunha sua longa espada, escudo, armadura e elmo, Bronn luta somente com uma espada e roupa leve. Bonn atira objetos, empurra pessoas e foge do combate na busca de cansar o adversário lento e pesado.

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Quando Bonn ataca, é sempre com velocidade e mirando os pontos fracos na armadura de Ser Vardis (as articulações como axilas e atrás dos joelhos). Bronn define a batalha ao empalar Vardis e depois jogá-lo pelo buraco de lixo a dezenas de metros de altura.

A cena termina quando Lysa Arryn - a pessoa que sentenciou Tyrion à morte - repreende Bronn por seu estilo de luta:

Lysa Arryn: Você não luta com honra!

Bronn: Não, ele sim. (em referência a Ser Vadis)

“Mesmo com sua própria vida em jogo, Vardis se limitou a lutar pelas regras de cavalaria e honra, enquanto Bronn fazia tudo o que precisava para sobreviver e receber seu pagamento. Vardis e Bronn estavam jogando dois jogos totalmente diferentes ditados por dois conjuntos de regras diferentes. Vardis estava tocando ‘Be a Knight’, Bronn estava tocando ‘Survive’. O resultado? Bronn: 1; Ser Vardis: 0 e queda livre a 5.000 pés da Porta da Lua.” Como afirma Everett Randle em um ótimo texto sobre jogar com diferentes regras. 

Mas assim é a Tesla e a maior parte das empresas que vence. São chamadas de mercenárias ou coisa pior ao adotarem estratégias disruptivas. Amazon, Uber, Facebook, iFood, Nubank, XP… quanto mais disruptiva a empresa, maior a lista de acusações de fazerem as coisas de maneira inconsequente ou perigosa, apesar do sucesso com os consumidores, já que no final do dia, tornam mais eficiente e barato o que seus consumidores buscam.  

Na última semana, a Tesla esteve envolvida em uma polêmica sobre seus veículos conseguirem ser enganados e andarem sem motorista. Obviamente, a tecnologia do piloto automático ainda não é madura o suficiente para ser utilizada sem a assistência humana, mas alguns donos de carros da Tesla enganam o sistema e trafegam sem o motorista. Porém, o fato do carro já conseguir andar sem o motorista é impressionante. 

Em alguns anos teremos veículos autônomos dos mais diversos tipos. E novamente, a Tesla assume a dianteira nessa corrida usando de artifícios diferentes de seus demais concorrentes, que seguem o tortuoso caminho regulatório e testes em ambientes mais controlados.

A gestora de fundos Ark Invest afirma que a tecnologia de piloto automático da Tesla e as milhares de horas de dados de direção no mundo real colhidos pela empresa vão colocar a Tesla na frente da corrida digital. Seria possível, por exemplo, a Tesla transformar sua frota de carros em táxis e até permitir que quem não estivesse usando seu carro por um certo período o convertesse em um robô-táxi, operado pelo piloto automático. Se isso acontecer, Uber e Lyft estariam fora do jogo, já que os humanos são a parte mais cara da equação. O iFood e as empresas de logística também seriam desafiadas. Se o carro pode ser um táxi autônomo, também pode fazer entregas sem motorista. 

De modo geral, são os combatentes mais equipados e melhor preparados que vencem as batalhas. Mas, como Bronn e Musk nos lembram, ao reinventar as regras do jogo e priorizar a sobrevivência, o risco de seguir fiel às velhas regras e morrer com honra aumenta.

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